São Paulo, Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999


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LIVRO
"Brasil, 500 Anos em Documentos", de Ivan Alves Filho, reúne textos fundamentais para história brasileira
Documentos mostram como país se fez

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local


Quinhentos anos de história do Brasil contados por meio de documentos. Após 15 anos de trabalho, o historiador Ivan Alves Filho publica, pela editora Mauad, um livro com os textos que mais influíram na vida do país.
O livro "Brasil, 500 Anos em Documentos" reúne 93 documentos integrais (de um total de 300) e mais 3.100 referências bibliográficas sobre esses textos. Ali estão da carta de Pero Vaz de Caminha (1500) ao pedido de renúncia de Fernando Collor de Mello (1992), passando pela Lei Áurea (1889), morte de Zumbi dos Palmares (1695) e criação do Banco do Brasil (1808).
"O critério de escolha foi o da importância do fato representado pelo documento para a formação da nacionalidade brasileira", afirmou Alves Filho.
Assim, eventos de relevância sobretudo econômica (como a formação da Eletrobrás, em 1961) convivem com outros de importância cultural (a Semana de Arte Moderna de 1922).
"A primeira geração de historiadores brasileiros -Capistrano de Abreu, Vanhagen, Affonso de Taunay- fez uma grande pesquisa dos registros da história do Brasil. Os marxistas -Caio Prado e Nelson Werneck, principalmente- e Sérgio Buarque, a seu modo, se dedicaram a conceituar o material recolhido pela primeira geração. Hoje, acho que é preciso voltar aos documentos, em busca de novos conceitos."
Os documentos mais importantes são precedidos de um comentário do autor, que situa os textos historicamente.
Há ainda a referência à fonte e, após o texto em si, indicações bibliográficas, de instituições e materiais de cultura em geral (como músicas, por exemplo) relacionados a ele.
Ivan Alves Filho divide a história do Brasil em quatro fases, relacionadas a mudanças no sistema produtivo.
Assim, a primeira vai de 1500 a 1548, fase de transição da comunidade indígena para a sociedade de senhores e escravos. A segunda, de 1548 a 1850, é marcada pela consolidação do sistema escravista. A terceira, de 1850 a 1930, registra a transição para novas formas de organização da vida material e social. A quarta e última, de 1930 aos dias de hoje, é considerada a fase de consolidação do modo de produção capitalista.
Depois de passar por tantos textos fundamentais para a história brasileira, Alves Filho acredita que um traço marcante da vida do país é a promoção de mudanças significativas por meio da negociação.
"A sociedade civil não é forte o suficiente para impor mudanças de chofre. Mas, do lado de lá, a elite também não tem força suficiente para impedir reformulações", diz o historiador.
"A consequência disso é que talvez tenhamos economizado muitos banhos de sangue. Afinal, revolução é alteração no modo de produção, e não tiroteio. Nem tudo que é muito violento é muito profundo", acredita.
A Lei Áurea, que aboliu a escravatura, é tida por Alves Filho como um bom exemplo desse processo.
Pressionada pelas ruas, a monarquia pôs fim à escravidão. "É uma mudança real, negociada, sim, mas não se pode negar sua importância. Até 13 de maio, a escravidão era legal. No dia seguinte, não mais. Não há uma solução de compromisso", afirma.
O livro vem até 92, com a renúncia de Collor. Alves Filho, também autor de "Memorial dos Palmares", acredita que não há um recuo histórico suficiente para que sejam incluídos documentos mais recentes.


Livro: Brasil, 500 Anos em Documentos
Autor: Ivan Alves Filho
Editora: Mauad
Quanto: R$ 80 (656 páginas)



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