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LIVRO
"Brasil, 500 Anos em Documentos", de Ivan Alves Filho, reúne textos fundamentais para história brasileira
Documentos mostram como país se fez
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local
Quinhentos anos
de história do Brasil
contados por meio
de documentos.
Após 15 anos de
trabalho, o historiador Ivan Alves Filho publica, pela
editora Mauad, um livro com os
textos que mais influíram na vida
do país.
O livro "Brasil, 500 Anos em
Documentos" reúne 93 documentos integrais (de um total de
300) e mais 3.100 referências bibliográficas sobre esses textos. Ali
estão da carta de Pero Vaz de Caminha (1500) ao pedido de renúncia de Fernando Collor de Mello
(1992), passando pela Lei Áurea
(1889), morte de Zumbi dos Palmares (1695) e criação do Banco
do Brasil (1808).
"O critério de escolha foi o da
importância do fato representado
pelo documento para a formação
da nacionalidade brasileira", afirmou Alves Filho.
Assim, eventos de relevância sobretudo econômica (como a formação da Eletrobrás, em 1961)
convivem com outros de importância cultural (a Semana de Arte
Moderna de 1922).
"A primeira geração de historiadores brasileiros -Capistrano
de Abreu, Vanhagen, Affonso de
Taunay- fez uma grande pesquisa dos registros da história do
Brasil. Os marxistas -Caio Prado e Nelson Werneck, principalmente- e Sérgio Buarque, a seu
modo, se dedicaram a conceituar
o material recolhido pela primeira geração. Hoje, acho que é preciso voltar aos documentos, em
busca de novos conceitos."
Os documentos mais importantes são precedidos de um comentário do autor, que situa os textos
historicamente.
Há ainda a referência à fonte e,
após o texto em si, indicações bibliográficas, de instituições e materiais de cultura em geral (como
músicas, por exemplo) relacionados a ele.
Ivan Alves Filho divide a história do Brasil em quatro fases, relacionadas a mudanças no sistema
produtivo.
Assim, a primeira vai de 1500 a
1548, fase de transição da comunidade indígena para a sociedade
de senhores e escravos. A segunda, de 1548 a 1850, é marcada pela
consolidação do sistema escravista. A terceira, de 1850 a 1930, registra a transição para novas formas de organização da vida material e social. A quarta e última, de
1930 aos dias de hoje, é considerada a fase de consolidação do modo de produção capitalista.
Depois de passar por tantos textos fundamentais para a história
brasileira, Alves Filho acredita
que um traço marcante da vida do
país é a promoção de mudanças
significativas por meio da negociação.
"A sociedade civil não é forte o
suficiente para impor mudanças
de chofre. Mas, do lado de lá, a elite também não tem força suficiente para impedir reformulações", diz o historiador.
"A consequência disso é que talvez tenhamos economizado muitos banhos de sangue. Afinal, revolução é alteração no modo de
produção, e não tiroteio. Nem tudo que é muito violento é muito
profundo", acredita.
A Lei Áurea, que aboliu a escravatura, é tida por Alves Filho como um bom exemplo desse processo.
Pressionada pelas ruas, a monarquia pôs fim à escravidão. "É
uma mudança real, negociada,
sim, mas não se pode negar sua
importância. Até 13 de maio, a escravidão era legal. No dia seguinte, não mais. Não há uma solução
de compromisso", afirma.
O livro vem até 92, com a renúncia de Collor. Alves Filho, também autor de "Memorial dos Palmares", acredita que não há um
recuo histórico suficiente para
que sejam incluídos documentos
mais recentes.
Livro: Brasil, 500 Anos em Documentos
Autor: Ivan Alves Filho
Editora: Mauad
Quanto: R$ 80 (656 páginas)
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