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ARTES
Obras foram reunidas por força-tarefa que combate o contrabando de imagens de valor histórico roubadas em Minas
BH expõe "acervo policial" de peças sacras
ISRAEL DO VALE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Simonia. A palavra estampada
na soleira do espaço expositivo do
Palácio das Artes, em Belo Horizonte, será pisada e repisada a
partir de hoje, com a abertura à visitação das peças e objetos sacros
trazidos à luz numa ação coordenada entre o poder público e a Polícia Federal mineira.
O termo simonia deriva do mágico bíblico Simão, que teria feito
uma "oferta" aos apóstolos para
obter acesso ao Espírito Santo.
Sua evocação, à entrada da mostra "Minas Resgata sua História",
é feita para ressaltar o percurso
tortuoso cumprido até ali pelas
171 imagens expostas.
O que as unifica, além do caráter
religioso e histórico, é o fato de cada uma delas ter sido subtraída de
seus locais de origem. Trocando
em miúdos: todas foram roubadas de monumentos e igrejas para
conceder o "contato com o divino" a quem pagasse.
A "coleção" foi formada por
uma força-tarefa que reuniu diferentes instâncias do governo estadual de MG (Secretaria de Cultura, Secretaria de Defesa Social),
órgãos do patrimônio histórico,
Ministério Público Estadual, Associação das Cidades Históricas
de MG, Igreja Católica (representada pela Arquidiocese) e a superintendência mineira da PF.
Com a mobilização, cerca de
200 imagens foram recuperadas,
seja em apreensões de grande
porte, seja em ações menores, como num leilão no RJ.
A exposição consolida o trabalho desenvolvido ao longo do ano
por meio de investigações da PF e
de denúncias anônimas (pela internet, no site www.cultura.mg.gov.br, ou pelo 0800-30-5000). O
site de denúncias reúne fotos de
cerca de 250 peças extraviadas.
Ao caráter de prestação de contas, contudo, adicionou-se um curadoria de fins pedagógicos, tanto
para chamar atenção para a necessidade de zelo pelo patrimônio
histórico como para explicitar o
processo de legitimação de uma
peça roubada, muitas vezes adulterada ou desfigurada.
É o caso, por exemplo, de um
São Miguel Arcanjo furtado em
janeiro de 2002. Para dificultar
sua identificação, ele foi submetido a uma "plástica" que lhe extirpou a base, as asas e o penacho e
lhe deu nova demão de tinta. Foi
reconhecido por ser peça documentada, fartamente fotografada.
A exposição inclui um módulo de
restauro, que mostrará ao visitante o processo de recuperação.
Minas Gerais responde pelo
maior acervo barroco tombado
em nível nacional. Estima-se que
algo entre 800 e 1 mil imagens sacras de valor histórico circulem
ilegalmente. Estima-se. "Não temos sequer como saber quantas
já foram roubadas", diz o secretário estadual de Cultura, Luiz Roberto Nascimento Silva. "Apenas
o que é tombado está catalogado."
Advogado de formação, Nascimento Silva defende uma legislação mais rígida para crimes contra o patrimônio. "O sistema legal
é muito benevolente nesse caso",
diz. A lei prevê penas de dois a
quatro anos, que podem ser cumpridas com a prestação de serviços à comunidade como a distribuição de cestas básicas, por
exemplo. "É preciso, pelo menos,
equiparar estes crimes aos do
meio-ambiente, onde não cabe
pena alternativa", argumenta.
MINAS RESGATA SUA HISTÓRIA.
Mostra de 171 imagens sacras. Onde:
Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537,
Centro, tel.: 0/xx/31/3237-7399).
Quando: ter. a sáb, das 13h às 20h30;
dom., das 16h às 20h30 (dia 24, até 18h).
Até 28/12. Entrada franca.
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