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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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ARTES

Obras foram reunidas por força-tarefa que combate o contrabando de imagens de valor histórico roubadas em Minas

BH expõe "acervo policial" de peças sacras

ISRAEL DO VALE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Simonia. A palavra estampada na soleira do espaço expositivo do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, será pisada e repisada a partir de hoje, com a abertura à visitação das peças e objetos sacros trazidos à luz numa ação coordenada entre o poder público e a Polícia Federal mineira.
O termo simonia deriva do mágico bíblico Simão, que teria feito uma "oferta" aos apóstolos para obter acesso ao Espírito Santo. Sua evocação, à entrada da mostra "Minas Resgata sua História", é feita para ressaltar o percurso tortuoso cumprido até ali pelas 171 imagens expostas.
O que as unifica, além do caráter religioso e histórico, é o fato de cada uma delas ter sido subtraída de seus locais de origem. Trocando em miúdos: todas foram roubadas de monumentos e igrejas para conceder o "contato com o divino" a quem pagasse.
A "coleção" foi formada por uma força-tarefa que reuniu diferentes instâncias do governo estadual de MG (Secretaria de Cultura, Secretaria de Defesa Social), órgãos do patrimônio histórico, Ministério Público Estadual, Associação das Cidades Históricas de MG, Igreja Católica (representada pela Arquidiocese) e a superintendência mineira da PF.
Com a mobilização, cerca de 200 imagens foram recuperadas, seja em apreensões de grande porte, seja em ações menores, como num leilão no RJ.
A exposição consolida o trabalho desenvolvido ao longo do ano por meio de investigações da PF e de denúncias anônimas (pela internet, no site www.cultura.mg.gov.br, ou pelo 0800-30-5000). O site de denúncias reúne fotos de cerca de 250 peças extraviadas.
Ao caráter de prestação de contas, contudo, adicionou-se um curadoria de fins pedagógicos, tanto para chamar atenção para a necessidade de zelo pelo patrimônio histórico como para explicitar o processo de legitimação de uma peça roubada, muitas vezes adulterada ou desfigurada.
É o caso, por exemplo, de um São Miguel Arcanjo furtado em janeiro de 2002. Para dificultar sua identificação, ele foi submetido a uma "plástica" que lhe extirpou a base, as asas e o penacho e lhe deu nova demão de tinta. Foi reconhecido por ser peça documentada, fartamente fotografada. A exposição inclui um módulo de restauro, que mostrará ao visitante o processo de recuperação.
Minas Gerais responde pelo maior acervo barroco tombado em nível nacional. Estima-se que algo entre 800 e 1 mil imagens sacras de valor histórico circulem ilegalmente. Estima-se. "Não temos sequer como saber quantas já foram roubadas", diz o secretário estadual de Cultura, Luiz Roberto Nascimento Silva. "Apenas o que é tombado está catalogado."
Advogado de formação, Nascimento Silva defende uma legislação mais rígida para crimes contra o patrimônio. "O sistema legal é muito benevolente nesse caso", diz. A lei prevê penas de dois a quatro anos, que podem ser cumpridas com a prestação de serviços à comunidade como a distribuição de cestas básicas, por exemplo. "É preciso, pelo menos, equiparar estes crimes aos do meio-ambiente, onde não cabe pena alternativa", argumenta.


MINAS RESGATA SUA HISTÓRIA.
Mostra de 171 imagens sacras. Onde: Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Centro, tel.: 0/xx/31/3237-7399). Quando: ter. a sáb, das 13h às 20h30; dom., das 16h às 20h30 (dia 24, até 18h). Até 28/12. Entrada franca.



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