São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

Ator, que recebeu três indicações ao Globo de Ouro, teve que perder peso e usar óculos para interpretar o soulman

Jamie Foxx "divide espírito" de Ray Charles

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Sem platéia, Jamie Foxx tem um sorriso que beira a timidez e fala em voz baixa, olhos muitas vezes buscando o chão. Mas exerce um fascínio irrefutável quando fala de seu trabalho.
Tamanha paixão tem boas chances de ser contemplada: nesta semana, Foxx, 37, se tornou o primeiro ator na história a receber uma tripla indicação ao Globo de Ouro, o prêmio atribuído pela imprensa estrangeira em Hollywood. Ele concorrerá pelo papel principal em "Ray", a cinebiografia do mito da soul music Ray Charles, pelo de coadjuvante em "Colateral", em que roubou a cena de Tom Cruise, e pela produção para a TV "Redemption". Seu nome é aposta certa na lista de indicados ao Oscar, a ser anunciada em janeiro.
Foxx é um dos raros casos de comediante que fez com sucesso a transição para os papéis dramáticos. Em 1999, seu talento já se deixou entrever quando roubou de Al Pacino e Cameron Diaz as atenções em "Um Domingo Qualquer", de Oliver Stone. Neste ano, ele explodiu.
O ator recebeu a reportagem da Folha em uma sala de hotel em Manhattan para uma entrevista exclusiva no início de outubro, dias antes do lançamento de "Ray" nos EUA. Para o filme, que chega às telas brasileiras em 4 de fevereiro, Foxx se reuniu com Charles diversas vezes nos meses que precederam sua morte, em 10 de junho deste ano, aos 73 anos.
O músico só deu o aval para o ator encarná-lo nas telas depois de descobrir que os dois dividiam a paixão pelo piano -Foxx toca o instrumento desde a infância. O que seguiu foi uma simbiose completa. "Estávamos dividindo o mesmo espírito", diz o ator.
Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista.
 

Folha - Ray Charles encarava a vida com um senso de humor único. Sua formação de comediante ajudou nisso?
Jamie Foxx -
Fazendo comédia stand-up, você aprende a fazer uma série de personagens ao mesmo tempo. Isso dá prática para fazer Ray Charles, que é uma pessoa com muitas facetas. Fora que é preciso ter timing cômico para interpretá-lo.

Folha - O que você buscou ao recriar Ray Charles?
Foxx -
Pequenas coisas nele com as quais pudesse me conectar, coisas que o tornam humano, em contraste com aquele sujeito sorridente de óculos escuros. Quando você o vê na tela, você pensa: "Esse é um homem de verdade, um homem cego, e por acaso é Ray Charles".

Folha - Charles chegou a "assistir" à versão preliminar do filme. O que ele lhe disse?
Foxx -
Ele gostou, se divertiu.

Folha - Ele se reconheceu?
Foxx -
Sim, várias vezes.

Folha - Como você se sentiu?
Foxx -
Foi demais, Ray Charles dando estrelas para o filme. Vamos ver como o público reage.

Folha - Você já está pensando no Oscar e nos outros prêmios?
Foxx -
Bom... [ele gagueja]

Folha - Você está!
Foxx -
[O burburinho sobre prêmios] É uma coisa bem-vinda, porque acaba atraindo mais atenção para o filme. Para mim, mesmo que não se concretize, já é um sinal de que estou na direção correta, nos projetos certos.

Folha - Como você se preparou para o papel?
Foxx -
Perdi 15 quilos, cortei o cabelo, passei a usar os óculos e ficava ouvindo a voz dele por horas e horas a fio, tanto falando como cantando. Quando menos percebi, já o estava interpretando. Foi como se meu corpo virasse uma extensão do dele. Estávamos dividindo o mesmo espírito.

Folha - Que tal fazer uma cinebiografia com sinal verde para mostrar o lado negativo?
Foxx -
Facilita ao contar a história, porque na maioria das cinebiografias você se cansa de ficar vendo só coisas boas. É claro que a gente gosta de coisas boas, mas boa parte da música dele vem dos maus momentos. Temos de saber como ele pegava coisas ruins, essas suas falhas, e as revertia. Essa era a melhor coisa sobre Ray.

Folha - O que vem pela frente?
Foxx -
Estou em "Jarhead" [filme dirigido por Sam Mendes sobre a experiência de um fuzileiro naval na Guerra do Golfo]. E estou escrevendo "Damage Control", sobre um advogado que apaga incêndios para seus clientes. Deve sair em um ano e meio, e Michael [Mann, de "Colateral"] vai dirigir.


Texto Anterior: Programação
Próximo Texto: Produção mostra cantor por inteiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.