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CINEMA
Ator, que recebeu três indicações ao Globo de Ouro, teve que perder peso e usar óculos para interpretar o soulman
Jamie Foxx "divide espírito" de Ray Charles
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Sem platéia, Jamie Foxx tem um
sorriso que beira a timidez e fala
em voz baixa, olhos muitas vezes
buscando o chão. Mas exerce um
fascínio irrefutável quando fala de
seu trabalho.
Tamanha paixão tem boas
chances de ser contemplada: nesta semana, Foxx, 37, se tornou o
primeiro ator na história a receber uma tripla indicação ao Globo
de Ouro, o prêmio atribuído pela
imprensa estrangeira em Hollywood. Ele concorrerá pelo papel
principal em "Ray", a cinebiografia do mito da soul music Ray
Charles, pelo de coadjuvante em
"Colateral", em que roubou a cena de Tom Cruise, e pela produção para a TV "Redemption". Seu
nome é aposta certa na lista de indicados ao Oscar, a ser anunciada
em janeiro.
Foxx é um dos raros casos de
comediante que fez com sucesso a
transição para os papéis dramáticos. Em 1999, seu talento já se deixou entrever quando roubou de
Al Pacino e Cameron Diaz as
atenções em "Um Domingo
Qualquer", de Oliver Stone. Neste
ano, ele explodiu.
O ator recebeu a reportagem da
Folha em uma sala de hotel em
Manhattan para uma entrevista
exclusiva no início de outubro,
dias antes do lançamento de
"Ray" nos EUA. Para o filme, que
chega às telas brasileiras em 4 de
fevereiro, Foxx se reuniu com
Charles diversas vezes nos meses
que precederam sua morte, em 10
de junho deste ano, aos 73 anos.
O músico só deu o aval para o
ator encarná-lo nas telas depois
de descobrir que os dois dividiam
a paixão pelo piano -Foxx toca o
instrumento desde a infância. O
que seguiu foi uma simbiose completa. "Estávamos dividindo o
mesmo espírito", diz o ator.
Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista.
Folha - Ray Charles encarava a vida com um senso de humor único.
Sua formação de comediante ajudou nisso?
Jamie Foxx - Fazendo comédia
stand-up, você aprende a fazer
uma série de personagens ao mesmo tempo. Isso dá prática para fazer Ray Charles, que é uma pessoa
com muitas facetas. Fora que é
preciso ter timing cômico para interpretá-lo.
Folha - O que você buscou ao recriar Ray Charles?
Foxx - Pequenas coisas nele com
as quais pudesse me conectar, coisas que o tornam humano, em
contraste com aquele sujeito sorridente de óculos escuros. Quando você o vê na tela, você pensa:
"Esse é um homem de verdade,
um homem cego, e por acaso é
Ray Charles".
Folha - Charles chegou a "assistir" à versão preliminar do filme. O
que ele lhe disse?
Foxx - Ele gostou, se divertiu.
Folha - Ele se reconheceu?
Foxx - Sim, várias vezes.
Folha - Como você se sentiu?
Foxx - Foi demais, Ray Charles
dando estrelas para o filme. Vamos ver como o público reage.
Folha - Você já está pensando no
Oscar e nos outros prêmios?
Foxx - Bom... [ele gagueja]
Folha - Você está!
Foxx - [O burburinho sobre prêmios] É uma coisa bem-vinda,
porque acaba atraindo mais atenção para o filme. Para mim, mesmo que não se concretize, já é um
sinal de que estou na direção correta, nos projetos certos.
Folha - Como você se preparou
para o papel?
Foxx - Perdi 15 quilos, cortei o
cabelo, passei a usar os óculos e ficava ouvindo a voz dele por horas
e horas a fio, tanto falando como
cantando. Quando menos percebi, já o estava interpretando. Foi
como se meu corpo virasse uma
extensão do dele. Estávamos dividindo o mesmo espírito.
Folha - Que tal fazer uma cinebiografia com sinal verde para mostrar o lado negativo?
Foxx - Facilita ao contar a história, porque na maioria das cinebiografias você se cansa de ficar
vendo só coisas boas. É claro que a
gente gosta de coisas boas, mas
boa parte da música dele vem dos
maus momentos. Temos de saber
como ele pegava coisas ruins, essas suas falhas, e as revertia. Essa
era a melhor coisa sobre Ray.
Folha - O que vem pela frente?
Foxx - Estou em "Jarhead" [filme dirigido por Sam Mendes sobre a experiência de um fuzileiro
naval na Guerra do Golfo]. E estou escrevendo "Damage Control", sobre um advogado que
apaga incêndios para seus clientes. Deve sair em um ano e meio, e
Michael [Mann, de "Colateral"]
vai dirigir.
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