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CRÍTICA
Filme recria bem a fábula darwinista
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Peter Jackson, já se sabia, tem
um fraco por situações mitológicas. Após triunfar com a série
"O Senhor dos Anéis" -sucesso
absoluto, Oscars, o diabo- não é
espantoso que se voltasse para o
supergorila King Kong.
O desafio é bem maior do que
em "O Senhor dos Anéis", na medida em que o realizador fica exposto à comparação com uma
obra-prima. Quase ninguém
-hoje- viu a versão de 1933, a
clássica, de Cooper & Schoedsack, mas isso não torna mais
confortável a situação de quem
empreende um "remake". Que o
diga Dino de Laurentiis, produtor
da versão de 1976: o que restou foi
a descoberta de Jessica Lange.
Jackson segue a trilha do filme
de 1933, mantendo-se fiel à história do cineasta que parte com sua
equipe em busca de aventura. A
diferença mais sensível entre as
duas situações é que em 1933 o
mundo não era um lugar devassado pelas imagens, de maneira que
a simples sugestão de uma ilha
perdida, habitada por um macaco
de sete metros, talvez bastasse para excitar a imaginação.
A nova versão consegue, no início, recuperar esse espírito -o
que é o mais difícil em se tratando
de "King Kong", e muito disso devemos ao entusiasmo, ao humor e
ao gosto pela picaretagem de Carl
Denham (Jack Black), o diretor
do filme. Ali, Jackson consegue
criar uma situação em que o fantasioso não soa falso. Ao contrário, ele é a decorrência desse espírito de aventura digno de um Stevenson ou de um Joseph Conrad
-este último citado no filme.
Esse prólogo nos prepara para a
segunda parte, que se inicia quando Ann Darrow (Naomi Watts), a
mocinha, é sacrificada a Kong. É
quando o restante da equipe tenta
resgatá-la. E também quando o
filme parece ter se desviado no
Parque dos Dinossauros, tal a
quantidade de monstros com que
os heróis se defrontam.
Essa é, digamos, a parte comercial do filme, em que "King Kong"
oferece sua quota de emoções na
forma de efeitos especiais. É uma
parte bem realizada, com aquele
sentido da hipérbole característico desse tipo de produção. Mas de
tudo o que efetivamente interessa
é a proteção que Kong dá à garota,
e que justificará a terceira e mais
complexa das partes do filme.
Em dado momento, King Kong
muda-se para Nova York. Dessa
parte convém não falar muito para não cometer indiscrições. No
entanto, é possível dizer que Ann
Darrow se mostra sensível ao afeto que o gorila lhe dedica. O que
resultará disso?
Bem, "King Kong" continua,
em grande medida, uma fábula
darwinista -e a versão de Peter
Jackson mostra-se à altura do original, o que não é nada pouco.
King Kong
Direção: Peter Jackson
Produção: Nova Zelândia/EUA, 2005
Com: Jack Black e Naomi Watts
Quando: a partir de hoje nos cines HSBC
Belas Artes, Kinoplex Itaim e circuito
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