São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/ensaio

Aracy Amaral analisa a arte com respaldo da proximidade

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Textos do Trópico de Capricórnio" é o título extremamente pertinente dado à reunião de ensaios e artigos feitos nos últimos 25 anos pela crítica de arte Aracy Amaral, 76, publicada em três volumes pela editora 34.
Pertinente pois indica que a autora se situa num lugar específico para as análises que realiza, de alguém que faz parte do circuito de artes plásticas e que escreve de dentro desse meio, e não de uma sala acadêmica.
Ex-diretora da Pinacoteca do Estado e do Museu de Arte Contemporânea da USP, hoje envolvida com o "Rumos", do Itaú Cultural, Amaral tem suas críticas respaldadas pelo convívio com as instituições. Um exemplo é quando diz, referindo-se à coleção do MAC, que a "USP, ao largo de 40 anos, nunca soube avaliar, de fato, o valor do acervo preciso que lhe chegara às mãos", no texto "Bienais ou da impossibilidade de reter o tempo". Esse ensaio, escrito à época da "Bienal 50 Anos - Uma Homenagem a Ciccillo Matarazzo", é dos mais cáusticos, ao avaliá-la como uma "salada inqualificável": "Se essa exposição expressa o que significa nossa criatividade atual [...], então salto fora."
Esse posicionamento firme é raro nas artes visuais. Aracy tem sido a ensaísta com produção mais farta em artes plásticas no país, e, nesse sentido, seu parceiro mais próximo é, provavelmente, Mario Pedrosa (1900-81), a quem rende homenagem em vários textos. "Cada artista faz, uma vez, sua revolução, mas o crítico é a testemunha sem repouso de cada revolução. [...] O crítico vive, pois, em revolução permanente", cita o colega em "Situação da Crítica no País", de 1987.
Esse espírito guerrilheiro se espalha pela coletânea na defesa da produção artística e no questionamento às instituições do país, marcado por um "débil aparato museológico [...], de poucas entidades culturais de elevado nível e dinâmica de atuação na área de artes plásticas e pelos escassos recursos financeiros do meio cultural", em "Arte no Brasil de Hoje".
A submissão das exposições ao marketing era constatada há dez anos em "Grandiloqüência e Marketing", que analisa a gênese desse movimento, na relação do então banqueiro Edemar Cid Ferreira e do curador Nelson Aguilar.
Cada volume da obra reúne uma temática: o primeiro, a produção moderna e questões da produção nacional; o segundo, arte latino-americana, museus e a cidade; o terceiro, as bienais e a produção contemporânea. Escritos para jornais, revistas ou catálogos, os textos traçam um panorama das últimas décadas, mas com lacunas, como a falta das observações de Amaral sobre a "Mostra do Redescobrimento" e a decadência do Masp. Mas, como há o corpo de uma reflexão ao longo deles, não fica difícil supor a opinião da autora em tais casos.


TEXTOS DO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO    
Autora: Aracy A. Amaral
Editora: 34
Quanto: R$ 42 por volume (352 págs. vol.1; 424 págs. vol.2; 360 págs. vol. 3)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Evento: Galeria abriga festival com música e teatro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.