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Crítica/ensaio
Aracy Amaral analisa a arte com respaldo da proximidade
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Textos do Trópico de
Capricórnio" é o título extremamente
pertinente dado à reunião de
ensaios e artigos feitos nos últimos 25 anos pela crítica de arte
Aracy Amaral, 76, publicada em
três volumes pela editora 34.
Pertinente pois indica que a autora se situa num lugar específico para as análises que realiza,
de alguém que faz parte do circuito de artes plásticas e que escreve de dentro desse meio, e
não de uma sala acadêmica.
Ex-diretora da Pinacoteca do
Estado e do Museu de Arte
Contemporânea da USP, hoje
envolvida com o "Rumos", do
Itaú Cultural, Amaral tem suas
críticas respaldadas pelo convívio com as instituições. Um
exemplo é quando diz, referindo-se à coleção do MAC, que a
"USP, ao largo de 40 anos, nunca soube avaliar, de fato, o valor
do acervo preciso que lhe chegara às mãos", no texto "Bienais ou da impossibilidade de
reter o tempo". Esse ensaio, escrito à época da "Bienal 50
Anos - Uma Homenagem a Ciccillo Matarazzo", é dos mais
cáusticos, ao avaliá-la como
uma "salada inqualificável":
"Se essa exposição expressa o
que significa nossa criatividade
atual [...], então salto fora."
Esse posicionamento firme é
raro nas artes visuais. Aracy
tem sido a ensaísta com produção mais farta em artes plásticas no país, e, nesse sentido, seu
parceiro mais próximo é, provavelmente, Mario Pedrosa
(1900-81), a quem rende homenagem em vários textos. "Cada
artista faz, uma vez, sua revolução, mas o crítico é a testemunha sem repouso de cada revolução. [...] O crítico vive, pois,
em revolução permanente", cita o colega em "Situação da Crítica no País", de 1987.
Esse espírito guerrilheiro se
espalha pela coletânea na defesa da produção artística e no
questionamento às instituições
do país, marcado por um "débil
aparato museológico [...], de
poucas entidades culturais de
elevado nível e dinâmica de
atuação na área de artes plásticas e pelos escassos recursos financeiros do meio cultural",
em "Arte no Brasil de Hoje".
A submissão das exposições
ao marketing era constatada há
dez anos em "Grandiloqüência
e Marketing", que analisa a gênese desse movimento, na relação do então banqueiro Edemar Cid Ferreira e do curador
Nelson Aguilar.
Cada volume da obra reúne
uma temática: o primeiro, a
produção moderna e questões
da produção nacional; o segundo, arte latino-americana, museus e a cidade; o terceiro, as
bienais e a produção contemporânea. Escritos para jornais,
revistas ou catálogos, os textos
traçam um panorama das últimas décadas, mas com lacunas,
como a falta das observações de
Amaral sobre a "Mostra do Redescobrimento" e a decadência
do Masp. Mas, como há o corpo
de uma reflexão ao longo deles,
não fica difícil supor a opinião
da autora em tais casos.
TEXTOS DO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Autora: Aracy A. Amaral
Editora: 34
Quanto: R$ 42 por volume (352 págs.
vol.1; 424 págs. vol.2; 360 págs. vol. 3)
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