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Crítica
Wenders busca o Japão em "Tokyo-Ga"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Quando Wim Wenders abraça outro cineasta, nunca sabemos exatamente se pretende
colocá-lo em relevo, ou se, como um vampiro, pretende se
colocar em situação de privilégio à custa do homenageado.
Essa dúvida não existia
quando o alemão filmou Nicholas Ray em "O Amigo Americano". Mas uma forte luz de amarela ambigüidade aflorou quando Wim filmou o amigo à morte, em "Um Filme para Nick"
("Lightning over Water").
Apesar do consentimento,
mais do que isso, do pedido de
Ray para ser filmado por Wim,
havia algo de obsceno naquilo:
um homem agonizava diante
de nós, um grande cineasta, e
isso não era bonito. Em todo
caso, será possível sempre mudar de opinião e, quem sabe,
talvez daqui a algumas décadas
não se possa ver como uma preciosidade essa filmagem. No
mais, em 1980 Wenders estava
no auge de sua carreira.
Com "Tokyo-Ga" (TC Cult,
20h15), de 1985, Wenders entende nos introduzir a um só
tempo ao universo de Yasujiro
Ozu e ao Japão. É, em princípio, uma bela atitude de um cineasta cinéfilo, chamando a
atenção para um mestre morto
(e japonês) e lembrando que o
cinema tem história, que as
coisas não brotam da terra.
Sempre haverá o fantasma
da dúvida: e se Wenders estivesse buscando criar uma identidade que, afinal, serve mais a
ele do que ao entendimento de
Ozu ou do Japão? O filme que
passa hoje é uma chance para
tirar (ou aprofundar) a dúvida.
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