São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Artista lança publicação com texto de Tadeu Chiarelli e abre mostra na galeria Brito Cimino hoje

Livro sobre Leirner reforça tiroteio no circuito das artes

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1953, aos 21 anos, o filho de Felicia e Isai Leirner, importantes figuras no circuito paulistano das artes plásticas, ganhou uma surpresa de seus pais. Após regressar dos EUA, onde repetiu por três vezes um curso de engenharia, o jovem começou a pintar. Em segredo, seus pais emolduraram duas aquarelas do rapaz e a exibiram, em um jantar para os comissários internacionais da 2ª Bienal de São Paulo, ao lado de quadros de Tarsila do Amaral e Lasar Segall, entre outros. "Foi uma vergonha, me tranquei no meu quarto, nem fiquei na festa", recorda-se o jovem em questão, o artista Nelson Leirner.
Sua carreira foi assim lançada e nos anos seguintes seria catapultada no circuito, graças ao empurrão familiar. Ganhou prêmios, expôs em salões. Sempre empurrado pelas "costas quentes". Até que seu pai morreu, em 62, e Leirner começou um novo momento.
"Foi praticamente após a morte do pai que surgiu o Nelson que hoje se conhece: um artista inquieto, polêmico, que coloca a nu as estruturas viciadas do circuito de arte para, de alguma maneira, tentar revertê-las para algo positivo", escreve Tadeu Chiarelli no livro "arte e não Arte", que é lançado hoje junto com a abertura de uma mostra de trabalhos representativos na carreira de Leirner, que ontem fez 70 anos de idade.
Assim, o caso acima descrito não explica, mas é emblemático para a compreensão da forma como Leirner desenvolveu sua carreira, feita de tiroteios permanentes ao circuito das artes. Afinal, Leirner testemunhou como funciona o apadrinhamento tão comum em museus e galerias e passou a usar a ironia como forma de comentar sua experiência.
Em quase 50 anos de carreira, Leirner desenvolveu um método bastante particular, a margem de movimentos como o neoconcretismo, capitaneado por Hélio Oiticica. "Minha forma de construção sempre se ligou muito mais ao objeto, procurei mostrar como a obra passou por um processo para chegar à forma final, por isso ela não é tão extrema como a obra de Oiticica", diz Leirner.
A mostra na Brito Cimino é repleta de exemplos sobre seu método. Há desde obras dos anos 60 até produções recentes, como "Bala Perdida", um conjunto de revólveres de brinquedo cujas balas estão paradas no ar, mais que um comentário sobre a violência urbana. Como afirma Chiarelli no livro, "os procedimentos de Nelson são processos estruturados de sua poética, e não assuntos ou temas a serem explorados".
Leirner é também um dos artistas brasileiros a ganhar sala especial na 25ª Bienal de SP. "Será um trabalho muito limpo, que vai dialogar com a história da arte, feito a partir de materiais industriais, como tenho realizado há muito tempo", diz. Vem bala aí.


ARTE E NÃO ARTE - lançamento do livro sobre o artista plástico Nelson Leirner e mostra com obras fundamentais em sua carreira. Autor: Tadeu Chiarelli. Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de Carvalho, 842, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 3842-0634). Quando: lançamento e vernissage hoje, às 19h. Mostra de ter. a sáb., das 11h às 19h. Até 8/2. Quanto: livro, R$ 100 (228 págs.); obras de R$ 5.000 a R$ 35 mil.



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