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ARTES PLÁSTICAS
Artista lança publicação com texto de Tadeu Chiarelli e abre mostra na galeria Brito Cimino hoje
Livro sobre Leirner reforça tiroteio no circuito das artes
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1953, aos 21 anos, o filho de
Felicia e Isai Leirner, importantes
figuras no circuito paulistano das
artes plásticas, ganhou uma surpresa de seus pais. Após regressar
dos EUA, onde repetiu por três
vezes um curso de engenharia, o
jovem começou a pintar. Em segredo, seus pais emolduraram
duas aquarelas do rapaz e a exibiram, em um jantar para os comissários internacionais da 2ª Bienal
de São Paulo, ao lado de quadros
de Tarsila do Amaral e Lasar Segall, entre outros. "Foi uma vergonha, me tranquei no meu quarto,
nem fiquei na festa", recorda-se o
jovem em questão, o artista Nelson Leirner.
Sua carreira foi assim lançada e
nos anos seguintes seria catapultada no circuito, graças ao empurrão familiar. Ganhou prêmios, expôs em salões. Sempre empurrado pelas "costas quentes". Até que
seu pai morreu, em 62, e Leirner
começou um novo momento.
"Foi praticamente após a morte
do pai que surgiu o Nelson que
hoje se conhece: um artista inquieto, polêmico, que coloca a nu
as estruturas viciadas do circuito
de arte para, de alguma maneira,
tentar revertê-las para algo positivo", escreve Tadeu Chiarelli no livro "arte e não Arte", que é lançado hoje junto com a abertura de
uma mostra de trabalhos representativos na carreira de Leirner,
que ontem fez 70 anos de idade.
Assim, o caso acima descrito
não explica, mas é emblemático
para a compreensão da forma como Leirner desenvolveu sua carreira, feita de tiroteios permanentes ao circuito das artes. Afinal,
Leirner testemunhou como funciona o apadrinhamento tão comum em museus e galerias e passou a usar a ironia como forma de
comentar sua experiência.
Em quase 50 anos de carreira,
Leirner desenvolveu um método
bastante particular, a margem de
movimentos como o neoconcretismo, capitaneado por Hélio Oiticica. "Minha forma de construção sempre se ligou muito mais ao
objeto, procurei mostrar como a
obra passou por um processo para chegar à forma final, por isso
ela não é tão extrema como a obra
de Oiticica", diz Leirner.
A mostra na Brito Cimino é repleta de exemplos sobre seu método. Há desde obras dos anos 60
até produções recentes, como
"Bala Perdida", um conjunto de
revólveres de brinquedo cujas balas estão paradas no ar, mais que
um comentário sobre a violência
urbana. Como afirma Chiarelli no
livro, "os procedimentos de Nelson são processos estruturados de
sua poética, e não assuntos ou temas a serem explorados".
Leirner é também um dos artistas brasileiros a ganhar sala especial na 25ª Bienal de SP. "Será um
trabalho muito limpo, que vai
dialogar com a história da arte,
feito a partir de materiais industriais, como tenho realizado há
muito tempo", diz. Vem bala aí.
ARTE E NÃO ARTE - lançamento do livro
sobre o artista plástico Nelson Leirner e
mostra com obras fundamentais em sua
carreira. Autor: Tadeu Chiarelli. Onde:
galeria Brito Cimino (r. Gomes de
Carvalho, 842, São Paulo, tel. 0/xx/11/
3842-0634). Quando: lançamento e
vernissage hoje, às 19h. Mostra de ter. a
sáb., das 11h às 19h. Até 8/2. Quanto:
livro, R$ 100 (228 págs.); obras de R$
5.000 a R$ 35 mil.
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