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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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Crise monstro

Divulgação
O brasileiro Mike Deodato Jr. se fotografa como Bruce Banner para depois criar desenho do Hulk (acima)



Brasileiro assume a revista do Hulk, no mesmo ano em que personagem ganha adaptação cinematográfica


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Vida de super-herói não é fácil. Ele já foi disputado a peso de ouro pelas três maiores editoras americanas, por suas mãos passaram de Vingadores a Mulher-Maravilha, teve seu nome ovacionado por uma gama enorme de fãs e, de repente, levou um tombo que quase custou o seu emprego.
Deodato Taumaturgo Borges Filho, para seus conterrâneos na Paraíba, ou Mike Deodato Jr., para a massa de leitores mundo afora, não perde a fala mansa ao assumir: "Aquilo [seus últimos anos longe da Marvel Comics] foi culpa minha mesmo. Se tivesse feito um trabalho bom, estaria lá ainda", diz o desenhista superstar, que, depois de entrar para a geladeira da Marvel, em 1997, prestou serviço para editoras menores e chegou inclusive a desenhar um site pornô para ganhar uns trocados.
Mas, como para todo super-herói, a segunda chance veio a galope. Depois de uma curta passagem pelo personagem em 1996, Mike Deodato Jr., 39, assume, em fevereiro, um dos títulos mais bem cotados da Marvel americana, "The Incredible Hulk", que terá longa-metragem chegando aos cinemas em junho, logo após as estréias de "Demolidor" e "X-Men -2", também pertencentes à editora.
A responsabilidade dobra quando sua função é substituir John Romita Jr. em uma elogiada parceria com o roteirista Bruce Jones, que elevou a revista do verdão à 31ª posição no disputado ranking mensal da distribuidora Diamond Comics.
"O meu estilo vai estar bem diferente de quando fiz o Hulk pela primeira vez. Eu desenhava todo mundo anabolizado, as mulheres tinham a mesma cara. Agora estou voltando às minhas raízes, fazendo um desenho mais realista, baseado em fotos", afirma o brasileiro, que busca em Jean-Claude Van Damme e Milla Jovovich as referências para desenhar o gigante esmeralda e a mocinha da nova fase de Hulk. "Dá mais trabalho. Agora levo um dia e meio por página. Cheguei a fazer quatro por dia, mas o meu trabalho nessa época era um absurdo de ruim, estava cansando todo mundo. Eu não consigo nem olhar."
A expectativa, de fato, é alta. Nesse tempo em que ficou distante do grande público -a última série fixa do brasileiro pela Marvel foi "Elektra", em 1997-, Deodato deu o que falar na internet ao lançar uma série de estudos em preto-e-branco dos personagens da editora "só por falta do que fazer".
Um Capitão América cabisbaixo diante da tragédia de 11 de setembro lhe rendeu US$ 4.000 em um leilão e foi logo selecionado para integrar o álbum-tributo "Heroes", que a Marvel lançou após os ataques para levantar fundos para a reconstrução de NY.
Já o Bruce Banner -identidade do Hulk- confuso e à beira do suicídio reproduzido nesta página conseguiu a aprovação dos chefões da Casa das Idéias, que deram carta-branca ao brasileiro para reassumir a série regular do personagem.
"Vou me agarrar com todas as forças a essa chance. O mundo inteiro está vendo. E dessa vez a minha política vai ser diferente: quero fazer um trabalho de qualidade, levando o tempo que for necessário. Se eu puder ganhar dinheiro com isso, ótimo. Se não, paciência", conclui Deodato que, mesmo tendo a confiança do editor Axel Alonso, dentro da Marvel americana, teve seus dois últimos trabalhos na editora, "The Witches" e "Tigra", engavetados por tempo indeterminado.

Para inglês ver
A (re)estréia de Mike Deodato Jr., na edição 50 de "The Incredible Hulk", deve demorar um bom tempo para atingir os leitores brasileiros. Publicadas pela Panini Comics, as histórias de Banner estão aqui ainda no número 30, fase em que Paul Jenkins e Sean McKeever entregam o roteiro para Joe Benett desenhar. Joe quem?! Joe Benett, para os gringos, Bené Nascimento, para os brasileiros. Outro talento dos quadrinhos nacionais que vem emprestando sua pena para as grandes editoras dos EUA, ao lado de codinomes como Roger Cruz, Luke Ross, Marc Campos etc. Mas essa já é outra história.


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