São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

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ARTES

A instalação experimental "Paz Cega" é a representante brasileira em mostra na galeria mais famosa do Reino Unido

Estudantes brasileiros expõem na Tate

LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO

Ter sua obra exposta na galeria Tate Modern, em Londres, não é pouco para o currículo de um artista. E eis que estudantes do ensino médio de uma escola pública da cidade mineira de Pouso Alegre alcançam o feito.
A partir do dia 19, a instalação "Paz Cega", do trio Ana Carolina Ferreira de Oliveira, Giancarlo Thales Camilo da Silva e Paulo Marcos Ribeiro, todos de 16 anos, será exibida sob o mesmo teto de espaço que abriga obras de Warhol, Picasso, Dalí, Matisse.
Vencedores brasileiros de um concurso promovido pela Unilever em parceria com a Tate em 150 países, os três embarcaram em uma dupla viagem -a maior de suas vidas até agora. Seguem para a abertura da mostra em Londres. "Juiz de Fora foi o lugar mais distante que conheci", conta Ribeiro. E descobriram as artes por meio da criação. "Queríamos retratar a realidade. Fazê-la caber numa caixa. Mas não sabíamos como", diz Silva.
Após capacitação de professores orientada pela arte-educadora Mirian Martins, o mote "Mostre-me! Conte-me! Conectando e Comunicando", idealizado pelo artista americano Bruce Nauman -somado às fotos de uma instalação do próprio Nauman e de obras das americanas Jenny Holzer e Bárbara Kruger e dos brasileiros Alex Flemming e Carmela Gross-, foi trabalhado em aula, servindo de "saca-rolha para a produção de arte contemporânea", nas palavras de Martins.
Ao todo, 200 trabalhos de estudantes brasileiros concorreram. Destes, três foram escolhidos pelo júri -formado pela designer Bia Fioretti, a curadora Kátia Canton, o artista Paulo Portella Filho e a professora Olga Egas- e enviados a Londres. De lá veio a notícia. "Não acreditei quando ligaram da escola e disseram que nosso trabalho foi o vencedor. Todos ficaram muito orgulhosos de nós. Ainda não acredito", diz Oliveira.
"Numa brincadeira, sugeri que colocássemos um olho mágico numa caixa de madeira", lembra Ribeiro. Dentro dela, os mineiros compuseram uma imagem do mundo que os cerca, visto de um ponto de vista mais real que mágico. "As flores e a imagem do Cristo Redentor com uma bola de futebol nos pés, recortada de uma revista da minha mãe, representam a paz. Os ossos, a guerra", explica Oliveira.
"Mas queríamos que também fosse vista de outros ângulos", destaca Ribeiro. Aberta, a caixa revela ainda uma visão planetária.
Ganhador do concurso anterior, com "Retirantes Até Guando", Felipe César Rodrigues, 17, antecipa aos colegas o resultado da experiência de ver seu trabalho exposto na Tate: "Tudo mudou. A arte faz parte da minha vida".
Até o início de março, "Paz Cega" será exposta ainda no The National Theatre, também em Londres, antes de voltar ao Brasil.


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