|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELÂMPAGOS
Golpe
no
bar
JOÃO GILBERTO NOLL
"Em maio de 64, ressuscitando do meu primeiro choque insulínico, perguntei a
esmo como estava o governo
Goulart. Uma voz falou do
golpe de março. Hoje sei, era
a voz do meu pai." O amigo
que me ouvia contar se afastou. Não sabia acolher as
postas das lembranças dos
desmemoriados. Fui atrás.
Ele estava no banheiro do
bar. No chão, morto. Bati no
meu peito. Desatinada liturgia de um clérigo sem bandeira. O garçom ofereceu o
pano pendurado no seu braço. Cobri as feições da vítima
inesperada. Meu sóbrio amigo, o primeiro corpo que eu
teria de enterrar.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: 500 anos: Descobrimento vai virar ópera "poop" Índice
|