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ARTES CÊNICAS
"Ópera do Fim do Mundo", baseada em libreto do compositor austro-húngaro, estréia hoje em SP
Obra de Ligeti ganha roupa tecnológica
especial para a Folha
Os puristas podem colocar as
barbas de molho. Abre-se hoje a
programação anual do projeto
Pocket Opera, verdadeiro laboratório cênico que o Sesc Ipiranga
vem temerariamente produzindo
para seu teatro de 250 lugares desde 1998, sob a curadoria de Sérgio
Farah Escamilla.
O programa escolhido para a
abertura, em temporada de duas
semanas, não poderia ser mais
inusitado: "A Ópera do Fim do
Mundo" é uma adaptação absolutamente livre de "O Grande Macabro", partitura inédita no Brasil
do compositor austríaco de origem húngara György Ligeti, 76.
Se a escritura dessa ópera, estreada na Europa em 1977, tornou-se notável pela liberdade
com que funde diferentes vertentes da composição do século 20,
sua "adaptação pocket" é algo que
beira o inimaginável.
A música foi reescrita por Paulo
Sérgio dos Santos, do grupo Uakti
(leia texto ao lado), para grupo de
quatro percussionistas, baixo e teclado elétricos (com execução ao
vivo), além de sequências e corais
a oito vozes (que entram em bases
gravadas).
As vozes
Entre as 11 vozes do elenco, o
destaque é Cida Moreira (Mescalina), o que significa nova transgressão da cartilha operística: não
se trata de uma cantora lírica, apesar de a partitura exigir que sua
voz percorra duas oitavas e meia,
com saltos acrobáticos entre pontos extremos.
Moreira participa de duos com
o barítono Sandro Christopher
(Necrotzar), visto em 99 como Leporello no "Don Giovanni" dos
teatros Municipal de SP e Alfa.
Mais novidades: com a alta incidência de "sprechgesang" (canto
falado), escalou-se um ator de voz
marcante, Leandro Rezende (Ministro Branco).
Enredo apocalíptico
Soltando as rédeas de um enredo apocalíptico tratado à maneira
bufa, a montagem da "Ópera do
Fim do Mundo" se distancia da
idéia de "redução" camerística.
Ao contrário, não se pouparam
aparatos para uma concepção
multimídia ambiciosa.
O projeto Pocket já promoveu
experiências nesse sentido, como
"O Guarani" adaptado pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo ("Tupi
Tu És", 99).
Desta vez, quem assume a direção cênica é Solange Farkas. A curadora do Festival VideoBrasil
convidou Éder Santos para criar
filmes inspirados nos pintores H.
Bosch e Bruegel, o Velho. As imagens são projetadas sobre as paredes laterais e o teto do teatro.
Na extensão do palco, quatro
planos de projeção prevêem efeitos tridimensionais, incluindo
uma personagem "virtual" gravada em som e imagem (Vênus/soprano Sílvia Klein).
Além submeter o gênero operístico à era da linguagem digital,
Farkas não esqueceu os cuidados
básicos, convidando o escritor e
roteirista Reinaldo Moraes para
adaptar o libreto.
Os tradicionalistas devem mesmo tapar os ouvidos, já que a escatologia do tema transborda no
emprego de palavras que se costuma pronunciar apenas em instâncias últimas.
(ALVARO MACHADO)
Espetáculo: Ópera do Fim do Mundo
Música: György Ligeti, com direção
musical de Paulo Sérgio dos Santos
Direção geral: Solange Farkas
Direção de imagem: Éder Santos
Figurinos: Marjorie Gueller
Cenografia: Luís Rossi
Roteiro original: Reinaldo Moraes
Onde: Teatro Sesc Ipiranga (r. Bom
Pastor, 822, tel. 0/xx/11/3340-2000)
Quando: de qui a sáb., às 21h; dom., às
20h. Até dia 27/2
Quanto: R$ 12 e R$ 6
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