São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2000


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ARTES CÊNICAS
"Ópera do Fim do Mundo", baseada em libreto do compositor austro-húngaro, estréia hoje em SP
Obra de Ligeti ganha roupa tecnológica

especial para a Folha

Os puristas podem colocar as barbas de molho. Abre-se hoje a programação anual do projeto Pocket Opera, verdadeiro laboratório cênico que o Sesc Ipiranga vem temerariamente produzindo para seu teatro de 250 lugares desde 1998, sob a curadoria de Sérgio Farah Escamilla.
O programa escolhido para a abertura, em temporada de duas semanas, não poderia ser mais inusitado: "A Ópera do Fim do Mundo" é uma adaptação absolutamente livre de "O Grande Macabro", partitura inédita no Brasil do compositor austríaco de origem húngara György Ligeti, 76.
Se a escritura dessa ópera, estreada na Europa em 1977, tornou-se notável pela liberdade com que funde diferentes vertentes da composição do século 20, sua "adaptação pocket" é algo que beira o inimaginável.
A música foi reescrita por Paulo Sérgio dos Santos, do grupo Uakti (leia texto ao lado), para grupo de quatro percussionistas, baixo e teclado elétricos (com execução ao vivo), além de sequências e corais a oito vozes (que entram em bases gravadas).

As vozes
Entre as 11 vozes do elenco, o destaque é Cida Moreira (Mescalina), o que significa nova transgressão da cartilha operística: não se trata de uma cantora lírica, apesar de a partitura exigir que sua voz percorra duas oitavas e meia, com saltos acrobáticos entre pontos extremos.
Moreira participa de duos com o barítono Sandro Christopher (Necrotzar), visto em 99 como Leporello no "Don Giovanni" dos teatros Municipal de SP e Alfa.
Mais novidades: com a alta incidência de "sprechgesang" (canto falado), escalou-se um ator de voz marcante, Leandro Rezende (Ministro Branco).

Enredo apocalíptico
Soltando as rédeas de um enredo apocalíptico tratado à maneira bufa, a montagem da "Ópera do Fim do Mundo" se distancia da idéia de "redução" camerística. Ao contrário, não se pouparam aparatos para uma concepção multimídia ambiciosa.
O projeto Pocket já promoveu experiências nesse sentido, como "O Guarani" adaptado pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo ("Tupi Tu És", 99).
Desta vez, quem assume a direção cênica é Solange Farkas. A curadora do Festival VideoBrasil convidou Éder Santos para criar filmes inspirados nos pintores H. Bosch e Bruegel, o Velho. As imagens são projetadas sobre as paredes laterais e o teto do teatro.
Na extensão do palco, quatro planos de projeção prevêem efeitos tridimensionais, incluindo uma personagem "virtual" gravada em som e imagem (Vênus/soprano Sílvia Klein).
Além submeter o gênero operístico à era da linguagem digital, Farkas não esqueceu os cuidados básicos, convidando o escritor e roteirista Reinaldo Moraes para adaptar o libreto.
Os tradicionalistas devem mesmo tapar os ouvidos, já que a escatologia do tema transborda no emprego de palavras que se costuma pronunciar apenas em instâncias últimas.
(ALVARO MACHADO)


Espetáculo: Ópera do Fim do Mundo Música: György Ligeti, com direção musical de Paulo Sérgio dos Santos Direção geral: Solange Farkas Direção de imagem: Éder Santos Figurinos: Marjorie Gueller Cenografia: Luís Rossi Roteiro original: Reinaldo Moraes Onde: Teatro Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, tel. 0/xx/11/3340-2000) Quando: de qui a sáb., às 21h; dom., às 20h. Até dia 27/2 Quanto: R$ 12 e R$ 6




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