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TEATRO/CRÍTICA
"Em Lugar Algum" sintetiza a estranheza do outro
KIL ABREU
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Tempo de Despertar", a
obra do neurologista Oliver Sacks adaptada para o teatro
por Silvana Garcia, mostra o "renascimento" de pacientes vitimados pela "doença do sono". Pessoas às vezes imobilizadas totalmente, em um tempo e em um lugar quaisquer, ou divididas entre
períodos de apatia e de comportamento convulsivo.
"Em Lugar Algum", a encenação desses relatos, traz ao palco o
desafio de criar formas cênicas
objetivas para traduzir aspectos
obtusos do inconsciente.
A condição de vítimas de um
mal inexplicável e a esperança
diante de artifícios que apontem a
cura localizam os personagens
quase na dimensão do mito trágico. Aparentemente penalizados
pelo destino, eles ocupam o posto
de objetos da empatia e compaixão da platéia. Mas, embora um
ou outro esbarre em questões de
ordem moral ou mítica, é a ciência como instrumento de intervenção no inconsciente o que de
fato nos mobiliza. É ela o argumento incerto, mas possível,
diante do desconhecido.
A encenação de Beth Lopes procura representar o descompasso
entre a quase falência física e a vigorosa energia intelectual dos pacientes por meio de uma linguagem altamente gestualizada. Os
atores transitam entre a descrição
literal e a estilização do comportamento, evitando estereótipos.
Em algumas passagens, no entanto, é claro o desacerto entre o
rigor das ações físicas e vocais e a
geração dos sentidos, das leituras
possíveis frente aos conflitos vividos pelos personagens. É inevitável que esperemos, de histórias
que pretendem dar conta de um
universo psicológico inexato,
complexo, nublado, uma leitura
que nos localize diante desses estados, sob o risco de testemunharmos não mais que a simples
descrição dos mesmos.
Os recursos plásticos da cena,
por exemplo, quase que definidos
na evolução corporal dos atores
no espaço, criam uma bonita e
tensa simetria, mas às vezes se sobrepõem aos momentos mais delicados da narrativa.
A favor da montagem estão ainda a síntese e a simplicidade na
adaptação dos relatos, que nos
dão o mirante seguro de onde é
possível observar a estranheza do
outro, sua miséria e sua violenta
capacidade de resistência.
Em Lugar Algum
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Direção: Beth Lopes
Com: Ana Gallotti, Eduardo de Paula,
Mara Leal e outros
Onde: Cultura Inglesa de Pinheiros (r.
Dep. Lacerda Franco, 333, tel. 0/xx/11/
3039-0500)
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h
Quanto: R$ 1 (sex.) e R$ 10 (sáb. e dom.)
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