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CINEMA BRASILEIRO
Canal Brasil exibe as caras da favela
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Pelo menos desde "Favela
dos Meus Amores" (1935),
filme desaparecido de Humberto
Mauro, a favela tem uma presença tão constante no cinema brasileiro quanto na música popular.
A Mostra Cinema e Favela, que
começa hoje no Canal Brasil com
a exibição de "Orfeu" (1998), de
Cacá Diegues, permite conhecer
ou revisitar algumas das imagens
que nossos cineastas construíram
desse cenário definido pelo "Aurélio" como "conjunto de habitações populares toscamente construídas (por via de regra em morros) e desprovidas de recursos higiênicos".
A favela sempre foi, na cultura
dominante brasileira, o território
do "outro" -um outro alternadamente exótico ou ameaçador.
Da comunidade pitoresca de "Orfeu do Carnaval" (1959) ao inferno do crime de "Cidade de Deus"
(2002) -ambos ausentes na
mostra-, a favela quase sempre
nos foi mostrada como um local
ao mesmo tempo próximo (geograficamente) e remoto (do ponto
de vista social e cultural).
A partir do Cinema Novo (representado na mostra por "Cinco
Vezes Favela", de 1962), a favela
tornou-se um dos cenários centrais da encenação da luta de classes (o outro foi o sertão).
Entre os sete longas do ciclo
destaca-se "Assalto ao Trem Pagador" (Roberto Farias, 1962),
marco do cinema policial brasileiro, que criou o paradigma da favela como o lugar dos despossuídos, que, por isso mesmo, ameaçam tomar o que é da elite. De certo modo, é o mesmo quadro representado em "O Primeiro Dia"
(Walter Salles e Daniela Thomas,
1999).
"Romance da Empregada"
(Bruno Barreto, 1988) mostra a
busca ilusória de uma saída individual, enquanto "Natal da Portela" (Paulo Saraceni, 1988) e o "Orfeu" de Diegues traçam painéis
mais complexos das relações entre a favela e o "asfalto".
MOSTRA CINEMA E FAVELA. Quando:
de hoje (às 21h) a 28 de fevereiro
(horários variados), no Canal Brasil.
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