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Crítica/ensaio
Autora analisa intelectuais inconformistas com saudade inteligente
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Intelectual, parisiense, sofisticada, historiadora da
psicanálise na França,
que fez a ponte entre Marx e
Freud, o amálgama freudo-marxismo, madame Elisabeth
Roudinesco, nascida na geração 40-45, conheceu de perto e
leu com afinco os principais
pensadores franceses da atualidade exportados para o mundo.
Claro que não cabe a ela a
responsabilidade de como é feita a recepção alhures desses
pensadores. Uma coisa é o Deleuze francês, dando aula de filosofia durante 40 anos, outra
bem diferente é o deleuzeano
subempregado e volante em
Buenos Aires ou São Paulo.
Os filósofos atormentados
foram intelectuais críticos e corajosos, Sartre, Canguilhem,
Foucault, Altusser, Deleuze,
Derrida, todos levando vida
materialmente confortável,
mas barra pesadíssima, droga,
birita, loucura, manicômio, assassinato, na seqüência do
marxismo em crise, do proletariado problemático, do triunfo
cósmico da direita endolarada,
do colapso do partido positivo,
do descaso pela militância, do
engajamento desencantado, do
ocaso da idéia de missão intelectual, do pragmatismo cínico
de mercado.
Depois do desaparecimento
dos filósofos na tormenta, sobrevem a maré abobalhada do
conformismo e da resignação.
O que vinga agora intelectualmente é a reza do dinheiro,
ou senão a voga do pensamento
teológico que caracteriza a etapa neoliberal do capitalismo
em escala planetária.
A ideologia da segurança psíquica tomou conta da nossa
época obcecada pela saúde e
pela medicalização da existência, com a aliança sinistra e comercial entre a drogaria e o supermercado.
Envenenamo-nos
com o mesmo produtor de comida que nos vende o remédio
para a cura. Tão diferente disso
era a admiração de Deleuze por
Sartre: "É um polemista terrível... não existe gênio sem parodia de si mesmo. Mas qual é a
melhor paródia? Tornar-se um
ancião adaptado, uma autoridade espiritual e vaidosa?".
Os melhores capítulos são
dedicados aos filósofos com
quem conviveu como aluna e
amiga, exercendo com estilo
uma espécie de saudade à francesa, culta, racional, inteligente
e grafomaníaca.
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS é professor de ciências sociais na Universidade
Federal de Juiz de Fora.
FILÓSOFOS NA TORMENTA
Autor: Elisabeth Roudinesco
Tradução: André Telles
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 36 (240 págs.)
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