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Livros - Crítica/romance
Jonathan Coe conduz trama com segurança e pirotecnia
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"A Casa do Sono", romance de 1997 de
Jonathan Coe agora lançado no Brasil, corria um
sério risco de se transformar
numa espécie de manual aplicado de escrita criativa, ao
apostar boa parte de suas fichas
em uma série de efeitos narrativos e truques de composição.
O escritor inglês, contudo,
consegue conduzir o enredo
com segurança e incorpora toda a pirotecnia à história que
busca contar, deixando o leitor,
ao final, convencido de que a
estratégia era pertinente.
A regra por trás do romance
parece ser a de, a partir da definição de quatro personagens
iniciais, duplicar tudo o que for
possível, a começar pelo tempo
da ação. Tem-se, assim, em capítulos alternados, acontecimentos no início do anos 80 e
em meados dos anos 90, sempre ligados de algum modo a
uma mansão em uma cidade
próxima a Londres e sempre
complementares, acrescentando explicações e complicações
a tudo que fora dito anteriormente, seja pormenores que
haviam passado bem despercebidos, seja cenas obscuras que
surgiam vez ou outra sem nenhuma razão aparente.
No período inicial, a casa
abriga estudantes da universidade local, entre eles Sarah, que
pretende ser professora, Gregory, futuro psiquiatra, Terry, o
especialista em cinema, e Robert. Nos capítulos situados
nos anos 90, o lugar é uma clínica para pesquisas sobre distúrbios do sono, comandada pelo
agora dr. Dudden (Gregory). A
ela, por razões variadas, todos
terminam retornando.
O outro foco de duplicações
está nos pares "estar acordado
x dormir" e "sonho x realidade", já que Sarah sofre de narcolepsia (sono súbito e incontrolável) e com freqüência é incapaz de distinguir os eventos
vividos dos sonhados. Mas há
também inversões de preferências sexuais, discussões sobre o
cinema de massa em contraposição a um filme perdido (a obsessão de Terry), entre outras,
que é melhor não anunciar
aqui. O ponto negativo fica por
conta do destino monstruoso
de Gregory, muito exagerado e
caricato, de modo algum condizente com a condução delicada
dada aos outros protagonistas.
Além de "A Casa do Sono",
destacam-se entre as obras de
Jonathan Coe "O Legado da Família Winshaw", "O Círculo Fechado" e "Bem-Vindo ao Clube" (todas publicadas no Brasil
pela Record).
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
A CASA DO SONO
Autor: Jonathan Coe
Tradução: Marcello Rollemberg
Editora: Record
Quanto: R$ 49,90 (400 págs.)
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