São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 2007

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Livros - Crítica/romance

Jonathan Coe conduz trama com segurança e pirotecnia

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

"A Casa do Sono", romance de 1997 de Jonathan Coe agora lançado no Brasil, corria um sério risco de se transformar numa espécie de manual aplicado de escrita criativa, ao apostar boa parte de suas fichas em uma série de efeitos narrativos e truques de composição.
O escritor inglês, contudo, consegue conduzir o enredo com segurança e incorpora toda a pirotecnia à história que busca contar, deixando o leitor, ao final, convencido de que a estratégia era pertinente.
A regra por trás do romance parece ser a de, a partir da definição de quatro personagens iniciais, duplicar tudo o que for possível, a começar pelo tempo da ação. Tem-se, assim, em capítulos alternados, acontecimentos no início do anos 80 e em meados dos anos 90, sempre ligados de algum modo a uma mansão em uma cidade próxima a Londres e sempre complementares, acrescentando explicações e complicações a tudo que fora dito anteriormente, seja pormenores que haviam passado bem despercebidos, seja cenas obscuras que surgiam vez ou outra sem nenhuma razão aparente.
No período inicial, a casa abriga estudantes da universidade local, entre eles Sarah, que pretende ser professora, Gregory, futuro psiquiatra, Terry, o especialista em cinema, e Robert. Nos capítulos situados nos anos 90, o lugar é uma clínica para pesquisas sobre distúrbios do sono, comandada pelo agora dr. Dudden (Gregory). A ela, por razões variadas, todos terminam retornando.
O outro foco de duplicações está nos pares "estar acordado x dormir" e "sonho x realidade", já que Sarah sofre de narcolepsia (sono súbito e incontrolável) e com freqüência é incapaz de distinguir os eventos vividos dos sonhados. Mas há também inversões de preferências sexuais, discussões sobre o cinema de massa em contraposição a um filme perdido (a obsessão de Terry), entre outras, que é melhor não anunciar aqui. O ponto negativo fica por conta do destino monstruoso de Gregory, muito exagerado e caricato, de modo algum condizente com a condução delicada dada aos outros protagonistas.
Além de "A Casa do Sono", destacam-se entre as obras de Jonathan Coe "O Legado da Família Winshaw", "O Círculo Fechado" e "Bem-Vindo ao Clube" (todas publicadas no Brasil pela Record).


ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
A CASA DO SONO    
Autor: Jonathan Coe
Tradução: Marcello Rollemberg
Editora: Record
Quanto: R$ 49,90 (400 págs.)

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