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Brasil se abre a programas argentinos
Com foco na exportação, TV da Argentina se expande internacionalmente e amplia o espaço nas emissoras brasileiras
"Lalola" faz sucesso no SBT; Band produzirá versão do "CQC", que mistura notícia com humor, e exibirá a série "Hermanos y Detectives"
LAURA MATTOS
CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ligue no SBT de segunda a
sábado, às 20h15. Se não houver nenhuma daquelas mudanças repentinas de Silvio Santos,
estará no ar a novela "Lalola",
sobre o mulherengo Lalo,
transformado por bruxaria em
Lola para pagar todos os seus
pecados com a mulherada.
Mais do que uma trama engraçadinha, "Lalola" -que na
estréia dobrou a audiência do
SBT- é um exemplo da expansão internacional da TV argentina. Mesmo as redes brasileiras, que não são das que mais importam programação, estão
se abrindo aos hermanos.
Além de "Lalola", que entrou
no ar em janeiro, a TV brasileira deverá ter em breve mais
dois programas da Argentina
em horário nobre. O primeiro a
estrear será a versão nacional
do "Caiga Quien Caiga"
("CQC"). Comprado pela Band
e rebatizado de "Custe o que
Custar", tem a estréia prevista
para março. É apresentado por
um trio de jornalistas (os brasileiros devem ser escolhidos
nesta semana), que trata notícias de política, esportes e celebridades com humor irônico.
No ar há 11 anos na Argentina, ganhou versões na Itália,
Espanha, França, Chile e Israel.
A Band comprou também a minissérie "Hermanos y Detectives", policial com ares de Agatha Christie protagonizado por
Rodrigo de la Serna (intérprete
do amigo de Che Guevara no
filme "Diários de Motocicleta"). Vai exibir o original dublado, em data a ser definida.
A versão brasileira da norte-americana "Desperate Housewives", exibida em 2007 pela
Rede TV!, é também um exemplo do crescimento da indústria
audiovisual argentina. A série,
com Lucélia Santos e Sônia
Braga, foi filmada em Buenos
Aires, que, com mão-de-obra
boa e barata, tornou-se um oásis da produção internacional.
Boom da crise
Diante de um mercado publicitário reduzido, especialmente com a crise financeira que assolou o país no início desta década, as produtoras de TV argentina, para sobreviver, passaram a focar a exportação.
É grande o número de títulos
oferecidos a TVs da América
Latina, Europa e o mercado
hispânico dos EUA. A variedade é conseqüência da principal
diferença entre a TV argentina
e a brasileira. Lá, a produção
deixou de ser monopólio das
redes, como no Brasil, e passou
para produtoras independentes. "A terceirização não foi imposta por nenhuma lei, foi uma
necessidade de mercado. Era
preciso buscar qualidade e diminuir os riscos", conta Horácio Ferrari, diretor-executivo
da Câmara Argentina de Produtoras Independentes de Televisão, que reúne as 22 principais fornecedoras de conteúdo
para as redes de TV do país.
No Brasil, apesar de haver
mais de mil produtoras independentes, as redes não se
abrem. Por isso, a ABPI-TV,
que representa o setor, defende
uma lei que as obrigue a exibir
produção independente.
Nesse caso, a Argentina está
mesmo um passo à frente do
Brasil. De cinco anos para cá,
segundo Ferrari, além da produção de programas, as produtoras passaram a investir na
criação de formatos para exportação. Isso quer dizer que,
em vez de vender um programa
argentino pronto, é oferecida a
idéia e, normalmente, uma parceria para a produção local, como será o caso do "CQC".
"Isso tem a ver com a universalização dos temas. Os argentinos hoje vendem formatos de
novelas que podem ser produzidas em qualquer país, independentemente das diferenças
culturais. É diferente da TV inglesa, que tem bons formatos,
mas com um tom mais local, difíceis de exportar", avalia Elisabetta Zenatti, diretora de programação da Band, que co-produziu "Floribella", versão da
novela argentina "Floricienta".
Celina Amadeo, CEO da Dori
Media Central Studios, produtora de "Lalola", acha que a
vantagem da produção argentina é ser menos regionalista do
que a brasileira. Para ela, são
produzidas aqui histórias que
respondem a um molde local e
que, "culturalmente, tomam
como protagonista o seu próprio universo". "Na novela brasileira, o local tem muita importância."
Já "Lalola", de acordo com
Amadeo, foi pensada para o
mercado internacional, com
linguagem mais universal. "A
história é a protagonista, e não
o local." Daí a estética mais próxima dos seriados americanos
do que das telenovelas latinas.
Alvo
O Brasil, conhecido internacionalmente pela exportação
de novelas da Globo, sempre foi
um mercado almejado pelas
produtoras argentinas. "A TV
brasileira era uma aspiração
para nós, assim como a mexicana. São mercados com produção local forte, difíceis de penetrar", afirma Ricardo Kon, diretor de desenvolvimento e gestão da Cuatro Cabezas, produtora do "Caiga Quien Caiga".
"O "CQC" é só o primeiro passo. Nosso objetivo é vender
mais para o Brasil", planeja.
Para Celina Amadeo, o mercado brasileiro "é o mais interessante da América do Sul" e
""Lalola" é um bom projeto para
iniciar relação duradoura".
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