São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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Crítica/"Down by Law"

Jarmusch expõe a América dos perdedores

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Longe de fazer um cinema panfletário focado em questões sociais, Jim Jarmusch vem, desde sua estréia em longas com "Estranhos no Paraíso" (1984), construindo uma obra que olha com certo estranhamento para a América. Mais do que uma vocação para esmiuçar a psicologia de seus personagens e suas contradições, seus filmes expõe não apenas o subterrâneo de uma nação, mas as bordas esquecidas da própria vida.
É assim que Jarmusch se consagrou como o grande nome do cinema independente americano dos anos 80, com seu segundo longa, o cult "Down by Law" (1986), que ainda hoje causa certo frisson no circuito alternativo e tem lançamento em DVD no Brasil.
Filmado na poética (e estilizada) fotografia em preto-e-branco de Robby Müller, o longa usa um fiapo de trama para explodir em climas e soluções cinematográficas minimalistas. Mais do que contar a história de três outsiders que vão parar, injustamente, na cadeia para depois empreender uma fuga, "Down by Law" ergue-se sobre a surrada idéia de "caldeirão" de influências, que, aqui, extrapola os clichês.
Definido pelo diretor como uma "comédia-noir-neo-beat", o longa abraça um imaginário vago que une tanto filmes noir dos anos 50 quanto a literatura de Tennessee Williams e citações a William Blake e, principalmente, uma Louisiana mítica de pântanos sujos e crocodilos. Nesse cenário, vagam personagens à margem da América: Jack (John Lurie), um gigolô de quinta categoria, e Zack (Tom Waits), um DJ desempregado, que serão sacudidos pelo histriônico italiano Bob (Roberto Benigni).
Ao contrário do ritmo do cinemão americano, "Down by Law" privilegia os silêncios, os longos planos-seqüências em que aparentemente nada acontece. Para Jarmusch, o nada que se segue aos diálogos é o que mais importa. Ele sabe que a vida não é apenas ação.


DOWN BY LAW
Direção:
Jim Jarmusch
Distribuidora: Lume Filmes (R$ 38)
Avaliação: ótimo


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