São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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Guerras inspiram indicados ao Oscar de documentário

Estimulados por conflitos mundiais, diretores produzem longas rapidamente, com mensagens urgentes a transmitir

Presença de norte-americanos no Iraque e Afeganistão e guerra civil em Uganda são alguns dos temas abordados nos filmes

CARYN JAMES
DO "NEW YORK TIMES"

Não muito tempo atrás, a categoria de documentários era uma das mais sonolentas do Oscar -cuja cerimônia acontece no próximo dia 24. Mas esse padrão mudou quando Michael Moore venceu com "Tiros em Columbine" (2002).
Os cinco indicados deste ano são trabalhos politizados, e quatro deles tratam de guerras.
Estimulados pelos conflitos mundiais e por tecnologias que permitem que documentaristas produzam longas em prazo de meses, e não anos, esses filmes têm mensagens urgentes a transmitir. Os argumentos aguçados que eles apresentam suscitam uma pergunta: será que esses filmes conseguirão exercer impacto político real?
Todos tentam, de diferentes maneiras. "Taxi to the Dark Side" (táxi para o lado escuro), de Alex Gibney, sobre os abusos dos EUA contra os prisioneiros da guerra ao terrorismo, é eloqüente. "Sicko - $O$ Saúde", de Moore, é muito engraçado em sua demolição do sistema norte-americano de saúde. E até mesmo os filmes menos artísticos apresentam os rostos e vozes de quem testemunhou alguns dos mais angustiantes conflitos atuais.
No comovente "War/Dance" (guerra/dança), de Sean Fine e Andrea Nix Fine, esses rostos e vozes são de crianças de Uganda que se inscrevem em um concurso de música, ainda que suas vidas tenham sido destroçadas por décadas de guerra civil. "No End in Sight" (nenhum fim à vista), de Charles Ferguson, usa depoimentos de antigos membros do governo Bush para apresentar seus argumentos contra os estágios iniciais da operação militar norte-americana no Iraque, que o filme define como catastroficamente mal dirigida. Até mesmo o simples "Operation Homecoming" (operação volta para casa), de Richard Robbins, tem momentos esclarecedores, ao apresentar textos escritos por soldados americanos que serviram no Iraque e no Afeganistão.
"Eu não imagino que [o vice-presidente] Dick Cheney vá assistir ao filme e exclamar: "Meu Deus, estávamos errados!'", diz Gibney. "Penso nesses filmes como "agents provocateurs", que levam as pessoas a refletir sobre seus temas".
"Taxi to the Dark Side" atrai o espectador à sua narrativa, sobre um taxista que foi detido na prisão de Bagram, no Afeganistão, por suspeita de terrorismo, espancado por seus captores norte-americanos mesmo depois que estes descobriram indícios de sua inocência, e que terminou morrendo lá.
"No End in Sight", que oferece uma lista impressionante de depoimentos de antigos funcionários do governo (entre os quais o chefe de gabinete do então secretário de Estado Colin Powell) é um trabalho jornalístico revelador e recebeu fortes elogios da crítica. O filme teve faturamento respeitável, US$ 1,4 milhão nos EUA.
O maior impacto de um documentário talvez não surja do número de pessoas que leva aos cinemas, mas da atenção que desperta na mídia. Jamais saberemos até que ponto a lista de indicados reflete simplesmente os caprichos dos comitês formados pelos membros da Academia, responsáveis por selecionar os filmes que concorrerão ao prêmio.
Já que o objetivo desses filmes é participar do diálogo político, obter uma indicação ao Oscar lhes oferece um forte empurrão para que gerem a bola de neve de atenção da mídia que talvez represente o maior sinal do sucesso de um documentário.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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