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Guerras inspiram indicados ao Oscar de documentário
Estimulados por conflitos mundiais, diretores produzem longas rapidamente, com mensagens urgentes a transmitir
Presença de norte-americanos no Iraque e Afeganistão e guerra civil em Uganda são alguns dos temas abordados nos filmes
CARYN JAMES
DO "NEW YORK TIMES"
Não muito tempo atrás, a
categoria de documentários
era uma das mais sonolentas
do Oscar -cuja cerimônia
acontece no próximo dia 24.
Mas esse padrão mudou quando Michael Moore venceu com
"Tiros em Columbine" (2002).
Os cinco indicados deste ano
são trabalhos politizados, e
quatro deles tratam de guerras.
Estimulados pelos conflitos
mundiais e por tecnologias que
permitem que documentaristas produzam longas em prazo
de meses, e não anos, esses filmes têm mensagens urgentes a
transmitir. Os argumentos
aguçados que eles apresentam
suscitam uma pergunta: será
que esses filmes conseguirão
exercer impacto político real?
Todos tentam, de diferentes
maneiras. "Taxi to the Dark Side" (táxi para o lado escuro), de
Alex Gibney, sobre os abusos
dos EUA contra os prisioneiros
da guerra ao terrorismo, é eloqüente. "Sicko - $O$ Saúde",
de Moore, é muito engraçado
em sua demolição do sistema
norte-americano de saúde. E
até mesmo os filmes menos artísticos apresentam os rostos e
vozes de quem testemunhou
alguns dos mais angustiantes
conflitos atuais.
No comovente "War/Dance" (guerra/dança), de Sean Fine e Andrea Nix Fine, esses
rostos e vozes são de crianças
de Uganda que se inscrevem
em um concurso de música,
ainda que suas vidas tenham
sido destroçadas por décadas
de guerra civil. "No End in
Sight" (nenhum fim à vista), de
Charles Ferguson, usa depoimentos de antigos membros
do governo Bush para apresentar seus argumentos contra os
estágios iniciais da operação
militar norte-americana no
Iraque, que o filme define como catastroficamente mal dirigida. Até mesmo o simples
"Operation Homecoming"
(operação volta para casa), de
Richard Robbins, tem momentos esclarecedores, ao apresentar textos escritos por soldados
americanos que serviram no
Iraque e no Afeganistão.
"Eu não imagino que [o vice-presidente] Dick Cheney vá assistir ao filme e exclamar: "Meu
Deus, estávamos errados!'", diz
Gibney. "Penso nesses filmes
como "agents provocateurs",
que levam as pessoas a refletir
sobre seus temas".
"Taxi to the Dark Side" atrai
o espectador à sua narrativa,
sobre um taxista que foi detido
na prisão de Bagram, no Afeganistão, por suspeita de terrorismo, espancado por seus captores norte-americanos mesmo depois que estes descobriram indícios de sua inocência,
e que terminou morrendo lá.
"No End in Sight", que oferece uma lista impressionante de
depoimentos de antigos funcionários do governo (entre os
quais o chefe de gabinete do
então secretário de Estado Colin Powell) é um trabalho jornalístico revelador e recebeu
fortes elogios da crítica. O filme teve faturamento respeitável, US$ 1,4 milhão nos EUA.
O maior impacto de um documentário talvez não surja do
número de pessoas que leva
aos cinemas, mas da atenção
que desperta na mídia. Jamais
saberemos até que ponto a lista
de indicados reflete simplesmente os caprichos dos comitês formados pelos membros
da Academia, responsáveis por
selecionar os filmes que concorrerão ao prêmio.
Já que o objetivo desses filmes é participar do diálogo político, obter uma indicação ao
Oscar lhes oferece um forte
empurrão para que gerem a
bola de neve de atenção da mídia que talvez represente o
maior sinal do sucesso de um
documentário.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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