São Paulo, quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Crítica/"Tantas Marés"

Edu Lobo volta com inéditas e borda memória musical

Após mais de dez anos sem disco solo, compositor alia novidades a recriações

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A parcimônia com que Edu Lobo lança discos espelha a sua desejada falta de familiaridade com a velocidade que move hoje a indústria musical, em que quase tudo se esgota já ao nascer. Há muito o compositor cansou de ser moderno para virar eterno.
Seus últimos CDs são "Corrupião" (1993) e "Meia-noite" (1996), além da trilha da peça "Cambaio" (2001) e de uma ou outra trilha de cinema. Não por acaso, escolheu para faixa-título do novo trabalho uma canção que trata de memória, de emoções que persistem, "Vestígios de tempo/ Que mesmo embaçados/ Não passam jamais".
"Tantas Marés" é uma das seis parcerias inéditas com Paulo César Pinheiro. Não é uma safra deslumbrante, a se julgar por tudo o que Edu já fez.
Mas está a mil léguas de distância do tanto que se faz por aí. "Primeira Cantiga" é um belo acalanto, gênero deslocado numa época ruidosa em que som não combina com sono. A participação de Mônica Salmaso é outra declaração de princípios: uma cantora serena, desligada de modismos, sem apelos que não os da voz.
Talvez por já terem sido gravadas sem letra, "Dança do Corrupião" e "Perambulando" soam aos ouvidos como se os versos forçassem um pouco a porta para entrar. Já "Coração Cigano" e "Qualquer Caminho" são valsas que, emolduradas por cordas, embaralham paz e tristeza, algo inevitável para quem está lidando a sério com matéria de memória.
Quando grava canções suas que outros já interpretaram, Edu não faz para encher o repertório de um disco, mas porque planeja por muito tempo o seu registro de compositor. Em "Ode aos Ratos", por exemplo, ele contrapõe às versões recentes de Chico Buarque e Ney Matogrosso um tratamento mais despojado, com solos de flauta, assimetrias no arranjo e intensidade menor no canto.
As outras três parcerias com Chico recriadas são da trilha de "O Grande Circo Místico" (1983): "Ciranda da Bailarina", "A Bela e a Fera" e "A História de Lily Braun", cada qual encantando não necessariamente por algum acento mais chamativo, mas por deixarem clara a delicadeza com que Edu borda e reborda suas criações.
É o que ele, filho de pernambucanos, faz ao recuperar o ótimo frevo "Angu de Caroço", com letra de Cacaso. Edu se acompanha do pianista e arranjador Cristovão Bastos e de outros grandes músicos. Se o disco não resulta irretocável, é porque Edu, perfeccionista, nos acostumou com a perfeição.


TANTAS MARÉS

Artista: Edu Lobo
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 35, em média
Avaliação: bom




Texto Anterior: Conexão Pop
Próximo Texto: Namorados se unem no projeto musical Letuce
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.