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PROJETOS
Trabalhos da poetisa goiana dão origem a peça de teatro, que tem leitura hoje, e filme, em fase de finalização
Cora Coralina volta em teatro e cinema
DENISE MOTA
da Redação
Quando era indagada sobre sua
idade, a poetisa goiana Cora Coralina costumava dizer que tinha
``todas as idades do mundo''. Doze anos depois de sua morte, a escritora que, em vida, não teve sua
obra divulgada para o grande público, prova que seus poemas também não têm idade.
Eles estão sendo transformados
em peça de teatro, em São Paulo, e
tema de filme, rodado no interior
de Goiás.
A montagem ``Cora Coralina -
Pelos Reinos de Goiás'' é uma
adaptação de Ray Moura, sob direção de Marapuã de Oliveira, para a
vida e as poesias de Cora e tem leitura hoje, às 21h, no teatro Ruth
Escobar.
O espetáculo utiliza composições do cancioneiro de Goiás, tocadas em instrumentos como atabaques e bongôs.
O objetivo é recuperar o ambiente doméstico da poetisa que, após
ficar viúva, garantiu o sustento da
família cozinhando (leia texto
abaixo).
A peça é baseada na obra ``Cora
Coragem, Cora Poesia'', biografia
romanceada escrita pela filha caçula de Cora, Vicência Brêtas Tahan, escritora e professora aposentada que cuida atualmente dos
trabalhos de Cora.
O livro foi lançado em 1989, pela
Global Editora.
``Quando a gente é menina, não
toma consciência do que os pais
estão fazendo. Depois de adulta é
que eu fui compreender e comecei
a admirar a obra de minha mãe'',
diz Vicência.
Ela prepara o lançamento de um
novo livro, ``Doces Mensagens'',
em que reúne receitas de doces utilizadas por Cora Coralina e mensagens que a poetisa escrevia em autógrafos.
Tranças
Também baseado em Cora Coralina, o cineasta Pedro Rovai dirige
``As Tranças de Maria'', longa-metragem em fase de finalização que tem como tema um conto
homônimo da escritora, retirado
do livro ``Poemas dos Becos de
Goiás e Estórias Mais''.
O filme, que está em fase de finalização, deverá ser concluído em
maio. A produção custou R$ 1,6
milhão e é protagonizada por Patrícia França.
Também estão no elenco os atores Ilya São Paulo, Maria Ribeiro e
José Dumont.
Patrícia interpreta Maria, a filha
de um agregado de fazenda que, na
década de 40, é obrigada pelo pai a
casar com um homem respeitado,
mas que ela não ama.
Oprimida, Maria se rebela contra
o casamento de conveniência, foge
do noivo e ``desaparece'' em uma
vida de introspecção.
``O noivo fica louco, o pai fica
envergonhado e o dono da fazenda
fica furioso'', conta Rovai. ``A temática de Cora Coralina é isso, é a
insubmissão da mulher. `As Tranças de Maria' é um filme muito
poético, mas para manter o espectador preso à trama é complicado,
do ponto de vista narrativo. Procuramos então fazer um rendilhado de imagens.''
Sucuri
Na trama, o desaparecimento de
Maria gera comentários entre a vizinhança, vira cantiga em porta de
igreja e leva o noivo de Maria, vaqueiro temido e conhecido, ao desespero.
A introspecção da moça é simbolizada pela personagem sendo engolida por uma sucuri, em uma
obediente transposição -em tom
de realismo fantástico- do destino de Maria descrito no poema de
Cora (leia trecho ao lado).
``A cobra é um elemento feminino que simboliza a sabedoria em
muitas mitologias'', diz o cineasta.
``Tenho visto filmes brasileiros
que são clones de produções americanas, não quis fazer isso. `As
Tranças' tem uma carga muito
brasileira. A paisagem do cerrado é
muito amarela, é ensolarada, tem
verdade''.
O quê: Leitura dramática da peça Cora
Coralina - Pelos Reinos de Goiás
Direção: Marapuã de Oliveira
Com: Eliná Coronado, Isabel de Sá, Zodja
Pereira
Quando: hoje, às 21h
Onde: teatro Ruth Escobar - sala Dina Sfat
(r. dos Ingleses, 209, tel. 011/289-2358)
Quanto: entrada franca
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