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CINEMA
Cineasta, que morreu sexta, aos 89, dirigiu os sucessos `Matar ou Morrer' e `A Um Passo da Eternidade'
Zinnemann morre sem deixar marca pessoal
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
A morte de Fred Zinnemann
-ocorrida sexta-feira, em Londres, aos 89 anos, por problemas
cardíacos- interessa ao cinema,
sem dúvida. Mas é o caso de perguntar: a que cinema?
Zinnemann foi um padrão de diretor hollywoodiano. Realizou alguns dos filmes mais célebres do
cinema americano ("Matar ou
Morrer", de 1951, "A Um Passo
da Eternidade", de 1953), filmou
algumas sequências que até hoje
deixam os norte-americanos (e
não só) boquiabertos.
Mas esteve longe de constituir o
que se pode chamar "uma obra":
um conjunto de trabalhos com um
pensamento original e coerente e
uma marca pessoal.
Nascido em Viena, em 29 de abril
de 1907, Zinnemann trocou a Europa pelos EUA em 1929. Trabalhou como extra, foi assistente de
direção de Robert Flaherty e realizou documentários para a Metro.
Fixou-se nos EUA e assumiu a
nacionalidade norte-americana.
Em 1942, dirigiu o primeiro de
seus 21 longas, "Um Assassino de
Luvas".
Sua principal marca, a ousadia
na escolha dos temas, começou a
se revelar em "A Sétima Cruz"
(44), que narra a fuga de um antinazista de um campo de concentração.
Força da história
O caminho dos filmes baseados
em temática forte estava traçado.
Em 1951, "Matar ou Morrer"
confirmaria esse destino: a glória
de Zinnemann estaria, para sempre, associada à força das histórias
que tinha a seu dispor.
"Matar ou Morrer" buscava um
caminho fora do convencional para o faroeste. Gary Cooper ganhou
o Oscar de melhor ator como o xerife que procura ajuda da população para combater os vilões que
estão para chegar à cidade.
Zinnemann desagradou os cultores do gênero, ao criar um herói
pouco heróico, que não se impunha pela individualidade, mas pelos laços de solidariedade que procurava criar com a população. O
patriotismo passava à frente da
épica fundada sobre o individualismo, característica do faroeste.
Com "A Um Passo da Eternidade", Zinnemann ganhou Oscars
de melhor filme e direção e beirou
a unanimidade. O filme pode ser
inferior à sua fama (leia artigo
abaixo), mas, seja pela sucessão de
episódios, pela cena amorosa ousada, ou pelos 8 Oscars ganhos,
afirmou o diretor em definitivo.
Ainda assim, pode-se morrer de
tédio vendo "Cruel Desengano"
(1952) ou "O Homem que Não
Vendeu Sua Alma" (1966). Este
último deu a Zinnemann seu segundo Oscar (de melhor filme e
melhor direção, novamente), com
a biografia de Thomas More e, sobretudo, sua oposição ao poder
absoluto de Henrique 8º.
Já "O Dia do Chacal" (1973), em
que relata um atentado contra o
presidente francês Charles De
Gaulle, prende a atenção todo o
tempo, em parte porque Zinnemann, ao adaptar o romance de
Frederic Forsythe, fixou-se na sucessão de detalhes sugerida pelo
plano de assassinato.
"Julia" (1977), que adapta uma
peça de Lillian Hellman, conta
academicamente a história de amizade entre duas mulheres, durante
a Segunda Guerra Mundial.
Quase todo o tempo, limita-se a
valorizar as atrizes (Jane Fonda e
Vanessa Redgrave). Mas uma sequência torna o filme memorável:
quando Lillian (Fonda) vai à Alemanha nazista em busca de Julia.
Ali, Zinnemann impôs os detalhes à história. Naquele instante, o
filme importa pelo que mostra, e
não pelo que conta. Infelizmente,
esses momentos foram sempre fugazes em Zinnemann. Como norma, seus filmes valem o que valem
as histórias que conta.
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