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"HURRICANE - O FURACÃO" - CRÍTICA
Washington paira acima de filme maniqueísta
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
O drama anti-racista "Hurricane - O Furacão" tem sido criticado pelas razões erradas.
Sua estréia nos EUA, bem ao final do ano passado, foi acompanhada por inúmeras restrições à
excessiva liberdade tomada frente
a história real que procura contar,
a do pugilista negro Rubin "Hurricane" Carter, injustamente encarcerado por quase 20 anos devido a um duplo assassinato.
Carter foi preso em 1967, plena
primavera das contestações pró-igualdade de direitos nos EUA.
Inspirou passeatas e até uma canção clássica de Bob Dylan, presente na trilha do filme (leia texto ao
lado).
O veterano diretor Norman Jewison elegeu a saga de Carter para
encerrar sua trilogia sobre o racismo nos EUA (leia texto abaixo).
O trio rola ladeira abaixo. "No
Calor da Noite", Oscar de melhor
filme de 1967, é até hoje um eficiente drama policial sobre o choque entre um detetive negro (Sidney Poitier) e o xerife branco
(Rod Steiger) numa cidadela sulista. Algo supervalorizado, mas
eficiente, sobretudo devido à empatia de um Poitier no auge do carisma.
Quase duas décadas mais tarde,
Jewison repetia a fórmula em "A
História de um Soldado" (1984),
sobre uma investigação semelhante por um militar negro (Howard Rollins Jr.) numa base sulista durante a Segunda Guerra. O
esquematismo crescia na ordem
inversa da dramaticidade.
Eis agora este "Hurricane - O
Furacão".
A trama original era de longe a
mais rica do tríptico e Rubin Carter, um personagem com uma
complexidade de raro potencial
estético.
A grande traição de Jewison está
nas extraordinárias possibilidades da história original -e não na
mera verdade dos fatos.
Sim, "Hurricane" nos oculta
que Carter já tinha antecedentes
criminais antes da prisão do assassinato.
Certo, o roteiro minimiza o trabalho de seus advogados americanos, em favor da militância de
três canadenses de bom-coração.
OK, a estrutura do filme deve
mais a uma reportagem não-creditada da "Sports Ilustrated" que
aos livros citados como fontes oficiais, incluindo a autobiografia do
próprio Carter.
"Hurricane" transforma tudo
quase que num jogo de damas,
em que as peças pretas são as boas
e as brancas, as inimigas -exceto
quando auxiliam as negras.
Um filme programaticamente
anti-racista como que inverte a
equação -por exemplo na caricatura malévola de um policial
ítalo-americano que persegue
Carter (Dan Hedaya).
Reconheça-se, contudo, que
"Hurricane" tem sido elogiado
pela razão justa.
Denzel Washington paira acima
da mediocridade do filme num
desempenho eletrizante como
Rubin Carter. É convincente tanto como um jovem boxeador em
plena forma quanto como o precoce ancião forjado por décadas
de injustiça.
Nada que surpreenda em Washington, um dos intérpretes mais
completos a alugar seu talento
hoje para Hollywood.
Já detentor de um Oscar de
coadjuvante por "Tempo de Glória" (1989), tem agora sua terceira
chance de levar um estatueta na
categoria principal.
Estava melhor em "Um Grito de
Liberdade" (1987) e melhor ainda
no subestimado "Malcolm X"
(1992). Mas a Academia tem uma
lógica toda própria e sua vez parece ser agora. É menos do que ele
merece e muito mais do que
"Hurricane" deveria almejar.
Avaliação:
Filme: Hurricane - O Furacão (Hurricane)
Diretor: Norman Jewison
Produção: EUA, 1999
Com: Denzel Washington, Vicellous
Reon Shannon e Deborah Kara Unger
Quando: a partir de hoje, no Morumbi 1,
Studio Alvorada 2 e circuito
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