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DIRETOR ANTI-RACISTA
Trilogia de Jewison não ajuda a causa
especial para a Folha
Com perdão do trocadilho, é
mais que justo dizer que o cinema
do canadense Norman Jewison é
essencialmente atrelado à ação da
justiça sobre o homem.
Essa justiça às vezes é estampada como Justiça ("Justiça para Todos"), como moral institucionalizada ("Agnes de Deus"), como
vingança ("Rollerball") e mesmo
como divindade ("Jesus Cristo
Superstar"). Mas o que deveria
ser reto se entorta nos descaminhos da corrupção, do ódio e da
violência. Daí Jewison optar por
usar sua câmera no eldorado impossível, os Estados Unidos.
Mesmo com uma filmografia irregular, pode-se notar a condição
do negro em três obras que desmascaram a hipocrisia.
Numa pátria repleta de brancos
segregacionistas, os afro-americanos foram vítimas de todas as
formas de violência. Diferente daquela que faz a ascensão da carreira do lutador Hurricane, o boxe.
Violência maior será a dos policiais facínoras que vêem uma
chance de colocá-lo na prisão.
"No Calor da Noite" (67) é seu
filme mais famoso, apesar de "A
História de um Soldado" (84) ser
sua pequena obra-prima. "No Calor..." ganhou cinco Oscar, incluindo os de melhor filme e ator
(para Rod Steiger).
Steiger faz um truculentíssimo
delegado de uma cidadezinha sulista que, em princípio, teima na
culpa de um negro pego numa estação de trem (Sidney Poitier),
pois teria assassinado um milionário local. Mal sabe ele que o suspeito é um investigador, Tibbs,
em visita à cidade. A dupla ainda
terá de resolver o crime.
Já "A História de um Soldado"
mostra Howard E. Collins Jr. na
pele do capitão Davenport, um
oficial negro que chega à Lousiana, durante a Segunda Guerra
Mundial. Ele tenta investigar a
morte de um sargento negro
(Adolph Ceasar). Com o mesmo
porte altivo de Denzel Washington ("Hurricane - O Furacão") e
Poitier, esbarra na burocracia e
no receio da oficialidade local de o
assassino ser um branco.
Mas o resultado da trilogia do
racismo de Jewison peca em delimitar os conflitos. Ele lança ingenuamente a idéia de que os sulistas não toleram os negros enquanto, no norte, estes estão totalmente inseridos na sociedade.
Os blues, jazz, som de Bob Dylan e
o humor que pontuam essas
obras atenuam -nunca reforçam- a emergência de integração racial. O racismo parece coisa
do passado, já remoto.
Daí a preciosidade desta trilogia
estar no personagem Davenport,
em princípio, o que menos se importa com o preconceito que sofre, sempre aderindo ao deboche.
No final, ao saber que o assassino
não fora um branco, o espectador
pode notar suas lágrimas correndo o rosto, num choro contido
que junta revolta, desespero e militância. Esta é a pérola que falta
nos outros filmes de Jewison.
(PAULO SANTOS LIMA)
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