São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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Espetáculo delineia a "geração Sensation"

DA REPORTAGEM LOCAL

"É hora de voltar para o ateliê", diz a artista Rachel Whiteread. Lançada em meio ao grupo da Ybas, sigla da Young British Artists (jovens artistas britânicos), Whiteread alcançou, assim como seus colegas, prestígio internacional ascendente a partir do final dos anos 80.
Foi nesse período que o publicitário e colecionar Charles Saatchi passou a organizar uma série de exposições na Saatchi Gallery, em Londres, denominadas Ybas. Entre outros, o colecionador lançou nomes como Damien Hirst, Sarah Lucas, Tracey Emin, Ron Mueck e Chris Ofili elevando os preços de suas obras para valores raros em arte contemporânea. Uma tela de Hirst, por exemplo, denominada "Beauty in the Eye of the Beholder" (Beleza no olho do observador), chegou a ser arrematada por US$ 537 mil num leilão, há dois anos.
Em 1997, a notoriedade do grupo alcançou o topo graças à mostra "Sensation", exibida em Londres, Berlim e Nova York, onde gerou polêmica pois foi ameaçada de ser proibida pelo prefeito da cidade, por conta das imagens obscenas nos trabalhos de Ofili. Em Nova York, a mostra foi vista em 1999.
No geral, a também chamada "geração Sensation" marcou por apresentar trabalhos espetaculares, como nas vitrines com animais empalhados de Hirst ou nas esculturas hiper-realistas, mas com dimensões disformes, de Mueck. Mas Saatchi também foi criticado por vários artistas. Alguns, como o alemão Wolfgang Tillmans, se recusaram a vender obras para o colecionador pois, como publicitário da gestão Margareth Tatcher, ele representaria uma visão "marqueteira" na arte.
Whiteread é quase uma estranha nesse ninho. Suas obras não possuem o glamour espetacular dos colegas. "Meu trabalho não grita como o deles. Sou ambiciosa em minhas obras, mas não em meu comportamento", diz a artista. É comum que curadores ingleses apontem para a "geração Sensation" um comportamento de "rock star".
Em São Paulo, no ano passado, parte dessa geração foi vista na exposição "A Bigger Splash", realizada na Oca, a partir do acervo da Tate Gallery, de Londres. As curadoras da mostra preferiram retirar o caráter espetacular dos Ybas, mostrando obras menos polêmicas, assumindo uma crítica à marca imposta por Saatchi ao grupo. Whiteread participou, então, com três trabalhos.
Com a fama e o sucesso, especialmente financeiro, as obras dos Ybas passaram a ter dimensões cada vez maiores. Foi o caso de Mueck que, na Bienal de Veneza de 2000, apresentou a escultura "Boy", um rapaz agachado, com cinco metros de altura. Whiteread também partiu para trabalhos em grandes dimensões, como suas obras públicas. "Depois de tudo isso, creio que agora é o momento de trabalhos em tamanhos menores, de pesquisar novamente no ateliê. É o que estou fazendo", conta a artista. (FC)


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