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ARTES
Exposição grátis promove olhar sobre táticas da mulher a partir do séc. 19
Mostra vasculha os desafios da sedução feminina
DA REPORTAGEM LOCAL
Do uso do espartilho à moda
dos seios turbinados com silicone
lá se vão quase cem anos. Mudam-se as técnicas, mas o corpo
da mulher parece padecer, ou
não, por conta dos aparatos que
melhor funcionam para uma arma considerada tipicamente feminina: a sedução.
É em torno dessa questão que a
curadora Denise Mattar organiza
a mostra "O Preço da Sedução
- Do Espartilho ao Silicone", que
será inaugurada, hoje, no Itaú
Cultural, com cenografia de Guilherme Isnard.
"A moda criar o próprio corpo
da mulher é uma questão do momento. Com essa exposição, busco retratar um comportamento
que se insere em tudo, até mesmo
na arte. Como essa é minha área
de atuação, as obras de arte são as
estrelas", diz Mattar, durante a
montagem da mostra.
Para tanto, a curadora apresenta cerca de 120 telas realizadas nos
últimos cem anos, em meio a objetos, vestidos e filmes, representativos de cada período -a exposição é dividida em sete módulos
espalhados em três andares do
Itaú. Frases publicitárias dispostas num túnel vermelho de cetim
pontuam a mostra, na escada que
une os três pisos.
Além disso, uma pequena sala
de cinema foi criada para apresentar as divas de Hollywood, numa seleção do crítico de cinema
Rubens Ewald Filho, a partir do
anos 20.
Módulos
O primeiro módulo, "O Espartilho e Outras Formas de Tortura",
é marcado por artistas acadêmicos que retrataram o ideal feminino em fins do século 19 e começo
do 20. A exceção é a tela "Chapéu
Azul", de Tarsila do Amaral.
"Apesar de ela estar um pouco
deslocada entre os acadêmicos,
procurei mostrar que a postura da
mulher que ela retrata é a mesma
que encontramos nas outras
obras desse módulo", diz Mattar.
Já em "Os Anos Loucos", a mostra segue com o furor modernista
do início do século, marcado pela
própria Tarsila, além de Lasar Segall, Vicente do Rego Monteiro e
Ismael Nery, entre outros.
Nery, aliás, está presente com
"Mulher Sentada com Ramo de
Flores" (1927), obra que raramente é exposta. "Neste módulo, a representação da mulher ganha
contornos longilíneos, pois nessa
época era comum se achatar o
peito", afirma Mattar.
"A Volta à Ordem" reflete o período 1930-1945, quando o espartilho é de fato abolido. "Por conta
das guerras mundiais, a mulher
precisa de fato trabalhar e, por isso, precisa de mais agilidade",
conta a curadora. Esse despojamento é visto em obras de Paulo
Rossi, Anita Malfatti e Guignard,
entre outros.
Em "Os Anos Dourados", o glamour é a maior característica nos
retratos pintados por Flávio de
Carvalho e Sanson Flexor, além
das esculturas surrealistas de Maria Martins, uma especialista,
aliás, na arte da sedução, por conta de seu envolvimento com Marcel Duchamp.
Idealizações
Até então, a mostra apresenta,
por meio das pinturas, imagens
idealizadas da mulher. "É só ver
as obras para perceber como era a
mulher do período", conta Mattar. Críticas e ironias a essa idealização só vão ocorrer em obras dos
anos 60, no módulo "Os Anos Rebeldes", em trabalhos de Lygia
Pape e Ubirajara Ribeiro. Mas a
idealização também não está ausente, especialmente nas obras
pop de Claudio Tozzi e Rubens
Gerchman.
Em "O Culto ao Corpo", Mattar
usa de licença poética para apresentar uma série de fotos de Madalena Schwartz com travestis como tema.
"É nos anos 80, retratados nesse
módulo, que tem início a valorização do corpo", diz a curadora,
que usa uma tela de João Câmara,
uma mulher retratada ao lado de
um peixão, como símbolo do período.
As críticas ficam mais ácidas, de
fato, no último módulo da mostra, "A Era do Silicone", especialmente no vestido confeccionado
com giletes, de Nazareth Pacheco,
e na escultura "O Corpo Ausente", de Felix Bressan, uma estrutura em ferro e látex, onde os bustos
são marcados por espinhos. Afinal, bons exemplos desse percurso que mistura dor e prazer.
(FABIO CYPRIANO)
O PREÇO DA SEDUÇÃO - DO
ESPARTILHO AO SILICONE. Mostra
sobre o ideal de beleza feminino, a partir
do fim do séc. 19, por meio da moda,
publicidade, cinema e 130 obras de arte.
Curadoria: Denise Mattar. Onde: Itaú
Cultural (av. Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/
11/3268-1776). Quando: abertura hoje,
às 19h30 (para convidados); de ter. a
sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 10h
às 19h. Até 30/5. Quanto: entrada franca.
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