São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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ARTES

Exposição grátis promove olhar sobre táticas da mulher a partir do séc. 19

Mostra vasculha os desafios da sedução feminina

DA REPORTAGEM LOCAL

Do uso do espartilho à moda dos seios turbinados com silicone lá se vão quase cem anos. Mudam-se as técnicas, mas o corpo da mulher parece padecer, ou não, por conta dos aparatos que melhor funcionam para uma arma considerada tipicamente feminina: a sedução.
É em torno dessa questão que a curadora Denise Mattar organiza a mostra "O Preço da Sedução - Do Espartilho ao Silicone", que será inaugurada, hoje, no Itaú Cultural, com cenografia de Guilherme Isnard.
"A moda criar o próprio corpo da mulher é uma questão do momento. Com essa exposição, busco retratar um comportamento que se insere em tudo, até mesmo na arte. Como essa é minha área de atuação, as obras de arte são as estrelas", diz Mattar, durante a montagem da mostra.
Para tanto, a curadora apresenta cerca de 120 telas realizadas nos últimos cem anos, em meio a objetos, vestidos e filmes, representativos de cada período -a exposição é dividida em sete módulos espalhados em três andares do Itaú. Frases publicitárias dispostas num túnel vermelho de cetim pontuam a mostra, na escada que une os três pisos.
Além disso, uma pequena sala de cinema foi criada para apresentar as divas de Hollywood, numa seleção do crítico de cinema Rubens Ewald Filho, a partir do anos 20.

Módulos
O primeiro módulo, "O Espartilho e Outras Formas de Tortura", é marcado por artistas acadêmicos que retrataram o ideal feminino em fins do século 19 e começo do 20. A exceção é a tela "Chapéu Azul", de Tarsila do Amaral.
"Apesar de ela estar um pouco deslocada entre os acadêmicos, procurei mostrar que a postura da mulher que ela retrata é a mesma que encontramos nas outras obras desse módulo", diz Mattar.
Já em "Os Anos Loucos", a mostra segue com o furor modernista do início do século, marcado pela própria Tarsila, além de Lasar Segall, Vicente do Rego Monteiro e Ismael Nery, entre outros.
Nery, aliás, está presente com "Mulher Sentada com Ramo de Flores" (1927), obra que raramente é exposta. "Neste módulo, a representação da mulher ganha contornos longilíneos, pois nessa época era comum se achatar o peito", afirma Mattar.
"A Volta à Ordem" reflete o período 1930-1945, quando o espartilho é de fato abolido. "Por conta das guerras mundiais, a mulher precisa de fato trabalhar e, por isso, precisa de mais agilidade", conta a curadora. Esse despojamento é visto em obras de Paulo Rossi, Anita Malfatti e Guignard, entre outros.
Em "Os Anos Dourados", o glamour é a maior característica nos retratos pintados por Flávio de Carvalho e Sanson Flexor, além das esculturas surrealistas de Maria Martins, uma especialista, aliás, na arte da sedução, por conta de seu envolvimento com Marcel Duchamp.

Idealizações
Até então, a mostra apresenta, por meio das pinturas, imagens idealizadas da mulher. "É só ver as obras para perceber como era a mulher do período", conta Mattar. Críticas e ironias a essa idealização só vão ocorrer em obras dos anos 60, no módulo "Os Anos Rebeldes", em trabalhos de Lygia Pape e Ubirajara Ribeiro. Mas a idealização também não está ausente, especialmente nas obras pop de Claudio Tozzi e Rubens Gerchman.
Em "O Culto ao Corpo", Mattar usa de licença poética para apresentar uma série de fotos de Madalena Schwartz com travestis como tema.
"É nos anos 80, retratados nesse módulo, que tem início a valorização do corpo", diz a curadora, que usa uma tela de João Câmara, uma mulher retratada ao lado de um peixão, como símbolo do período.
As críticas ficam mais ácidas, de fato, no último módulo da mostra, "A Era do Silicone", especialmente no vestido confeccionado com giletes, de Nazareth Pacheco, e na escultura "O Corpo Ausente", de Felix Bressan, uma estrutura em ferro e látex, onde os bustos são marcados por espinhos. Afinal, bons exemplos desse percurso que mistura dor e prazer.
(FABIO CYPRIANO)


O PREÇO DA SEDUÇÃO - DO ESPARTILHO AO SILICONE. Mostra sobre o ideal de beleza feminino, a partir do fim do séc. 19, por meio da moda, publicidade, cinema e 130 obras de arte. Curadoria: Denise Mattar. Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/ 11/3268-1776). Quando: abertura hoje, às 19h30 (para convidados); de ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 19h. Até 30/5. Quanto: entrada franca.


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