São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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"Atuo para explorar minha relação com o universo"

Forest Whitaker fala à Folha sobre seu novo filme, "Ponto de Vista", e o poder da meditação

Ator, que vive turista em thriller sobre atentado a presidente, elogia Alice Braga, com quem atua em "Repossession Mambo"

LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A SANTA MONICA

Na suíte de um hotel em Santa Monica, na Grande Los Angeles, oito jornalistas estrangeiros acotovelam-se pela atenção dos atores do thriller "Ponto de Vista" (em cartaz no Brasil desde sexta), que, um após o outro, encaram sabatinas de 15 minutos cronometrados.
Para aflição da reportagem da Folha, os colegas de Dinamarca, Bélgica, Hong Kong e latitudes afins se interessam mais por amenidades da vida pessoal de Whitaker, Matthew Fox e Dennis Quaid do que pelo filme (que narra um atentado contra o presidente dos EUA pelos olhos de oito testemunhas): "que tipo de pai você é?", "você anda malhando pesado, não é?" e "já havia estado na Cidade do México [que fez as vezes da espanhola Salamanca] antes das filmagens?" são algumas das indagações.
Daí o espanto quando a melhor fala de Whitaker vem em resposta a um "onde comprou este bracelete [de bolinhas marrom-escuro, que ele usa no punho esquerdo]?":
"Em Toronto. É parte do meu caminho, acho. Sou agnóstico, creio em religiões aborígenes tradicionais e saúdo, em minhas meditações, a Terra e os elementos. Meu trabalho é só uma desculpa para seguir explorando minha relação com Deus e o universo. É só uma oportunidade de ver se ainda tenho aquela faísca dentro de mim ou se entendo a faísca em você. Cada personagem é uma chance de sondar minha conexão com aquela pessoa".
E não foi difícil achar a ligação com Idi Amin Dada (1925-2003), o sanguinário ditador ugandense que encarnou em "O Último Rei da Escócia" -em atuação premiada com o Oscar? "Sim, trabalhei muito.
Foi aí que realmente entendi a meditação: uma coisa é se concentrar por um tempo, outra é meditar continuamente até que sua vibração mude, até o ponto em que você desapareça dentro da energia de outrem."

Turista acidental
Mas voltemos a "Ponto de Vista", o filme que, apesar da recepção fria da crítica norte-americana, faturou US$ 51,5 milhões (R$ 87,2 mi) nas três primeiras semanas de exibição.
Nele, Whitaker vive Howard Lewis, turista de passagem por Salamanca (Espanha) cuja câmera amadora se torna peça-chave na investigação do ataque ao líder norte-americano.
"É um sujeito recém-divorciado, perdido, tentando achar uma paixão e reaprender a viver. De repente, ele se vê numa situação extraordinária e percebe quem de fato é: o cara que, pelo menos, vai tentar ajudar", descreve o ator.
"Ponto de Vista" foi rodado em 2006, antes de Whitaker receber a estatueta dourada das mãos de Reese Witherspoon.
Aumentou o interesse de diretores por seu passe desde então? "Sim, agora há muito mais projetos." Acompanhados por cheques polpudos? "Espero que venham", desconversa.
Na seqüência, aparecerá ao lado de Keanu Reeves no policial "Street Kings", dividirá a cena com Patrick Swayze no indie "Powder Blue" e, mais à frente, perseguirá Alice Braga na ficção científica "Repossession Mambo", ambientada num futuro em que órgãos humanos artificiais são livremente comercializados.
"Alice é uma pessoa muito poderosa, espiritualizada, uma artista interessante", elogia o ator. "Mas devo dizer: a certa altura do filme, deixo-a inconsciente de tanta paulada."


O jornalista LUCAS NEVES viajou a convite da Sony

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