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"Atuo para explorar minha relação com o universo"
Forest Whitaker fala à Folha sobre seu novo filme, "Ponto de Vista", e o poder da meditação
Ator, que vive turista em thriller sobre atentado a presidente, elogia Alice Braga, com quem atua em "Repossession Mambo"
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A SANTA MONICA
Na suíte de um hotel em Santa Monica, na Grande Los Angeles, oito jornalistas estrangeiros acotovelam-se pela atenção dos atores do thriller "Ponto de Vista" (em cartaz no Brasil desde sexta), que, um após o
outro, encaram sabatinas de 15
minutos cronometrados.
Para aflição da reportagem
da Folha, os colegas de Dinamarca, Bélgica, Hong Kong e
latitudes afins se interessam
mais por amenidades da vida
pessoal de Whitaker, Matthew
Fox e Dennis Quaid do que pelo filme (que narra um atentado contra o presidente dos
EUA pelos olhos de oito testemunhas): "que tipo de pai você
é?", "você anda malhando pesado, não é?" e "já havia estado
na Cidade do México [que fez
as vezes da espanhola Salamanca] antes das filmagens?"
são algumas das indagações.
Daí o espanto quando a melhor fala de Whitaker vem em
resposta a um "onde comprou
este bracelete [de bolinhas
marrom-escuro, que ele usa no
punho esquerdo]?":
"Em Toronto. É parte do
meu caminho, acho. Sou agnóstico, creio em religiões aborígenes tradicionais e saúdo,
em minhas meditações, a Terra
e os elementos. Meu trabalho é
só uma desculpa para seguir
explorando minha relação com
Deus e o universo. É só uma
oportunidade de ver se ainda
tenho aquela faísca dentro de
mim ou se entendo a faísca em
você. Cada personagem é uma
chance de sondar minha conexão com aquela pessoa".
E não foi difícil achar a ligação com Idi Amin Dada (1925-2003), o sanguinário ditador
ugandense que encarnou em
"O Último Rei da Escócia"
-em atuação premiada com o
Oscar? "Sim, trabalhei muito.
Foi aí que realmente entendi a
meditação: uma coisa é se concentrar por um tempo, outra é
meditar continuamente até
que sua vibração mude, até o
ponto em que você desapareça
dentro da energia de outrem."
Turista acidental
Mas voltemos a "Ponto de
Vista", o filme que, apesar da
recepção fria da crítica norte-americana, faturou US$ 51,5
milhões (R$ 87,2 mi) nas três
primeiras semanas de exibição.
Nele, Whitaker vive Howard
Lewis, turista de passagem por
Salamanca (Espanha) cuja câmera amadora se torna peça-chave na investigação do ataque ao líder norte-americano.
"É um sujeito recém-divorciado, perdido, tentando achar
uma paixão e reaprender a viver. De repente, ele se vê numa
situação extraordinária e percebe quem de fato é: o cara que,
pelo menos, vai tentar ajudar",
descreve o ator.
"Ponto de Vista" foi rodado
em 2006, antes de Whitaker receber a estatueta dourada das
mãos de Reese Witherspoon.
Aumentou o interesse de diretores por seu passe desde então? "Sim, agora há muito mais
projetos." Acompanhados por
cheques polpudos? "Espero
que venham", desconversa.
Na seqüência, aparecerá ao
lado de Keanu Reeves no policial "Street Kings", dividirá a
cena com Patrick Swayze no indie "Powder Blue" e, mais à
frente, perseguirá Alice Braga
na ficção científica "Repossession Mambo", ambientada
num futuro em que órgãos humanos artificiais são livremente comercializados.
"Alice é uma pessoa muito
poderosa, espiritualizada, uma
artista interessante", elogia o
ator. "Mas devo dizer: a certa
altura do filme, deixo-a inconsciente de tanta paulada."
O jornalista LUCAS NEVES viajou a convite da
Sony
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