especial para a Folha

O último CD de Nelson Freire ajuda a elucidar o relacionamento de um dos maiores ídolos do pianista mineiro, o polonês Arthur Rubinstein, com Villa-Lobos.
Gravado em 73, "Nelson Freire Interpreta Villa-Lobos" está sendo relançado pela Teldec.
Um dos maiores virtuoses do século, Rubinstein (1887-1982) teve papel fundamental na divulgação da obra de Villa-Lobos. Estreou quatro das oito peças que compõem a "Prole do Bebê nş 1" -que abre o disco- no Rio e as levou em seus recitais no mundo todo.
A obra é um conjunto de miniaturas deliciosas, descrevendo bonecas, que tratam temas infantis, como "Dorme, Nenê" e "Ciranda, Cirandinha" com sofisticação.
Entusiasmado com Rubinstein, Villa-Lobos consumiu cinco anos (1921-26) para produzir o "Rudepoema", obra de cerca de 18 minutos de duração, que fecha o CD, e pretendia ser o retrato musical de seu amigo polonês. Rubinstein, que estreou a obra em Paris, em 1927, não demonstrou pelo "Rudepoema" o mesmo entusiasmo que pela "Prole do Bebê".
Mas de se lamentar mesmo, após ouvir o disco, é que Nelson Freire tenha dado ouvidos aos conselhos que lhe foram proferidos por Rubinstein e jamais interpretado o "Rudepoema" em público.
A "Prole" é uma audição saborosa; mas o "Rudepoema", com seus saltos de três oitavas, sua textura densa e seus "ostinati" é de um virtuosismo acessível a um grupo muito pequeno de pianistas, do qual Nelson Freire faz parte.
Mas é possível que Freire, com seu caráter manso e retraído, tenha se assustado também com a essência da peça.
Talvez por isso o "Rudepoema" ainda não tenha ganho seu devido lugar na sala de concertos: fascina os intérpretes pela dificuldade técnica, mas afugenta pelo caráter vulcânico. Afinal, a personalidade ali retratada, avassaladora, apaixonante e contraditória, no final das contas, não é a de nenhum pianista, mas a de seu autor, o próprio Villa-Lobos. (IFP)
Disco: Nelson Freire interpreta Villa-Lobos
Pianista: Nelson Freire Lançamento: Teldec Quanto: R$ 18, em média



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