São Paulo, terça, 17 de março de 1998

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MÚSICA
Reconhecendo que seu público mal o identifica como guitarrista, músico estréia hoje semana de shows no Palace
George Benson testa babas em SP

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

O guitarrista de jazz-pop George Benson -ele prefere o epíteto músico romântico- vem esta semana ao Brasil pela quarta vez. Faz três shows a partir de hoje no Palace e no sábado estará no Metropolitan, Rio. Exímio instrumentista, alcançou as multidões (e os estimados 40 milhões de discos vendidos) ao abraçar o pop e colocar sua voz a serviço de hits como "On Broadway", "Give me the Night" e "Love X Love". Traz para as apresentações brasileiras "músicas que as pessoas conhecem", como diz, algumas canções de "That's Right", seu (ruim) disco de 96, e promete ainda apresentar inéditas de um novo álbum (outra vez romântico, "muito melódico"), que deve chegar às lojas dos EUA em junho. Benson falou por telefone de sua casa, em Nova Jérsei, à Folha.

Folha - O sr. está cada vez mais distante do início de sua carreira, quando tocava com músicos de jazz. Não sente saudades?
George Benson -
Quando eu faço um disco de jazz (como "Tenderly", com o pianista McCoy Tyner), eu não vendo nada. Meu público, que conhece músicas como "On Broadway", acha que eu sou um cantor, mal sabe que toco guitarra. O mundo não pára, e nós estamos vendo vários excelentes músicos que tiveram seus contratos cancelados, porque não vendem mais que 10 mil, 20 mil cópias. A indústria precisa de grandes números hoje.
Folha - Saber que seus fãs não o reconhecem como guitarrista não o incomoda?
Benson -
O importante é conseguir a comunicação com o público. Pratiquei guitarra por toda a minha vida, e acho que ainda tenho coisas interessantes para falar por meio dela. Se você ouvir "That's Right", irá ouvir sons que não aparecem em outros guitarristas. Talvez por essa razão guitarristas venham ao meu show.
Folha - O sr. está mais romântico do que nunca em "That's Right"...
Benson -
Minha primeira prioridade é comunicar. Além disso, sou uma pessoa romântica, sou casado há 32 anos, tenho sete filhos -embora tenha perdido três meninos. Acho importante expressar para o publico o que eu sinto. A música romântica faz as pessoas encontrarem o equilíbrio certo. "This Masquerade" por exemplo, é muito importante em meu repertório.
Folha - O sr. contou, em seu último disco, com um expoente do acid-jazz, Bluey, do Incognito. Pretende continuar trabalhando com ele?
Benson -
Ele não está no meu novo disco, que sairá em junho, mas ainda tenho várias músicas que fizemos juntos que não foram gravadas em "That's Right". Eu fiz com ele muitos vocais, mas usamos só duas faixas. Meu produtor, Tommy LiPuma, queria algumas faixas instrumentais no disco. O resultado é que meu CD soa bastante instrumental, não apenas ressaltando a guitarra.
Folha - O sr. já gravou Ivan Lins e conhece bem música brasileira. Algum convidado especial em seus shows brasileiros?
Benson -
Não falei com ninguém sobre isso, mas sempre deixo a porta aberta. Gosto muito da música brasileira, é romantica, rítmica. O nível técnico dos músicos brasileiros é muito alto. Recentemente, andei excursionando com Luiz Bonfá. Foi bastante excitante.
Folha - Ídolos de seu começo de carreira como Hank Garland, Wes Montgomery ou Charlie Christian ainda têm significado para o sr.?
Benson -
Penso que são os melhores músicos que ouvi em minha vida. Se eu amo um compositor, amo-o para sempre. Amarei sempre o modo como esses guitarristas tocavam, assim como Django Reinhardt e Kenny Burrel. Mas eu também amo cantores, como Djavan, que me lembra Nat King Cole, é um Cole nascido no Brasil. É meu tipo de cantor.
Folha - Por que a homenagem a Marvin Gaye em seu último disco?
Benson -
Éramos amigos. Ele era uma pessoa bastante incomum. Muito criativo, grande letrista, um cantor excelente e também ótimo músico. Ele foi um dos professores de bateria do Stevie Wonder. Eu tinha essa música, "Marvin Said", na minha cabeça há anos.
Folha - Como foi gravar nos estúdios do Prince, em Minneapolis?
É o mais incomum e excitante lugar para gravar. Prince foi um grande anfitrião, nos tratou como reis. Dei-lhe de presente uma de minhas guitarras Ibanez GB. Ele adorou, disse que vai usá-la em seus shows.

Show: George Benson Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, Moema, tel. 011/531-4900) Quando: de hoje a quinta, 21h30 Quanto: R$ 55 a R$ 155 (ingressos em domicílio, tels. 011/5589-8202, 011/867-8687 e 011/211-2098)



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