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CD alenta ao suprimir vulgaridade baiana
da Reportagem Local
"Eletro Ben
Dodô" é um
disco de pop
planetário
vindo da Bahia, o que por
si já é fato bastante incomum.
Não chega a ser tão inovador
como quer seu autor, muito
porque é de contato e referência íntimos com discos dos
anos 90 de Gilberto Gil -"Parabolicamará" (92), "Tropicália 2" (93, em parceria com
Caetano) e "Unplugged MTV"
(94) notadamente.
Se parece obra de um Gil festeiro e rejuvenescido (e nisso
muito mais influenciável/influenciado do que inovador), é
ainda assim produto de pesquisa e recombinação intensas,
consistentes.
"Deixe o Sol Bater" vem em
voz dolente e percussão modernizada, sem supremacia de
ideologia de bloco. "Inho,
Inho" sofre da letra gutural
("vou dizer que sou mainha/
vou comer de mão/ inho inho",
hein?), mas se destaca ao estender a percussão à voz, em divertidos efeitos vocais.
Do mesmo quilate é "Domingo no Candeal", que evoca o
quase contemporâneo Carlinhos Brown em letra de nada
("look de lupa e timbau/ tênis
Reebok de relógio shock") e
mais vocalizações percussivas.
O panorama afropop percussivo ganha, em "De Coletivo ou
de Metrô", contornos sintéticos/sintetizados, pelo pandeiro
de Marcos Suzano (a citação
musical a "Sarará Miolo", 79,
de Gil, reitera a admiração).
"Itapuã @no 2000" é aquela
que Daniela Mercury acaba de
gravar, de levada funk carioca,
que imita, "baianizando" e sem
muita inventividade, o "Rio, 40
Graus" de Fausto Fawcett, ídolo confesso de Lucas -esperta
opção, insuficiente realização.
No setor antropofágico, à
"Tropicália 2", há "Doin" in the
Death", de James Brown, tornado baiano em arranjo aquático, e "Mensagem de Amor",
de Herbert Vianna, tornada
bossa nova sobre bumbo.
Este é Lucas Santtana, artista
baiano novo não vulgar e com
um olho no futuro. Num cenário tedioso de supremacia -já
reparou que neste ano quase só
têm saído discos baianos no
Brasil?-, não deixa de ser um
alento.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Eletro Ben Dodô
Artista: Lucas Santtana
Lançamento: Natasha
Quanto: R$ 20, em média
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