São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2001

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Joey Ramone, líder do grupo norte-americano Ramones, morreu de câncer em NY

Adiós, amigos

O rock perde um dos pioneiros do punk, exatamente quando o movimento completa 25 anos

Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
Joey Ramone, vocalista da banda Ramones, durante show do grupo em SP, em 1994


LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A legião mundial de roqueiros com espírito de Beavis e Butt-Head deve estar inconsolável com a morte anteontem, em Nova York, de Joey Ramone, o lendário vocalista e líder dos Ramones, banda pioneira do punk rock.
Mike Judge, o criador do desbocado desenho da MTV, disse certa vez que, se seus peraltas personagens representassem uma banda, pela irreverência e atitude rock'n'roll, essa não seria nem o AC/DC nem o Metallica, que estão em suas camisetas. Mas sim os Ramones de Joey.
Se o punk rock é considerado a revolução mais profunda da música jovem em todos os tempos, então a perda de Joey Ramone, à beira de seus 49 anos, é irreparável.
A discussão aqui não é apontar quem começou o punk rock, se foi o Ramones na América ou os Sex Pistols na Inglaterra.
A verdade é que desde que o vinil "Ramones" chegou às lojas, em 1976, com 14 músicas toscas de apenas três acordes em um álbum que não durava meia hora, milhares de jovens se sentiram incentivados a formarem sua própria banda. Dos próprios Pistols ao Green Day. Da década de 70 até hoje.
Com canções rápidas, sujas, porém pegajosas, de letras simplórias e nenhum solo de guitarra, a banda, que tem certidão de nascimento registrada em Forest Hills, na Nova York de 1974, nasceu como uma resposta rebelde ao rock ultraproduzido e pretensioso da época, uma espécie de câncer para a música jovem não muito diferente do câncer linfático que agora leva Joey Ramone.
Os Ramones são consequência da gestação sonora que percorria a cena underground nova-iorquina desde o final dos anos 60, sobras da era psicodélica comandada então por grupos como The Stooges, Television e New York Dolls.
O grupo era Joey no vocal, Johnny na guitarra, Dee Dee no baixo e Tommy na bateria. Instaurada a família, todos os integrantes iriam adotar o mesmo sobrenome: Ramone, que vem de Ramon, alcunha usada por Paul McCartney no comecinho dos Beatles.
O disco homônimo, o da estréia, saiu no começo de 1976, mas foi estourar na Inglaterra, que estava "mais organizada" para a explosão do punk rock.
Quando "Rocket to Russia", de 1977, chegou na terra dos Pistols, então, o rock estava salvo. E a garotada já inundava clubes vestida de jeans surrados, camiseta e jaqueta de couro preta, para dançar "Sheena Is a Punk Rocker".
Ao Brasil, os Ramones vieram quatro vezes: 1987, 1991, 1994 e a última em 1996, na turnê de despedida, do álbum "Adios Amigos", título que inspirou o desta página.
O site oficial do grupo, www.officialramones.com, foi o primeiro a dar a notícia da morte de Joey, no domingo.
Na homepage, depois da triste nota, o site lembrava Joey pela frase: "Life's a gas, life's a gas. So don't be sad 'cause I'll be there" (A vida é uma loucura. Não fique triste porque eu estarei lá), que Joey escreveu na música "Life's a Gas", do álbum "Adios Amigos", o derradeiro.
Ontem, sua mãe afirmou que o roqueiro, cercado da família e de amigos, morreu dormindo, enquanto a canção "In a Little While", do U2 (do CD "All That You Can't Leave Behind") tocava no quarto do hospital.
O punk em particular, que neste ano completa seus 25 anos, e o rock em geral vão sentir muita falta de Joey Ramone.
Além do já dito, a importância de Joey e de sua histórica banda pode ser medida por dois fatos: o grupo inglês The Clash decidiu formar a banda depois de sair de um show dos Ramones na Inglaterra.
E o grupo nova-iorquino foi homenageado em um episódio do desenho "Simpsons".
Dois acontecimentos que muita banda de rock daria a vida para ter a honra de proporcionar.
Gabba Gabba Hey!



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