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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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TEATRO

Peça do pernambucano Romero de Andrade Lima que narra os passos de Cristo completa dez anos

"Auto da Paixão" segue a procissão

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma década de profanação e sagração do teatro, das artes plásticas, da música e da fé irremovível na cultura popular.
O projeto "Auto da Paixão: 12 Cânticos de Amor e Morte" completa dez anos em maio próximo. Antes, esta Sexta-Feira da Paixão é convertida em data perfeita para a celebração. Acontecem duas apresentações gratuitas, amanhã e sábado, no Itaú Cultural, em São Paulo, cidade onde tudo começou.
O espetáculo concebido pelo artista plástico pernambucano Romero de Andrade Lima nasceu para ambientar uma exposição de esculturas suas na galeria Renato Magalhães Gouvêa, então num casarão dos Jardins.
Era também um mote para vender as peças, oratórios (nichos ou armários com imagens religiosas) com acabamentos em papel machê, gesso ou argila que reproduzem os passos de Cristo, da anunciação à ressurreição.
Não demorou muito, abortaram-se as vendas e a procissão cênica e visual de Lima chegou ao Brincante, espaço de Antonio Nóbrega. Dali, irradiou para becos, praças ou barracões de outros Estados ou países (Itália, França e Portugal).
O espetáculo mantém praticamente o elenco original da cia. Circo Branco - As Pastorinhas.
São cânticos e encenações em torno de 12 esculturas, à moda da procissão dos passos de Cristo, tradicional no Brasil (Olinda, por exemplo) e na Europa.
Reisados e pastoris, a maioria recolhida de domínio popular, acentuam o espírito das festas religiosas nordestinas. Entre as toadas, estão "Menino Jesus da Lapa", "Rei Herodes" e "Pregação de São João Batista".
"Auto da Paixão" surpreende ainda ao reunir, por tanto tempo, artistas de outras áreas.
Edna Aguiar leva sua banda Tia Margarida; Lígia Veiga dirige a Grande Cia. Brasileira de Mysterios e Novidades, no Rio; Miriam Maria segue carreira solo como cantora; Mônica Nassif vem de atuação no filme "Lavoura Arcaica"; Renata Mattar é pesquisadora musical; Simone Soul é percussionista das mais requisitadas (Zeca Baleiro, Chico César, Zélia Duncan); Nina Blauth tocou com Martinho da Vila; e Tata Fernandes cantou há pouco com Gero Camilo em "A Procissão".
Maria Cristina Marconi Foquinha faz figurinos; Tina Simão, adereços; enfim, As Pastorinhas se completa com Lelena Anhaia, Simone Julian e Rita Martins, esta temporariamente afastada para dar à luz. Há ainda Raul Barretto, membro dos Parlapatões que, aqui, reveza com Gustavo Machado o papel de narrador.
Com esse mesmo time, Lima montou peças como "Bandeira da Divina Graça" (93), "Malo" (94) e "Presépio da Paz" (2001).
O encenador segue trabalhando em seu ateliê, em Recife, dedicando-se à pintura e à escultura, mas também ao teatro. Quer montar em uma Kombi "História do Amor de Romeu e Julieta", folheto de cordel adaptado por Ariano Suassuna, seu tio.
Tem planos também para um "Auto de São Gonçalo", o criador do bumba-meu-boi, segundo a crença popular, num exercício de metalinguagem teatral com "o cenário estendido na rua".


AUTO DA PAIXÃO: 12 CÂNTICOS DE AMOR E MORTE. Texto e direção: Romero de Andrade Lima. Com: cia. Circo Branco - As Pastorinhas. Onde: r. Leôncio de Carvalho, ao lado do Itaú Cultural (av. Paulista, 149, Bela Vista, região central, SP, tel. 0/xx/11/3268-1777). Quando: amanhã e sáb., às 19h30. Quanto: entrada franca.


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