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TEATRO
Peça do pernambucano Romero de Andrade Lima que narra os passos de Cristo completa dez anos
"Auto da Paixão" segue a procissão
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma década de profanação e sagração do teatro, das artes plásticas, da música e da fé irremovível
na cultura popular.
O projeto "Auto da Paixão: 12
Cânticos de Amor e Morte" completa dez anos em maio próximo.
Antes, esta Sexta-Feira da Paixão
é convertida em data perfeita para
a celebração. Acontecem duas
apresentações gratuitas, amanhã
e sábado, no Itaú Cultural, em São
Paulo, cidade onde tudo começou.
O espetáculo concebido pelo artista plástico pernambucano Romero de Andrade Lima nasceu para ambientar uma exposição de
esculturas suas na galeria Renato
Magalhães Gouvêa, então num
casarão dos Jardins.
Era também um mote para vender as peças, oratórios (nichos ou
armários com imagens religiosas)
com acabamentos em papel machê, gesso ou argila que reproduzem os passos de Cristo, da anunciação à ressurreição.
Não demorou muito, abortaram-se as vendas e a procissão cênica e visual de Lima chegou ao Brincante, espaço de Antonio Nóbrega. Dali, irradiou para becos,
praças ou barracões de outros Estados ou países (Itália, França e
Portugal).
O espetáculo mantém praticamente o elenco original da cia.
Circo Branco - As Pastorinhas.
São cânticos e encenações em
torno de 12 esculturas, à moda da
procissão dos passos de Cristo,
tradicional no Brasil (Olinda, por
exemplo) e na Europa.
Reisados e pastoris, a maioria
recolhida de domínio popular,
acentuam o espírito das festas religiosas nordestinas. Entre as toadas, estão "Menino Jesus da Lapa", "Rei Herodes" e "Pregação
de São João Batista".
"Auto da Paixão" surpreende
ainda ao reunir, por tanto tempo,
artistas de outras áreas.
Edna Aguiar leva sua banda Tia
Margarida; Lígia Veiga dirige a
Grande Cia. Brasileira de Mysterios e Novidades, no Rio; Miriam
Maria segue carreira solo como
cantora; Mônica Nassif vem de
atuação no filme "Lavoura Arcaica"; Renata Mattar é pesquisadora musical; Simone Soul é percussionista das mais requisitadas
(Zeca Baleiro, Chico César, Zélia
Duncan); Nina Blauth tocou com
Martinho da Vila; e Tata Fernandes cantou há pouco com Gero
Camilo em "A Procissão".
Maria Cristina Marconi Foquinha faz figurinos; Tina Simão,
adereços; enfim, As Pastorinhas
se completa com Lelena Anhaia,
Simone Julian e Rita Martins, esta
temporariamente afastada para
dar à luz. Há ainda Raul Barretto,
membro dos Parlapatões que,
aqui, reveza com Gustavo Machado o papel de narrador.
Com esse mesmo time, Lima
montou peças como "Bandeira da
Divina Graça" (93), "Malo" (94) e
"Presépio da Paz" (2001).
O encenador segue trabalhando
em seu ateliê, em Recife, dedicando-se à pintura e à escultura, mas
também ao teatro. Quer montar
em uma Kombi "História do
Amor de Romeu e Julieta", folheto de cordel adaptado por Ariano
Suassuna, seu tio.
Tem planos também para um
"Auto de São Gonçalo", o criador
do bumba-meu-boi, segundo a
crença popular, num exercício de
metalinguagem teatral com "o cenário estendido na rua".
AUTO DA PAIXÃO: 12 CÂNTICOS DE
AMOR E MORTE. Texto e direção:
Romero de Andrade Lima. Com: cia. Circo
Branco - As Pastorinhas. Onde: r. Leôncio
de Carvalho, ao lado do Itaú Cultural (av.
Paulista, 149, Bela Vista, região central,
SP, tel. 0/xx/11/3268-1777). Quando:
amanhã e sáb., às 19h30. Quanto:
entrada franca.
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