São Paulo, sábado, 17 de abril de 2004

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ENTRELINHAS

A esteira dos didáticos

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

No meio do discurso que deixou a comunidade livreira insatisfeita, com sua comparação do ato da leitura ao de andar em esteiras elétricas, o primeiro presidente da República a abrir uma Bienal do Livro de SP recitou um número-chave para a sua audiência: "O MEC comprou 168 milhões de livros em 2003. Este ano comprará 124 milhões só de didáticos".
É em direção a esse número acachapante, equivalente a quase cem Bienais do Livro, que estão se lançando duas grandes empresas neste momento.
Esta coluna já antecipara a vinda do grupo espanhol SM, que agora já tem equipe, endereço e vem dando tratos na bola para um grande prêmio de literatura infanto-juvenil.
Nesta semana o mercado didático teve outra decolagem. A editora Escala, da área de revistas, lançou as bases da Escala Educacional. Capitaneando a operação, um peso-pesado do setor, Vicente Paz Fernandez (25 anos de experiência no setor, ex-diretor superintendente do grupo Ática/Scipione).

FORA DA ESTANTE

Pegue a frase "o futuro a Deus pertence", corte-a violentamente em pedaços e você terá algo da essência da literatura de J.G. Ballard. O escritor inglês, que veio ao mundo em Xangai, em 1930, não acredita em Deus e muito menos no futuro. São suas frases como "eu poderia resumir o futuro em uma palavra e essa palavra é entediante" e "eu acredito na não-existência do passado, na morte do futuro e nas possibilidades infinitas do presente". E é desse mosto que ele tira sua estrutura narrativa. O protagonista solitário, neurótico, hipnotizado por um ambiente ameaçador, afundado na anomia urbana da violência televisiva, na pornografia, na cultura automobilística. Estas duas, juntas, brilham em seu livro mais falado, "Crash" (1972), e no ótimo antecessor, "The Atrocity Exhibition", que tem contos como "Why I Want to Fuck Ronald Reagan". Não é o tipo de coisa que seduz nosso mercado editorial. Cult, cult, cult em NY-Londres-Paris, mr. Ballard só tem nas prateleiras nacionais "Crash" e "Sombras do Império". A seus outros 20 livros resta um "o futuro a Deus pertence".

OCASO
Nesta sexta, faça seu minuto de silêncio. Foi em um 23 de abril, espantosamente do mesmo ano, 1616, que morreram tanto o espanhol Miguel de Cervantes quanto o inglês William Shakespeare.

ÚLTIMO TANGO
Marta Suplicy, no seu discurso na abertura da Bienal, fez lembrar a velha frase de Manuel Bandeira: "A única coisa a fazer é tocar um tango argentino". Lembrou a mulher de Luis Favre: "Só em Buenos Aires existem mais livrarias do que no Brasil inteiro". Pior é que é.

NHÔ
A secretária de Estado da Cultura, Cláudia Costin, diz a "Entrelinhas" que em 15 dias será lançado o programa Prefeito Amigo do Livro. Dez dirigentes de municípios paulistas serão contemplados. Levarão uma placa e um computador com multimídia.

IRON MAN
Os mercados editoriais do Cone Sul não falam mesmo a mesma língua. Marcam a Bienal de São Paulo e as feiras de livros de Bogotá e Buenos Aires todas nos mesmos dias. José Castilho Marques Neto, diretor da Biblioteca Mário de Andrade, esteve em Buenos Aires, passou pelo Centro Imigrantes e esta noite, exausto, defenderá em Bogotá maior espaçamento entre um e o outro evento.

É BOM COMPANHEIRO
Marçal Aquino mudou de casa editorial. O escritor deve lançar seu próximo romance, em novembro, pela Companhia das Letras.

A VIDA COMO ELA É
Cena de Bienal: um palhaço lia na quinta-feira uma historinha para crianças. Detalhes: o microfone se fazia ouvir a mais de cem metros. Público do clown narigudo: duas crianças, uma delas virada de costas.

LADEIRA ARRIBA
O grupo espanhol Prisa, que controla o jornal "El Pais", declarou esta semana ter tido lucros de 101%. Um dos destaques, anunciou a companhia, foi o desempenho da editora brasileira Moderna.

elek@folhasp.com.br

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