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ENTRELINHAS
A esteira dos didáticos
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
No meio do discurso que
deixou a comunidade livreira insatisfeita, com sua comparação do ato da leitura ao de
andar em esteiras elétricas, o
primeiro presidente da República a abrir uma Bienal do Livro
de SP recitou um número-chave
para a sua audiência: "O MEC
comprou 168 milhões de livros
em 2003. Este ano comprará 124
milhões só de didáticos".
É em direção a esse número
acachapante, equivalente a quase cem Bienais do Livro, que estão se lançando duas grandes
empresas neste momento.
Esta coluna já antecipara a
vinda do grupo espanhol SM,
que agora já tem equipe, endereço e vem dando tratos na bola
para um grande prêmio de literatura infanto-juvenil.
Nesta semana o mercado didático teve outra decolagem. A
editora Escala, da área de revistas, lançou as bases da Escala
Educacional. Capitaneando a
operação, um peso-pesado do
setor, Vicente Paz Fernandez
(25 anos de experiência no setor,
ex-diretor superintendente do
grupo Ática/Scipione).
FORA DA ESTANTE
Pegue a frase "o futuro a
Deus pertence", corte-a violentamente em pedaços e
você terá algo da essência da
literatura de J.G. Ballard. O
escritor inglês, que veio ao
mundo em Xangai, em 1930,
não acredita em Deus e muito menos no futuro. São suas
frases como "eu poderia resumir o futuro em uma palavra e essa palavra é entediante" e "eu acredito na não-existência do passado, na
morte do futuro e nas possibilidades infinitas do presente". E é desse mosto que
ele tira sua estrutura narrativa. O protagonista solitário,
neurótico, hipnotizado por
um ambiente ameaçador,
afundado na anomia urbana
da violência televisiva, na
pornografia, na cultura automobilística. Estas duas,
juntas, brilham em seu livro
mais falado, "Crash" (1972),
e no ótimo antecessor, "The
Atrocity Exhibition", que
tem contos como "Why I
Want to Fuck Ronald Reagan". Não é o tipo de coisa
que seduz nosso mercado
editorial. Cult, cult, cult em
NY-Londres-Paris, mr. Ballard só tem nas prateleiras
nacionais "Crash" e "Sombras do Império". A seus outros 20 livros resta um "o futuro a Deus pertence".
OCASO
Nesta sexta, faça seu minuto de
silêncio. Foi em um 23 de abril, espantosamente do mesmo ano,
1616, que morreram tanto o espanhol Miguel de Cervantes quanto
o inglês William Shakespeare.
ÚLTIMO TANGO
Marta Suplicy, no seu discurso na abertura da Bienal, fez
lembrar a velha frase de Manuel Bandeira: "A única coisa a
fazer é tocar um tango argentino". Lembrou a mulher de Luis
Favre: "Só em Buenos Aires
existem mais livrarias do que
no Brasil inteiro". Pior é que é.
NHÔ
A secretária de Estado da
Cultura, Cláudia Costin, diz a
"Entrelinhas" que em 15 dias
será lançado o programa Prefeito Amigo do Livro. Dez dirigentes de municípios paulistas
serão contemplados. Levarão
uma placa e um computador
com multimídia.
IRON MAN
Os mercados editoriais do
Cone Sul não falam mesmo a
mesma língua. Marcam a Bienal de São Paulo e as feiras de
livros de Bogotá e Buenos Aires
todas nos mesmos dias. José
Castilho Marques Neto, diretor
da Biblioteca Mário de Andrade, esteve em Buenos Aires,
passou pelo Centro Imigrantes
e esta noite, exausto, defenderá
em Bogotá maior espaçamento
entre um e o outro evento.
É BOM COMPANHEIRO
Marçal Aquino mudou de casa editorial. O escritor deve
lançar seu próximo romance,
em novembro, pela Companhia das Letras.
A VIDA COMO ELA É
Cena de Bienal: um palhaço
lia na quinta-feira uma historinha para crianças. Detalhes: o
microfone se fazia ouvir a mais
de cem metros. Público do
clown narigudo: duas crianças,
uma delas virada de costas.
LADEIRA ARRIBA
O grupo espanhol Prisa, que
controla o jornal "El Pais", declarou esta semana ter tido lucros de 101%. Um dos destaques, anunciou a companhia,
foi o desempenho da editora
brasileira Moderna.
elek@folhasp.com.br
SEGUNDA João Paulo Cuenca assina "Corpo Presente" (Planeta), na Mercearia São Pedro
(0/xx/11/ 3815-7200) SEGUNDA A portuguesa Margarida Rebello Pinto faz palestra no
Itaú (0/xx/11/ 3268-1777) SEGUNDA Michel Laub autografa "Longe da Água", na Cultura
(0/xx/11/ 3170-4033) TERÇA O italiano Gavino Ledda, estrela da Bienal, fala no Istituto Italiano di Cultura (0/xx/11/3285-6933) TERÇA Hermínio Bello de Carvalho lança "Araca" (Folha Seca), sobre Aracy de Almeida, no Genésio (0/xx/11/3812-6252)
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