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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
A princesa que virou estilista
Diane von Fürstenberg lança no Brasil uma coleção de relógios com a H. Stern e diz que vai abrir duas lojas no país
Uma das principais estilistas
dos Estados Unidos, Diane von
Fürstenberg esteve no Brasil
nesta semana para lançar uma
coleção de relógios da H. Stern
que leva a sua assinatura e acertar detalhes das duas lojas que
abrirá no Brasil, no ano que
vem, em parceria com a família
Jereissati, do shopping Iguatemi. Uma delas será em São Paulo; a outra, em Brasília.
Não foi a primeira vez que ela
veio ao Brasil -país que visita
desde os anos 70, principalmente por lazer, e onde aprendeu um pouco de português.
Nascida na Bélgica, em uma
família judia, Diane casou-se
aos 23 anos com o príncipe alemão Egon von Fürstenberg, do
qual preservou o nome, mesmo
após o divorcio. Formou-se em
economia na Universidade de
Genebra, trabalhou na indústria têxtil italiana e atuou numa
editora de livros na França, até
decidir-se por seguir carreira
na moda, nos EUA.
Atualmente, é um dos nomes
mais influentes da moda, não
apenas por seu trabalho como
designer mas também por sua
atuação institucional -ela é
presidente do Council of Fashion Designers of America
(CFDA), o órgão mais importante do setor fashion no país.
Na entrevista a seguir, feita
na suíte da estilista no hotel Fasano, Diane, 63, diz que a eleição de Obama "mudou tudo"
nos EUA -inclusive na moda.
Ela também afirma que a crise
econômica vai limpar o "monte
de bobagens" que a indústria
fashion vinha produzindo. "É
preciso criar produtos que façam sentido, que tenham relação com a mulher e a respeitem", diz.
FOLHA - Como está a situação econômica da moda nos EUA, hoje?
DIANE VON FÜRSTENBERG - O que
se passou é que havia muita
oferta para uma demanda insuficiente -fora o monte de bobagens que produziam. Estamos vivendo agora um período
de limpeza. Todo mundo tem
que ser mais cuidadoso, fazer
menos, fazer melhor e criar a
demanda. Apesar da crise, estou vendendo bem. Acho que é
porque ofereço design com
preços razoáveis.
FOLHA - O que é importante ter em
mente, agora, ao criar moda?
DIANE - Paixão é o principal. É
preciso criar produtos que façam sentido, que tenham relação com a mulher e a respeitem. Além disso, é muito importante ter uma relação justa
entre preço e qualidade.
FOLHA - A sra. acha que a crise pode mudar a própria lógica dos desfiles, que foram se tornando cada vez
mais espetaculares e onerosos?
DIANE - A moda é o reflexo de
seu tempo. Mesmo que não haja mais designers, haverá sempre a moda, porque ela é o que
as pessoas têm vontade de vestir, o modo como elas querem
se vestir. Os desfiles, na origem,
eram feitos para o comércio e
para a imprensa. Depois, tornaram-se espetáculos com celebridades, passaram a ser a difundidos velozmente pela internet... Mas o fato é que os estilistas adoram desfiles. Se alguém diz: "Você não deveria
desfilar neste momento...", o
estilista responde: "Mas para
que estou fazendo moda?".
FOLHA - A sra. vai abrir duas lojas
no Brasil. O país se tornou mais atrativo para a moda americana?
DIANE - Sim, o Brasil vive um
momento tão interessante! Todo mundo dizia, eu inclusive,
que era o país do futuro, mas este futuro nunca chegava. Penso
que, agora, ele chegou. O Brasil
de hoje é muito diferente do
país que conheci há décadas.
FOLHA - Como a eleição de Barack
Obama pode afetar a moda?
DIANE - É um momento muito
excitante nos EUA. Se votamos
em Obama, tudo é possível. Há
uma enorme energia e muito
otimismo. Penso que os próximos dez anos serão a época das
Américas, todas elas.
FOLHA - O fato de o presidente e a
primeira-dama serem negros pode
induzir a moda a ter mais negros nos
desfiles e na publicidade?
DIANE - Eu repito: tudo mudou.
Uma pessoa negra, hoje, anda
na rua diferentemente do modo como andava há seis meses.
Antes, ela achava que os outros
a olhavam como se fosse um
mendigo. Hoje, ela acha que os
outros a olham e pensam: "Eis o
próximo presidente".
FOLHA - O que Michelle Obama pode trazer de novo ao estilo das mulheres americanas?
DIANE - Antes de mais nada, ela
é uma mulher muito inteligente e forte. Alguns diziam que
era o "chefe" do presidente.
FOLHA - No Brasil, é pequena a presença de negros nas imagens de moda. Há quem diga que seus corpos
não combinam com as roupas...
DIANE - Não sei... O que posso
dizer é que alguns dos mais belos corpos são negros. O Brasil é
muito misturado, e vocês certamente têm inúmeras garotas
negras lindas. O mundo mudou, e a moda também.
FOLHA - A sra. imagina que poderia
ter feito carreira na moda europeia,
em Paris ou Milão?
DIANE - Não. Enquanto pessoa,
sou europeia, porque minha
educação é europeia. Mas, do
ponto de vista profissional, eu
sou americana, embora meu
estilo não seja propriamente
americano. Ele é universal, pois
o que me interessa são as mulheres. Na juventude, eu queria
me tornar uma mulher independente, dinâmica e forte. Eu
me tornei essa mulher fazendo
roupas para outras mulheres.
Houve de imediato uma troca,
que era muito honesta. Agora
entendo que meu papel na moda é dar poder às mulheres, o
que eu faço não só por meio das
roupas, mas também da filantropia e de minhas palavras.
FOLHA - Tendo sido uma princesa,
o que a levou a mudar de vida e tornar-se uma estilista?
DIANE - Mas eu não mudei. Eu
sou uma princesa estilista (ri).
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