São Paulo, sexta-feira, 17 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

A princesa que virou estilista

Diane von Fürstenberg lança no Brasil uma coleção de relógios com a H. Stern e diz que vai abrir duas lojas no país

Uma das principais estilistas dos Estados Unidos, Diane von Fürstenberg esteve no Brasil nesta semana para lançar uma coleção de relógios da H. Stern que leva a sua assinatura e acertar detalhes das duas lojas que abrirá no Brasil, no ano que vem, em parceria com a família Jereissati, do shopping Iguatemi. Uma delas será em São Paulo; a outra, em Brasília.
Não foi a primeira vez que ela veio ao Brasil -país que visita desde os anos 70, principalmente por lazer, e onde aprendeu um pouco de português. Nascida na Bélgica, em uma família judia, Diane casou-se aos 23 anos com o príncipe alemão Egon von Fürstenberg, do qual preservou o nome, mesmo após o divorcio. Formou-se em economia na Universidade de Genebra, trabalhou na indústria têxtil italiana e atuou numa editora de livros na França, até decidir-se por seguir carreira na moda, nos EUA.
Atualmente, é um dos nomes mais influentes da moda, não apenas por seu trabalho como designer mas também por sua atuação institucional -ela é presidente do Council of Fashion Designers of America (CFDA), o órgão mais importante do setor fashion no país. Na entrevista a seguir, feita na suíte da estilista no hotel Fasano, Diane, 63, diz que a eleição de Obama "mudou tudo" nos EUA -inclusive na moda.
Ela também afirma que a crise econômica vai limpar o "monte de bobagens" que a indústria fashion vinha produzindo. "É preciso criar produtos que façam sentido, que tenham relação com a mulher e a respeitem", diz.

 

FOLHA - Como está a situação econômica da moda nos EUA, hoje?
DIANE VON FÜRSTENBERG - O que se passou é que havia muita oferta para uma demanda insuficiente -fora o monte de bobagens que produziam. Estamos vivendo agora um período de limpeza. Todo mundo tem que ser mais cuidadoso, fazer menos, fazer melhor e criar a demanda. Apesar da crise, estou vendendo bem. Acho que é porque ofereço design com preços razoáveis.

FOLHA - O que é importante ter em mente, agora, ao criar moda?
DIANE - Paixão é o principal. É preciso criar produtos que façam sentido, que tenham relação com a mulher e a respeitem. Além disso, é muito importante ter uma relação justa entre preço e qualidade.

FOLHA - A sra. acha que a crise pode mudar a própria lógica dos desfiles, que foram se tornando cada vez mais espetaculares e onerosos?
DIANE - A moda é o reflexo de seu tempo. Mesmo que não haja mais designers, haverá sempre a moda, porque ela é o que as pessoas têm vontade de vestir, o modo como elas querem se vestir. Os desfiles, na origem, eram feitos para o comércio e para a imprensa. Depois, tornaram-se espetáculos com celebridades, passaram a ser a difundidos velozmente pela internet... Mas o fato é que os estilistas adoram desfiles. Se alguém diz: "Você não deveria desfilar neste momento...", o estilista responde: "Mas para que estou fazendo moda?".

FOLHA - A sra. vai abrir duas lojas no Brasil. O país se tornou mais atrativo para a moda americana?
DIANE - Sim, o Brasil vive um momento tão interessante! Todo mundo dizia, eu inclusive, que era o país do futuro, mas este futuro nunca chegava. Penso que, agora, ele chegou. O Brasil de hoje é muito diferente do país que conheci há décadas.

FOLHA - Como a eleição de Barack Obama pode afetar a moda?
DIANE - É um momento muito excitante nos EUA. Se votamos em Obama, tudo é possível. Há uma enorme energia e muito otimismo. Penso que os próximos dez anos serão a época das Américas, todas elas.

FOLHA - O fato de o presidente e a primeira-dama serem negros pode induzir a moda a ter mais negros nos desfiles e na publicidade?
DIANE - Eu repito: tudo mudou. Uma pessoa negra, hoje, anda na rua diferentemente do modo como andava há seis meses. Antes, ela achava que os outros a olhavam como se fosse um mendigo. Hoje, ela acha que os outros a olham e pensam: "Eis o próximo presidente".

FOLHA - O que Michelle Obama pode trazer de novo ao estilo das mulheres americanas?
DIANE - Antes de mais nada, ela é uma mulher muito inteligente e forte. Alguns diziam que era o "chefe" do presidente.

FOLHA - No Brasil, é pequena a presença de negros nas imagens de moda. Há quem diga que seus corpos não combinam com as roupas...
DIANE - Não sei... O que posso dizer é que alguns dos mais belos corpos são negros. O Brasil é muito misturado, e vocês certamente têm inúmeras garotas negras lindas. O mundo mudou, e a moda também.

FOLHA - A sra. imagina que poderia ter feito carreira na moda europeia, em Paris ou Milão?
DIANE - Não. Enquanto pessoa, sou europeia, porque minha educação é europeia. Mas, do ponto de vista profissional, eu sou americana, embora meu estilo não seja propriamente americano. Ele é universal, pois o que me interessa são as mulheres. Na juventude, eu queria me tornar uma mulher independente, dinâmica e forte. Eu me tornei essa mulher fazendo roupas para outras mulheres. Houve de imediato uma troca, que era muito honesta. Agora entendo que meu papel na moda é dar poder às mulheres, o que eu faço não só por meio das roupas, mas também da filantropia e de minhas palavras.

FOLHA - Tendo sido uma princesa, o que a levou a mudar de vida e tornar-se uma estilista?
DIANE - Mas eu não mudei. Eu sou uma princesa estilista (ri).


Texto Anterior: Paul McCartney e The Cure estão no festival Coachella
Próximo Texto: Estilista e H. Stern repetem parceria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.