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LIVROS
Crítica/ "Poesia Completa" e "Menino do Mato"
Livros revelam regularidade de estilo de Manoel de Barros
Aos 93 anos, poeta mato-grossense publica obra completa e volume inédito
MANUEL DA COSTA PINTO
CRÍTICO DA FOLHA
A publicação da "Poesia
Completa", de Manoel
de Barros, vem acompanhada do lançamento de um
novo livro do poeta mato-grossense: "Menino do Mato", que
surge em edição à parte, mas
também está incluído na compilação de sua lírica.
A decisão editorial de não
privar das últimas invenções do
escritor os leitores de "Poesia
Completa" ressalta a regularidade temática e estilística de
Manoel de Barros, que continua produtivo aos 93 anos.
Também se presta à avaliação daquilo que foi uma novidade (mas perdeu o viço) nessa
obra de reconhecimento tardio
e daquilo que ela prometia e de
fato realizou.
Em seus primeiros livros
-de "Poemas Concebidos Sem
Pecado" (1937) a pelo menos
"Gramática Expositiva do
Chão" (1966)-, temos um poeta muito próximo da dramaticidade em tom menor do modernismo, um sentimento do
mundo cuja graça está no deslocamento da perplexidade
existencial para uma modorrenta vida provinciana (aí incluídas cidades grandes com
resíduos interioranos).
"Sou um sujeito magro/ Nasci magro./ Estou nos acontecimentos/ Como num vendaval:
dobrado/ Recurvo de espanto/
E verdes...// Circulo sob arranha-céus./ Vivo debaixo de cubos:/ Na direita, na esquerda/
De lado, ao sul/ Pelo norte...
Vou no meio assustado", escreve em "A Voz de Meu Pai", do livro "Poesias" (1947).
Nesse período, já aparecem
duas marcas de sua poética: de
um lado, a forma do diálogo
com personagens do imaginário rural do autor; de outro, a
celebração da figura do desvalido como no "Antissalmo para
um Desherói" (de "Gramática
Expositiva do Chão").
O título desse poema antecipa o procedimento recorrente
de colocar um prefixo negativo
em palavras que assim descrevem um universo de coisas "desimportantes" -e que são importantes por serem "coisas".
A partir de "Matéria de Poesia" (1970), o poeta passa a ser
mais "metalinguístico", parte
de pequenos bichos aquáticos,
insetos e "inutensílios" (trastes
sem préstimo) para compor
uma espécie de cosmologia
oculta, que caberá à poesia
eclodir -como em "Os Caramujos", de "Tratado Geral das
Grandezas do Ínfimo" (2001).
A esses seres correspondem
personagens como Bernardo
da Mata, espécie de "alter ego"
que ele nos apresenta em "O
Guardador de Águas" (livro de
1989 que remete a "O Guardador de Rebanhos", de Alberto
Caeiro, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa).
Desenha-se assim uma poética que busca na insignificância das coisas inanimadas e nas
"ignorãças" de seres insignificantes uma forma de "desver o
mundo" -como aparece no novo livro, que leva o título da primeira parte, "Menino do Mato", e traz uma segunda chamada "Cadernos de Aprendiz",
com poemas e aforismos.
Num deles, Manoel de Barros escreve: "A infância da palavra já vem com o primitivismo
das origens"- e isso não apenas
reverbera a busca de um "saber
primordial" pelo menino Bernardo, mas também a indiferenciação que existe entre sua
poesia madura, sua obra para
público infantil ou suas "Memórias Inventadas" (série ausente de "Poesia Completa").
Manoel de Barros retoma
duas tópicas da modernidade
-metalinguagem e celebração
do anti-herói como expressão
do desconcerto do mundo-,
mas dentro de uma estrutura
narrativa, quase prosaica, em
que as reinvenções linguísticas,
por serem ínfimas, ficam mais
no plano do enunciado do que
na realização poética.
POESIA COMPLETA
Autor: Manoel de Barros
Editora: Leya Brasil
Quanto: R$ 69,90 (496 págs.)
Avaliação: bom
MENINO DO MATO
Autor: Manoel de Barros
Editora: Leya Brasil
Quanto: R$ 29,90 (96 págs.)
Avaliação: regular
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