São Paulo, sábado, 17 de abril de 2010

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Comentário

Documentário expõe histórico de destruição de avenida paulistana

Psicanalista Miriam Chnaiderman dirige "M'Boi Mirim", episódio de amanhã da série sobre bairros da TV Cultura

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Estrada do M'Boi Mirim é a avenida mais importante da zona sul de São Paulo. Seus nove quilômetros de extensão, às margens da represa Guarapiranga, atravessam bairros como Jardim São Luiz, Capão Redondo e Jardim Ângela. Versa sobre essa região o documentário "M'Boi Mirim: dos Índios, das Águas, dos Sonhos", que a TV Cultura exibe amanhã na série "História dos Bairros".
O título não poderia ser mais literal -o filme tem mesmo índio, água e sonho. Mas o que a roteirista e diretora Miriam Chnaiderman, que também é psicanalista, mostra é principalmente destruição, devastação, morte. Ali, era mata atlântica, índio, represa e uns poucos brancos há não mais de 40 anos.
Nesse curto período, o pedaço foi desmatado, terraplenado e poluído, de modo a assentar levas sucessivas de imigrantes (principalmente nordestinos), mão de obra barata para as fábricas às margens do rio Pinheiros.
Despachados então foram os índios guaranis e seu nhe-nhe-nhem de águas limpas para mais de 20 quilômetros ao sul, em Parelheiros.
O corte cultural e ambiental fica destacado no documentário com a explicação da origem do nome M'Boi, que quer dizer "terra das cobras" em tupi.
M'Boi era uma das transcrições possíveis para a palavra indígena pronunciada como Em-boi ou Em-bu (vem daí o nome dos municípios vizinhos).
Sem contato com a fonética dos indígenas (já expulsos do local), os imigrantes recém-chegados só podiam pronunciar conforme liam nas placas da estrada. Ficou "eme-bôi".
Do período operário da região, Chnaiderman traz a memória de um mártir: o operário Santo Dias da Silva, morto pela polícia em 1979, durante greve dos metalúrgicos. Serve para mostrar o vazio em que se precipitou o local a partir dos anos 1980, quando sobreveio a recessão econômica. Sem empregos, varejado pelas drogas, tornou-se uma desova de cadáveres. A tal ponto que, em 1996, a ONU conferiu ao Jardim Ângela o título de pedaço mais violento do mundo.
O documentário faz justiça ao dar voz ao padre irlandês James Crowe. "Padre Jaime" achou que não podia se limitar a "enterrar e rezar missas de sétimo dia". Tornou-se assim o articulador da pacificação do Ângela, que conseguiu derrubar os índices de homicídios. A represa, mar interior onipresente no cenário da região, segue poluída, destino de lixo e esgoto clandestino. A diretora até mostra tentativas tímidas de protegê-la. Mas isso é outra história, que ainda não se fez.


M'BOI MIRIM: DOS ÍNDIOS, DAS ÁGUAS, DOS SONHOS

Quando: amanhã, às 22h, na Cultura
Classificação: livre




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