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Comentário
Documentário expõe histórico de destruição de avenida paulistana
Psicanalista Miriam Chnaiderman dirige "M'Boi Mirim", episódio de amanhã da série sobre bairros da TV Cultura
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Estrada do M'Boi Mirim é a
avenida mais importante da zona sul de São Paulo. Seus nove
quilômetros de extensão, às
margens da represa Guarapiranga, atravessam bairros como Jardim São Luiz, Capão Redondo e Jardim Ângela.
Versa sobre essa região o documentário "M'Boi Mirim: dos
Índios, das Águas, dos Sonhos",
que a TV Cultura exibe amanhã
na série "História dos Bairros".
O título não poderia ser mais
literal -o filme tem mesmo índio, água e sonho. Mas o que a
roteirista e diretora Miriam
Chnaiderman, que também é
psicanalista, mostra é principalmente destruição, devastação, morte.
Ali, era mata atlântica, índio,
represa e uns poucos brancos
há não mais de 40 anos.
Nesse
curto período, o pedaço foi desmatado, terraplenado e poluído, de modo a assentar levas sucessivas de imigrantes (principalmente nordestinos), mão de
obra barata para as fábricas às
margens do rio Pinheiros.
Despachados então foram os
índios guaranis e seu nhe-nhe-nhem de águas limpas para
mais de 20 quilômetros ao sul,
em Parelheiros.
O corte cultural e ambiental
fica destacado no documentário com a explicação da origem
do nome M'Boi, que quer dizer
"terra das cobras" em tupi.
M'Boi era uma das transcrições
possíveis para a palavra indígena pronunciada como Em-boi
ou Em-bu (vem daí o nome dos
municípios vizinhos).
Sem contato com a fonética
dos indígenas (já expulsos do
local), os imigrantes recém-chegados só podiam pronunciar conforme liam nas placas
da estrada. Ficou "eme-bôi".
Do período operário da região, Chnaiderman traz a memória de um mártir: o operário
Santo Dias da Silva, morto pela
polícia em 1979, durante greve
dos metalúrgicos. Serve para
mostrar o vazio em que se precipitou o local a partir dos anos
1980, quando sobreveio a recessão econômica.
Sem empregos, varejado pelas drogas, tornou-se uma desova de cadáveres. A tal ponto
que, em 1996, a ONU conferiu
ao Jardim Ângela o título de pedaço mais violento do mundo.
O documentário faz justiça
ao dar voz ao padre irlandês James Crowe. "Padre Jaime"
achou que não podia se limitar
a "enterrar e rezar missas de sétimo dia". Tornou-se assim o
articulador da pacificação do
Ângela, que conseguiu derrubar os índices de homicídios.
A represa, mar interior onipresente no cenário da região,
segue poluída, destino de lixo e
esgoto clandestino. A diretora
até mostra tentativas tímidas
de protegê-la. Mas isso é outra
história, que ainda não se fez.
M'BOI MIRIM: DOS ÍNDIOS, DAS
ÁGUAS, DOS SONHOS
Quando: amanhã, às 22h, na Cultura
Classificação: livre
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