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Lobato ri por último
CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local
Assim como Quincas Berro D'Água, personagem de Jorge Amado,
Monteiro Lobato teve uma vida,
mas muitas mortes.
A mais polêmica delas aconteceu
22 anos antes da verdadeira. Mário
de Andrade, o mentor da Semana
de 22, é quem assina o "atestado
de óbito".
O autor de "Macunaíma" escreveu em um artigo, em 1926: "O telégrafo implacável nos traz a notícia do falecimento de Monteiro
Lobato...". E complementa adiante: "Muitos literatos têm dessa maneira partido pro esquecimento
em plena juventude...".
Independente do que tenha escrito Andrade, Lobato morreu e
teve o corpo sepultado no cemitério da Consolação em 1948.
Cinquenta anos depois, no entanto, o mestre brasileiro do
faz-de-conta volta a aparecer.
E espanando pó de pirlimpimpim do terno, Lobato dá um sorriso irônico para Andrade, que lhe
apontou (certamente não com
muita convicção) o caminho do
esquecimento.
De hoje até o final de maio,
Monteiro Lobato é o tema de dezenas de atividades no Sesc Pompéia. Elas se estruturam em torno
da exposição "O Brasil Encantado
de Monteiro Lobato".
Não há nada de modesto nessa
mostra. O forte de Lobato estava
nas letras, mas os números do
evento do Sesc se expressam bem.
Diariamente, estarão envolvidas
nele 200 pessoas, entre grupos de
teatro, monitores, músicos, circenses etc. Eles terão pela frente
um público que, apenas entre as
visitas escolares agendadas, atinge
800 estudantes por dia.
Para essas centenas de pessoas,
serão oferecidas no Sesc as dezenas de faces de Lobato.
Elas estão "retratadas" no livro
"Monteiro Lobato: Furação na Botocúndia" (ed. Senac), que serviu
como base para a exposição.
Vladimir Sacchetta, Marcia Camargos e Carmen Lucia de Azevedo, os autores dessa biografia (e
organizadores da exposição),
mostram que o "furacão" Monteiro Lobato foi jornalista, tradutor,
crítico de arte, artista, editor, empresário, além, claro, de marco zero da literatura infantil brasileira.
Esses rostos de Lobato convivem
no Sesc em harmonia.
Nos 1.600 metros quadrados ambientados por Elifas Andreato, diretor-artístico da exposição, destacam-se desde os personagens do
"Sítio do Picapau Amarelo" até
uma faixa monumental em que se
lê: "Meu plano é um só. Dar ferro e
petróleo para o Brasil".
Para ajeitar sob as mesmas "sobrancelhas" olhares tão desviantes, foram criadas estruturas como
letras coloridas de 2,5 metros nas
quais estão afixadas tanto pinturas
feitas por Lobato quanto documentos de suas ações políticas.
Para representar o universo que
Lobato escreveu, foi usada inclusive uma utopia lobatiana.
O escritor dizia que um dia construiria livros nos quais as crianças
pudessem morar.
No Sesc foram montadas armações em forma de grandes livros
em que não se pode viver, mas nos
quais é possível passear. Dentro
deles, Andreato criou efeitos como a textura de uma floresta, com
barulhos de grilos e cheiro de camomila.
Exposição: O Brasil Encantado de
Monteiro Lobato
Quando: de terça a domingo, das 9h às
21h; até 31 de maio
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel.
011/3871-7777)
Quanto: entrada franca
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