São Paulo, sexta, 17 de abril de 1998

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Lobato ri por último

CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local

Assim como Quincas Berro D'Água, personagem de Jorge Amado, Monteiro Lobato teve uma vida, mas muitas mortes.
A mais polêmica delas aconteceu 22 anos antes da verdadeira. Mário de Andrade, o mentor da Semana de 22, é quem assina o "atestado de óbito".
O autor de "Macunaíma" escreveu em um artigo, em 1926: "O telégrafo implacável nos traz a notícia do falecimento de Monteiro Lobato...". E complementa adiante: "Muitos literatos têm dessa maneira partido pro esquecimento em plena juventude...".
Independente do que tenha escrito Andrade, Lobato morreu e teve o corpo sepultado no cemitério da Consolação em 1948.
Cinquenta anos depois, no entanto, o mestre brasileiro do faz-de-conta volta a aparecer.
E espanando pó de pirlimpimpim do terno, Lobato dá um sorriso irônico para Andrade, que lhe apontou (certamente não com muita convicção) o caminho do esquecimento.
De hoje até o final de maio, Monteiro Lobato é o tema de dezenas de atividades no Sesc Pompéia. Elas se estruturam em torno da exposição "O Brasil Encantado de Monteiro Lobato".
Não há nada de modesto nessa mostra. O forte de Lobato estava nas letras, mas os números do evento do Sesc se expressam bem.
Diariamente, estarão envolvidas nele 200 pessoas, entre grupos de teatro, monitores, músicos, circenses etc. Eles terão pela frente um público que, apenas entre as visitas escolares agendadas, atinge 800 estudantes por dia.
Para essas centenas de pessoas, serão oferecidas no Sesc as dezenas de faces de Lobato.
Elas estão "retratadas" no livro "Monteiro Lobato: Furação na Botocúndia" (ed. Senac), que serviu como base para a exposição.
Vladimir Sacchetta, Marcia Camargos e Carmen Lucia de Azevedo, os autores dessa biografia (e organizadores da exposição), mostram que o "furacão" Monteiro Lobato foi jornalista, tradutor, crítico de arte, artista, editor, empresário, além, claro, de marco zero da literatura infantil brasileira.
Esses rostos de Lobato convivem no Sesc em harmonia.
Nos 1.600 metros quadrados ambientados por Elifas Andreato, diretor-artístico da exposição, destacam-se desde os personagens do "Sítio do Picapau Amarelo" até uma faixa monumental em que se lê: "Meu plano é um só. Dar ferro e petróleo para o Brasil".
Para ajeitar sob as mesmas "sobrancelhas" olhares tão desviantes, foram criadas estruturas como letras coloridas de 2,5 metros nas quais estão afixadas tanto pinturas feitas por Lobato quanto documentos de suas ações políticas.
Para representar o universo que Lobato escreveu, foi usada inclusive uma utopia lobatiana.
O escritor dizia que um dia construiria livros nos quais as crianças pudessem morar.
No Sesc foram montadas armações em forma de grandes livros em que não se pode viver, mas nos quais é possível passear. Dentro deles, Andreato criou efeitos como a textura de uma floresta, com barulhos de grilos e cheiro de camomila.

Exposição: O Brasil Encantado de Monteiro Lobato
Quando: de terça a domingo, das 9h às 21h; até 31 de maio
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 011/3871-7777)
Quanto: entrada franca



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