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MÚSICA
Apresentações no Brasil serão em São Paulo (dias 18 e 19) e no Rio; instrumentista é um dos melhores do gênero
Itzhak Perlman toca no Brasil por Israel
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Palmito, brigadeiro e guaraná.
São essas as três iguarias que o violinista mais rico do mundo, o israelense Itzhak Perlman, pretende
degustar em sua terceira visita ao
Brasil.
Aos 52 anos, Perlman só perde
em faturamento, no mercado da
música clássica, para os tenores
José Carreras, Plácido Domingo,
Luciano Pavarotti e para o regente
Zubin Mehta.
Em 96, quando a EMI lançou
uma caixa de 21 CDs comemorando seu 50º aniversário, o violinista
engordou sua conta bancária em
US$ 5,5 milhões.
Vítima da poliomielite, Perlman
tem mãos grandes e sonoridade
generosa. Sua primeira vinda ao
Brasil, há 28 anos, na época do regime militar, foi traumática -o
instrumentista teve tantos problemas burocráticos para conseguir
deixar o país que jurou jamais retornar.
Reconciliado com o Brasil após
uma bem-sucedida turnê, em 95,
com o pianista Samuel Sanders,
Perlman volta com o mesmo companheiro para fazer duas apresentações em São Paulo (18 de maio,
na série dos Patronos do Teatro
Municipal, e no dia seguinte, no
teatro Alfa Real) e uma no Rio de
Janeiro. O violinista falou à Folha,
por telefone, de Nova York.
Folha - Todo mundo fala de crise
no mercado clássico de CDs. O sr.
crê nessa crise?
Perlman - Ah, não sei. Muita
gente não vai concordar com o que
eu vou dizer, mas eu acho que um
marketing melhor poderia melhorar a situação. As gravadoras ainda
continuam com o marketing antigo. A saída seria melhorar o marketing e ter mais cuidado na escolha do repertório. Mas isso não significa que as mudanças no repertório sejam radicais. Não acho que
produtos "crossover" muito esquisitos como se vê por aí sejam a
saída.
Folha - Mas o sr. mesmo fez álbuns "crossover".
Perlman - Sim, mas para cada
disco "crossover" que eu fiz, havia
outros cinco projetos "crossover"
aos quais eu disse não. Isso tem
que ser feito com cuidado. Minha
última gravação "crossover" foi a
música de diversos filmes, em arranjos de John William. Como a
música é adequada ao violino,
acho que funcionou bem. O problema é que a gente vê por aí coisas
muito esquisitas, com as pessoas
misturando os canais.
Folha - Sua carreira fonográfica é
vasta. Resta algo no repertório que
o sr. gostaria de gravar e ainda não
gravou?
Perlman - Sim, algumas coisas.
No repertório de violino, ainda há
um concerto que eu tenho de fazer
-mas, claro, deveria aprender
antes -que é o de William Walton. Uma obra maravilhosa, que
espero poder estudar e gravar nos
próximos anos. Agora, estou regendo um pouquinho, mas o que
eu gostaria mesmo de poder fazer
mais é música de câmera. Acho
que não fiz isso o suficiente, mas é
difícil agendar -nem todo mundo está livre ao mesmo tempo.
Folha - O sr. está terminando
suas férias em Nova York. Quais
serão suas próximas atividades?
Itzhak Perlman - Deixe-me ver.
Tenho de ir à Flórida e Atlanta. Ah,
depois vou para Israel, onde haverá uma grande comemoração pelo
50º aniversário do país. Tocarei em
um concerto de gala com a Filarmônica de Israel. E, depois, acho
que tenho de ir a um lugar chamado Brasil, se não me engano (risos).
Folha - Quais são suas lembranças desse lugar?
Perlman - Gosto do Brasil. Vai
ser minha terceira visita a esse país
e gosto muito de tocar para seu público.
Folha - Mas parece que sua primeira vinda ao Brasil não foi das
mais agradáveis.
Itzhak - A primeira? Bem,
quando eu estava por aí, tudo era
muito agradável. O problema é
que, por algum motivo, não queriam me deixar sair (risos).
Folha - Como vai ser esse concerto de gala por Israel
Perlman - Ele vai ser regido por
Zubin Mehta, com artistas convidados como Pinchas Zukerman
(violino e viola), Cecilia Bartoli
(mezzo-soprano), Yefim Bronfman (piano). Vai ser legal.
Folha - Quais são seus planos de
gravação?
Perlman - O próximo, para a
EMI, vai ser feito daquilo que eu
chamo de "Baby Concertos". São
os concertos que estudantes jovens de violino interpretam. Percebi que, quando uma criança começa a estudar o violino, lá pelos
seis, sete ou oito anos de idade, ela
tem de tocar peças das quais não
há gravação, porque são fáceis demais. Porém, nada é fácil demais,
se você tocar direito. Então, vou
fazer esses concertos "fáceis" com
a Orquestra de Juilliard School, regida por Lawrence Foster. Achei
que seria uma boa idéia fazer esses
concertos com uma orquestra de
estudantes e a da Juilliard é maravilhosa. Dessa maneira, os iniciantes do violino vão ter um registro
no qual basear sua interpretação.
Folha - Como encontrar o parceiro ideal em música de câmera?
Perlman - Toco música de câmera por prazer. Adoro tocar com
meu amigo Pinchas Zukerman,
mas, às vezes, é impossível, porque quando um está livre, o outro
não está.
Folha - Na infância, quais foram
seus ídolos do violino?
Perlman - Tudo que eu me lembro era de escutar Jascha Heifetz.
Folha - O sr. acha que seu estilo
hoje é parecido com o dele?
Perlman - Não acho que eu soe
como ele, mas, certamente, o estilo de Heifetz me deu alguma coisa.
Você sempre pega alguma coisa de
todo mundo, mas, daí, transforma
em seu próprio estilo. O que não
dá para fazer é ouvir alguém e tentar soar igual. Eu gostava de escutar Kreisler, Elman, Francescatti,
Milstein, Stern. De cada um você
aprende alguma coisa.
Folha - O sr. não acha que os jovens violinistas de hoje estão tocando todos da mesma forma?
Perlman - Boa pergunta! De um
certo modo, sim. O nível técnico
subiu muito e aqui e ali você acha
alguém com individualidade. Mas,
tem muita gente que toca muito
bem, tem som, mas o estilo é aquilo que chamamos de "moderno", e
talvez as pessoas tenham medo de
soar ultrapassadas. Hoje, o que se
nota é que há muitos bons violinistas e todo mundo tende a soar
igual por causa das gravações, da
tecnologia digital e isso não é muito bom. Sempre que eu gravo, eu
procuro soar como eu mesmo,
não como outra pessoa. O problema é que, com essas máquinas sofisticadas,=dá para fazer qualquer
um soar bem.
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