São Paulo, sexta, 17 de abril de 1998

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MÚSICA
Apresentações no Brasil serão em São Paulo (dias 18 e 19) e no Rio; instrumentista é um dos melhores do gênero
Itzhak Perlman toca no Brasil por Israel

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Palmito, brigadeiro e guaraná. São essas as três iguarias que o violinista mais rico do mundo, o israelense Itzhak Perlman, pretende degustar em sua terceira visita ao Brasil.
Aos 52 anos, Perlman só perde em faturamento, no mercado da música clássica, para os tenores José Carreras, Plácido Domingo, Luciano Pavarotti e para o regente Zubin Mehta.
Em 96, quando a EMI lançou uma caixa de 21 CDs comemorando seu 50º aniversário, o violinista engordou sua conta bancária em US$ 5,5 milhões.
Vítima da poliomielite, Perlman tem mãos grandes e sonoridade generosa. Sua primeira vinda ao Brasil, há 28 anos, na época do regime militar, foi traumática -o instrumentista teve tantos problemas burocráticos para conseguir deixar o país que jurou jamais retornar.
Reconciliado com o Brasil após uma bem-sucedida turnê, em 95, com o pianista Samuel Sanders, Perlman volta com o mesmo companheiro para fazer duas apresentações em São Paulo (18 de maio, na série dos Patronos do Teatro Municipal, e no dia seguinte, no teatro Alfa Real) e uma no Rio de Janeiro. O violinista falou à Folha, por telefone, de Nova York.

Folha - Todo mundo fala de crise no mercado clássico de CDs. O sr. crê nessa crise?
Perlman - Ah, não sei. Muita gente não vai concordar com o que eu vou dizer, mas eu acho que um marketing melhor poderia melhorar a situação. As gravadoras ainda continuam com o marketing antigo. A saída seria melhorar o marketing e ter mais cuidado na escolha do repertório. Mas isso não significa que as mudanças no repertório sejam radicais. Não acho que produtos "crossover" muito esquisitos como se vê por aí sejam a saída.
Folha - Mas o sr. mesmo fez álbuns "crossover".
Perlman - Sim, mas para cada disco "crossover" que eu fiz, havia outros cinco projetos "crossover" aos quais eu disse não. Isso tem que ser feito com cuidado. Minha última gravação "crossover" foi a música de diversos filmes, em arranjos de John William. Como a música é adequada ao violino, acho que funcionou bem. O problema é que a gente vê por aí coisas muito esquisitas, com as pessoas misturando os canais.
Folha - Sua carreira fonográfica é vasta. Resta algo no repertório que o sr. gostaria de gravar e ainda não gravou?
Perlman - Sim, algumas coisas. No repertório de violino, ainda há um concerto que eu tenho de fazer -mas, claro, deveria aprender antes -que é o de William Walton. Uma obra maravilhosa, que espero poder estudar e gravar nos próximos anos. Agora, estou regendo um pouquinho, mas o que eu gostaria mesmo de poder fazer mais é música de câmera. Acho que não fiz isso o suficiente, mas é difícil agendar -nem todo mundo está livre ao mesmo tempo.
Folha - O sr. está terminando suas férias em Nova York. Quais serão suas próximas atividades?
Itzhak Perlman - Deixe-me ver. Tenho de ir à Flórida e Atlanta. Ah, depois vou para Israel, onde haverá uma grande comemoração pelo 50º aniversário do país. Tocarei em um concerto de gala com a Filarmônica de Israel. E, depois, acho que tenho de ir a um lugar chamado Brasil, se não me engano (risos).
Folha - Quais são suas lembranças desse lugar?
Perlman - Gosto do Brasil. Vai ser minha terceira visita a esse país e gosto muito de tocar para seu público.
Folha - Mas parece que sua primeira vinda ao Brasil não foi das mais agradáveis.
Itzhak - A primeira? Bem, quando eu estava por aí, tudo era muito agradável. O problema é que, por algum motivo, não queriam me deixar sair (risos).
Folha - Como vai ser esse concerto de gala por Israel
Perlman - Ele vai ser regido por Zubin Mehta, com artistas convidados como Pinchas Zukerman (violino e viola), Cecilia Bartoli (mezzo-soprano), Yefim Bronfman (piano). Vai ser legal.
Folha - Quais são seus planos de gravação?
Perlman - O próximo, para a EMI, vai ser feito daquilo que eu chamo de "Baby Concertos". São os concertos que estudantes jovens de violino interpretam. Percebi que, quando uma criança começa a estudar o violino, lá pelos seis, sete ou oito anos de idade, ela tem de tocar peças das quais não há gravação, porque são fáceis demais. Porém, nada é fácil demais, se você tocar direito. Então, vou fazer esses concertos "fáceis" com a Orquestra de Juilliard School, regida por Lawrence Foster. Achei que seria uma boa idéia fazer esses concertos com uma orquestra de estudantes e a da Juilliard é maravilhosa. Dessa maneira, os iniciantes do violino vão ter um registro no qual basear sua interpretação.
Folha - Como encontrar o parceiro ideal em música de câmera?
Perlman -
Toco música de câmera por prazer. Adoro tocar com meu amigo Pinchas Zukerman, mas, às vezes, é impossível, porque quando um está livre, o outro não está.
Folha - Na infância, quais foram seus ídolos do violino?
Perlman - Tudo que eu me lembro era de escutar Jascha Heifetz.
Folha - O sr. acha que seu estilo hoje é parecido com o dele?
Perlman - Não acho que eu soe como ele, mas, certamente, o estilo de Heifetz me deu alguma coisa. Você sempre pega alguma coisa de todo mundo, mas, daí, transforma em seu próprio estilo. O que não dá para fazer é ouvir alguém e tentar soar igual. Eu gostava de escutar Kreisler, Elman, Francescatti, Milstein, Stern. De cada um você aprende alguma coisa.
Folha - O sr. não acha que os jovens violinistas de hoje estão tocando todos da mesma forma?
Perlman - Boa pergunta! De um certo modo, sim. O nível técnico subiu muito e aqui e ali você acha alguém com individualidade. Mas, tem muita gente que toca muito bem, tem som, mas o estilo é aquilo que chamamos de "moderno", e talvez as pessoas tenham medo de soar ultrapassadas. Hoje, o que se nota é que há muitos bons violinistas e todo mundo tende a soar igual por causa das gravações, da tecnologia digital e isso não é muito bom. Sempre que eu gravo, eu procuro soar como eu mesmo, não como outra pessoa. O problema é que, com essas máquinas sofisticadas,=dá para fazer qualquer um soar bem.



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