São Paulo, sexta, 17 de abril de 1998

Texto Anterior | Índice

Espetáculo mostra 'lado solar' de Clarice

da Sucursal do Rio

A peça "Clarice - Coração Selvagem", que estréia hoje na Casa da Gávea (zona sul do Rio), vai mostrar "o lado solar" da escritora de origem ucraniana Clarice Lispector (1920-1977).
Segundo a atriz Aracy Balabanian, que protagoniza o espetáculo e está comemorando 35 anos de carreira, Clarice dizia que queria muito casar dentro dela luzes e sombras, dia e noite, sol e lua.
Assim, a autora e diretora Maria Lucya Lima fez opção pelo lado "claro" da escritora, "que sempre foi pouco revelado ao público".
"A Clarice é modificadora. Ela sempre causa questionamento, e, como a maioria das pessoas acha que questionar é algo que causa angústia, a obra dela acabou ficando conhecida como depressiva. Mas vamos mostrar que tinha um lado muito positivo", disse Aracy.
"Clarice - Coração Selvagem" é uma coletânea de dados e informações sobre a vida e a obra da escritora.
Maria Lucya fez o roteiro baseado nos livros de Clarice, cartas enviadas por ela à sua irmã Tânia Kaufman, trechos de entrevistas concedidas a diversos jornais e revistas e comentários de amigos sobre sua personalidade.
No espetáculo, um casal de entrevistadores (Marcelo Escorel e Laura Arantes) faz perguntas a Clarice, e, por meio de suas respostas, sua personalidade vai sendo revelada.
Aracy Balabanian disse acreditar que, de todos os comentários dos amigos de Clarice, o do escritor Antônio Callado seja o que "talvez mais traduza a escritora".
"Quando falavam que a Clarice não gostava de conversar, o Callado dizia: "Que nada, ela é uma conversadeira infindável, só que interna'", disse a atriz.
"Melhor amiga"
Apesar de não ter conhecido Clarice, Aracy contou que, a partir do momento em que entrou em contato com a obra da escritora, fez dela sua "melhor amiga".
"A primeira vez que li um livro dela, "A Paixão Segundo G.H.', foi quando resolvi fazer análise. Ela causou transformações profundas na minha vida. Até hoje trocamos idéias permanentemente."
Vaidade
Assim, não foi difícil para a atriz compor o personagem. Ela contou que, durante uma leitura dramatizada da peça, em dezembro do ano passado, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), no Rio, em homenagem aos 20 anos da morte de Clarice, Tânia Kaufman a procurou para dizer que estava impressionada como Aracy estava parecida com sua irmã.
"Claro que existe a preocupação em fazermos a maquiagem como a que ela usava, mas é mais que isso. À medida que fui me aproximando da alma dela, as semelhanças foram surgindo, o olhar, os gestos. É todo um comportamento que vem de dentro para fora."
Comportamento que Aracy transportou para sua vida cotidiana. "Eu nunca fui de usar maquiagem fora do trabalho, mas agora, depois de Clarice, passo pelo menos batom, quando saio. Ela era extremamente vaidosa, tinha uma coleção de batons, não posso representá-la mal", disse a atriz.
A única característica da escritora que Aracy se recusou a assimilar foi a insônia. "Logo que comecei a estudar a peça, passei a ter dificuldade para dormir, assim como ela tinha, mas um dia dei um basta e disse: "Clarice, isso não pode continuar, quem tem insônia é você, e não eu.' Chegamos a um acordo."

Peça: Clarice - Coração Selvagem Direção: Maria Lucya Lima
Com: Aracy Balabanian, Marcelo Escorel, Laura Arantes
Onde: teatro Casa da Gávea (praça Santos Dumont, 116, Gávea, zona sul do Rio, tel. 021/239-3511)
Quando: a partir de hoje. De quinta a sábado, às 21h30, domingo, às 20h
Quanto: R$ 25, quinta, sexta e domingo; R$ 30, sábado.



Texto Anterior | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.