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DANÇA
Trupe suíça Mummenschanz, que se apresenta em SP, utiliza materiais como espuma e plástico em seus espetáculos
Silêncio e formas são os passos de "Next"
KATIA CALSAVARA
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO DO CHILE
Silêncio. As figuras estão no palco. Um papel gigante começa a fazer caretas, e duas bolonas, que
lembram o "Pac-Man" do Atari,
iniciam uma paquera que termina aos beijinhos. Uma gota d'água
gigantesca rola lá de trás para
quase escorrer no colo de quem
está na primeira fila. Um pedaço
de papelão, em formato de Robocop, encara a platéia e ensaia uns
passos tímidos. Aos risos, a platéia pede "Next".
Esse é o nome do mais recente
espetáculo do Mummenschanz,
uma trupe suíça que consegue dar
vida a diferentes tipos de materiais. Espuma, plástico, arame,
papéis de todos os tipos se transformam em grandes máscaras para o corpo.
É difícil definir o trabalho do
grupo, fundado em 1972 pela ítalo-americana Floriana Frassetto,
53, e os suíços Bernie Schürch, 60,
e Andreas Bosshard (morto em
1992), sem esbarrar em uma intrigante miscelânea de comédia dell'arte, teatro, mímica, performance, circo, balé de máscaras,
em que os corpos pouco importam, senão para fazer viver as figuras do espetáculo.
O trio de estudantes de arte queria criar uma nova forma de teatro: sem fala, sem canto nem dança. Deu certo. A atual formação
do Mummenschanz (Frassetto,
Schürch, Rafaella Mattioli, 48,
John Charles Murphy, 55) faz, todos os anos, turnês de seis meses
pelo mundo e, no restante do ano,
se apresentam na Suíça, em um
teatro próprio e bem equipado,
onde também realizam festivais e
incentivam novos artistas.
Na década de 70, eles estiveram
no Brasil, e para o país voltam
anos depois para circular por São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e
Aracaju, e depois continuar o giro
pela América do Sul.
Em 1979, a trupe levou seu teatro do silêncio à Broadway, onde
ficou em cartaz por quatro anos.
Não antes de fazer apresentações
em ruas, escolas e pequenos teatros ao redor do mundo.
Em Santiago, os dois diretores
da companhia, Frassetto e
Schürch, falaram à Folha um dia
após apresentação no teatro Providencia, onde foi impossível não
notar o sorrisão dos espectadores.
"Típico" de quem consegue fazer
falar um pedaço de papel, eles são
sensíveis. "As emoções vêm da
simplicidade dos objetos. A história não é importante. O público
faz suas associações. Quando começamos, nas ruas sempre checávamos as reações das pessoas.
Precisávamos saber se conseguiríamos fazê-las parar o que estavam fazendo. Depois, começamos a desenvolver maneiras de
dialogar com o público. Queríamos transformar o palco em playground", disse Schürch.
E a palavra "mummenschanz",
o que quer dizer? ""Mummen"
vem de cobrir, mascarar; "chanz",
do francês "chance", sorte. A expressão se refere a um antigo jogo
de cartas disputado pelos imigrantes antes de marcharem para
outros países. Para que os jogadores não descobrissem as cartas
uns dos outros, usavam máscaras
que, segundo eles, traziam sorte",
explica a diretora.
Para o grupo, o segredo de longevidade é simples. "Nós não escolhemos público, e isso nos
mantêm vivos. Não fazemos um
teatro elitista, não existe essa de
"ele não pode vir porque não vai
entender'", diz Schürch.
Nem mesmo o toque insistente
de um celular que toca na platéia
quebra a música-silêncio do espetáculo. Ali, serviu de ruído para
um rebolar improvisado dos artistas, revestidos de papelão.
E por que o silêncio? "Se fôssemos trabalhar com música, teria
de ser música ao vivo, e os músicos teriam de nos acompanhar. O
silêncio tem escala, pode ser tenso, relaxante, empolgante", diz
um bem-humorado encantador
de figuras.
A jornalista Katia Calsavara viajou a
convite da Dell'Arte
NEXT. Espetáculo com a companhia
suíça Mummenschanz. Quando: quarta,
às 21h30; sexta, às 22h; sábado, às 21h, e
domingo, às 20h. Onde: DirecTV Music
Hall (av. Jamaris, 213, Moema, São Paulo,
tel.: 0/xx/ 11/6846-6040). Quanto: de R$
60 a R$ 120.
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