São Paulo, Segunda-feira, 17 de Maio de 1999
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CINEMA

Trilha de 'Star Wars' entra nas paradas

Divulgação
Cena de 'Star Wars: Episode 1 - A Ameaça Fantasma', de George Lucas, que tem a trilha sonora nas paradas dos EUA


das agências internacionais

O multipremiado compositor John Williams, autor de trilhas sonoras de filmes como "Tubarão", de Steven Spielberg, está de volta às paradas.
Sua nova empreitada, a trilha do novo episódio de "Star Wars", lançada na semana passada, estreou em terceiro na lista de álbuns mais vendidos da "Billboard", uma façanha e tanto por se tratar de uma trilha sonora e não de um disco de um cantor ou banda pop. Antes de Williams, na "Billboard", só "A Place in the Sun", de Tim McGraw, e "Fanmail", do grupo TLC.
Em entrevista realizada por sua gravadora para a divulgação do trabalho nos EUA e publicada pela aqui com exclusividade pela Folha, Williams falou de seu processo de trabalho e sobre como conheceu Lucas. O filme estréia nos EUA nesta quarta-feira e chega ao Brasil em 24 de junho.

Pergunta - Qual foi sua impressão do "Guerra nas Estrelas" original quando você o viu pela primeira vez?
John Williams -
Conheci George, se não me engano, por volta de 1976. Ele estava procurando um compositor para o filme e acho que pediu ao seu amigo Steven Spielberg uma recomendação. Eu acabara de fazer "Louca Escapada" e "Tubarão" com Spielberg, e ele me recomendou.
Eu fiquei muito feliz por fazer o que imaginei como um filme de final de semana sobre naves espaciais e jamais sonhei que ele teria a longevidade e impacto sobre o público que acabou obtendo.
Pergunta - George frequentemente fala de seus filmes como "filmes mudos". Obviamente não o são, mas ele se vê trabalhando nesse espírito. O que isso quer dizer para você como compositor?
Williams -
Quando George fala de seus filmes como "filmes mudos", acho que se refere a diversos aspectos do gênero. Ele escreve roteiros, e eles têm diálogos, mas há uma dinâmica na edição e na concepção da coisa que é realmente cinematográfica. Não é expressão literária, ainda que haja um aspecto literário no trabalho. E assim, quando ele diz "filme mudo", acredito que esteja se referindo a uma espécie de energia rítmica e visual em que você poderia praticamente remover o texto e ainda assim a dinâmica continuaria presente.
Muita gente já notou que nem mesmo os filmes mudos dos anos 20 foram realmente silenciosos. Havia sempre uma orquestra tocando, um organista ou música clássica sendo executada ao mesmo tempo que o filme. E isso continua realmente a ser uma parte da tradição daquilo que fazemos. George tem mesmo uma forte ligação com o passado.
Pergunta - Conte-me um pouco sobre o processo. A partir de que ponto você se envolve?
Williams -
Bem, ao longo dos anos, George se manteve em contato comigo. Ele me telefonou um ano atrás para dizer que estava chegando a hora, que o roteiro estava pronto e que ele estava se preparando para filmar. Depois, me ligou de novo dois ou três meses mais tarde para uma sessão prévia de exibição. Discutimos em que pontos a música entraria, que efeito a música deveria ter etc. Com isso decidido, fui ao meu estúdio em Amblin, em Los Angeles, e escrevi a partitura.
Pergunta - Em que a música de "Episódio Um" difere da música dos filmes anteriores da série "Guerra nas Estrelas"?
Williams -
Você e eu estamos fazendo essa entrevista em 1999, mais de 20 anos depois que a trilogia começou. É atemorizante, para mim ou qualquer outro compositor, começar qualquer projeto. A gente pensa sempre, "será que consigo fazer algo tão bom?". Esse desafio estava sempre presente em "A Ameaça Fantasma".
Decerto é verdade que temos aproximadamente 120 minutos de música nesse filme. Talvez 10%, ou menos, vêm dos três filmes anteriores. Há um minuto e meio da música de abertura de "Guerra nas Estrelas", que nós consideramos que seria obrigatória. Assim, cerca de 90% da música é nova.
Pergunta - Ao mesmo tempo, deve ter havido muita pressão pessoal de sua parte para não repetir o trabalho, mas dar-lhe uma voz nova e pessoal.
Williams -
É um desafio maravilhoso, tentar manter as coisas e ao mesmo tempo torná-las diferentes, novas. No tema de Anakin, compus de trás para a frente, da mesma forma que George escreveu seu roteiro. Trata-se na verdade do tema de Darth Vader desmontado e reconstruído. Se você ouvir com cuidado, perceberá os intervalos estruturais da "Marcha do Império" de Darth Vader, que é uma peça sobre o poder maligno do império, transformados em uma canção doce, lírica e juvenil. A música, como o menino, vai se transformar em alguma coisa mais sombria e complicada.
Pergunta - Como você acha que a audiência reagirá a esse filme?
Williams -
Bem, sempre que um filme é precedido por tamanha antecipação um cantinho de sua alma se preocupa com a possibilidade de que não atinja as expectativas das pessoas. Eu jamais faço quaisquer suposições quanto a essas coisas. Espero que gostem, que se deixem comover, que seja uma grande experiência para eles.


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