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TELEVISÃO
E Chico Anysio ficou sem espelho
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
O paliteiro de homens e mulheres-traço da televisão vive um
momento especial de pânico. Todo mundo só quer ver futebol, às
vezes em programa duplo, com
Romário, o mais artilheiro de todos, dando recado com a bola e
com as camisetas. O Flamengo, isto é, o mundo delira.
Televisão, na semana passada,
foi também o Uálber e o Edilberto,
abalando tudo que era Bangu, em
seu confronto com Lili Carabina e
os troncudos asseclas que ela
trouxe para o assalto. As gargalhadas foram tantas, e tão felizes,
que se espera não tenha sobrado
um só espelho para o Chico Anysio contemplar sua beleza e a Regina Casé depilar sua muvuca.
Diante desse rebuliço todo, a estréia de "Força de um Desejo" só
não passou despercebida por causa da solenidade que o eco dos
seus passos e respiração contêm. É
a novela escrita por Gilberto Braga, talvez comemorando um aniversário particular, sobre escravas que não se chamam Isaura.
A novela parece ter como centro
o barão Reginaldo Faria e, num
cantinho à esquerda, a baronesa
Sônia Braga, escurecida e assustada. Há quem acredite que esse
retraimento seja decorrente do
número de saias que ela tem para
vestir. Como se sabe, a arte de Sônia Braga só se mostra leve e solta,
quando não tem saia ou qualquer
outra coisa para vestir.
A primeira cena situa tudo muito bem. Negros e jumentos trabalham com Selton Mello numa
enorme fazenda de café. Cacheadinho, Selton é filho do barão. A
paisagem é moderna demais para
a arte de um Frans Post. Só a sede
da fazenda mais parece, em seu
gigantismo, com um cassino americano ou, com mais respeito, com
um museu imperial.
Esse casal de barões tem um segredo bem trancado. De presente
para o seu quarto, a baronesa
acaba de ganhar grades para as
janelas. Deve ser por causa do
trem de muita fumaça e muitos
vagões que chega à estação tão
próxima. Nesse trem viaja o vilão
Paulo Betti, que cobiça tudo o que
o barão Reginaldo tem. E ele tem
muita coisa. Até um filho galã,
que, num descontentamento, embarcou para a corte. Para que assim se formasse o casal Fábio Assunção e Malu Mader, aquele que
é o mais adorado pelos fãs. Ela
usa saias rodadíssimas e, na cabeça, um diadema da ala das cortesãs. Muito bonitinho o "namoro"
dos dois, quando disputam, num
leilão, o mesmo rapaz escravo.
O ambicioso novo-rico do Paulo
Betti é divertido como personagem, nunca como subtexto. Ele
aprende esgrima na esperança
frustrada de um elegante "en-garde" com o inimigo. Mas o barão
sabe mais: "Esse é um Aubusson".
"Notável pintor", diz o rival boçal. O barão se diverte e nós admiramos a perfeita reconstituição de
época. Tem até Rosita Thomaz
Lopes e Cláudio Corrêa e Castro
no elenco.
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