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MÚSICA ERUDITA
Grupo francês apresenta obras de 11 compositores, como Cage, Varèse e Xenakis, a partir de amanhã
Les Percussions exibe toneladas de luz e som
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
Les Percussions de Strasbourg,
grupo francês criado em 1962 e referência histórica pioneira no uso
da percussão para a produção de
obras contemporâneas, apresenta-se entre amanhã e quinta-feira na
temporada da Sociedade de Cultura Artística.
Os seis músicos, todos de formação clássica, reúnem nas três récitas obras de 11 compositores -como Varèse, Cage, Xenakis- , com
o emprego de 400 instrumentos e
ao todo cinco toneladas de equipamento de luz e som.
Eles têm hoje como diretor artístico Jean-Paul Bernard, 42, que
deu a seguinte entrevista à Folha.
Folha - O grupo está sentindo os
efeitos da transformação que a noção de contemporaneidade vem
sofrendo nos últimos dez anos?
Jean-Paul Bernard - É evidente
que o repertório para percussão
evoluiu bastante depois das obras
para orquestra do início do século
e das primeiras obras de Bartok,
Varèse ou Cage. Nos anos 60, os
compositores tendiam a usar um
número excessivo de instrumentos. Eles hoje dominam bem melhor o potencial da percussão. O
repertório enriqueceu-se consideravelmente, tornou-se mais eclético, as tendências musicais se diversificaram.
O mundo musical sofreu os efeitos da fermentação das mesmas
idéias que transformaram nossa
sociedade. Claro que, por isso, sofremos os efeitos dessa nova "contemporaneidade".
Folha - O pós-modernismo é visto por muitos como aceitação da
diversidade cultural. Os percussionistas não foram precursores, por
incorporarem há tempos a sonoridade extra-européia?
Bernard - A maior parte dos instrumentos que hoje utilizamos
tem uma origem bastante antiga.
Alguns sofreram evolução profunda para se tornarem marimba ou
vibrafone.
Outros são utilizados em suas
concepções originais, como as maracas e os tambores. É uma prova
que a percussão favorece a miscigenação de culturas, de tradições e
de linguagens.
Folha - Compositores que o sr. citou há pouco -Cage, Varèse e
mais Boulez- têm para o grupo o
peso de referência histórica ou
eles são bem mais que isso: fontes
nas quais o grupo se alimenta para
obter novas estruturas sonoras?
Bernard - Esses nomes são importantes marcos históricos, da
mesma forma que Schoenberg,
Stravinski ou Xenakis e Stockhausen. Há para nós um aprendizado
natural ao conciliar o cultivo desses marcos e a descoberta de novos
terrenos musicais, a fim de auxiliar
na aparição de outros compositores.
Folha - Les Percussions foram a
primeira formação do gênero. É
positivo ou negativo o fato de que
essa forma de conjunto tenha em
seguida proliferado?
Bernard - Para nós, é uma honra
termos contribuído para a aparição de outros conjuntos pelo mundo. Entre eles e nós há um processo
enriquecedor de intercâmbio. O
fato de sermos numerosos também permite a ampliação do repertório.
Folha - O que significa, para o
grupo, a idéia de futuro?
Bernard - É pluralidade, diversidade, dúvidas, loucuras e criações.
Folha - Os espetáculos das Percussions têm outros ingredientes,
além da produção sonora, como o
jogo de iluminação. É um meio para atrair o público ou, bem mais
que isso, uma dimensão essencial
da interpretação?
Bernard - Seria injusto recusar
recursos tecnológicos da atualidade. Ninguém se choca quando um
grupo de rock utiliza luzes e cenários. Nada justificaria a apresentação da música de forma estática,
como se fazia no início do século.
Folha - Como se compõe o orçamento do grupo?
Bernard - A arrecadação própria,
sobretudo com espetáculos, corresponde a 68% de nosso orçamento. O restante é coberto por
subvenções, com três quartos do
governo francês e um quarto da região da Alsácia.
Concerto: Les Percussions de Strasbourg
Quando: amanhã, quarta e quinta, às 21h
Onde: teatro de Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 011/258-3616)
Quanto: de R$ 40 a R$ 80; estudantes
pagam R$ 10, meia hora antes de cada
concerto
Patrocinadores: BankBoston, Bovespa,
Volkswagen e Votorantim
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