São Paulo, Segunda-feira, 17 de Maio de 1999
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MÚSICA ERUDITA
Grupo francês apresenta obras de 11 compositores, como Cage, Varèse e Xenakis, a partir de amanhã
Les Percussions exibe toneladas de luz e som

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

Les Percussions de Strasbourg, grupo francês criado em 1962 e referência histórica pioneira no uso da percussão para a produção de obras contemporâneas, apresenta-se entre amanhã e quinta-feira na temporada da Sociedade de Cultura Artística.
Os seis músicos, todos de formação clássica, reúnem nas três récitas obras de 11 compositores -como Varèse, Cage, Xenakis- , com o emprego de 400 instrumentos e ao todo cinco toneladas de equipamento de luz e som.
Eles têm hoje como diretor artístico Jean-Paul Bernard, 42, que deu a seguinte entrevista à Folha.

Folha - O grupo está sentindo os efeitos da transformação que a noção de contemporaneidade vem sofrendo nos últimos dez anos?
Jean-Paul Bernard -
É evidente que o repertório para percussão evoluiu bastante depois das obras para orquestra do início do século e das primeiras obras de Bartok, Varèse ou Cage. Nos anos 60, os compositores tendiam a usar um número excessivo de instrumentos. Eles hoje dominam bem melhor o potencial da percussão. O repertório enriqueceu-se consideravelmente, tornou-se mais eclético, as tendências musicais se diversificaram.
O mundo musical sofreu os efeitos da fermentação das mesmas idéias que transformaram nossa sociedade. Claro que, por isso, sofremos os efeitos dessa nova "contemporaneidade".
Folha - O pós-modernismo é visto por muitos como aceitação da diversidade cultural. Os percussionistas não foram precursores, por incorporarem há tempos a sonoridade extra-européia?
Bernard -
A maior parte dos instrumentos que hoje utilizamos tem uma origem bastante antiga. Alguns sofreram evolução profunda para se tornarem marimba ou vibrafone.
Outros são utilizados em suas concepções originais, como as maracas e os tambores. É uma prova que a percussão favorece a miscigenação de culturas, de tradições e de linguagens.
Folha - Compositores que o sr. citou há pouco -Cage, Varèse e mais Boulez- têm para o grupo o peso de referência histórica ou eles são bem mais que isso: fontes nas quais o grupo se alimenta para obter novas estruturas sonoras?
Bernard -
Esses nomes são importantes marcos históricos, da mesma forma que Schoenberg, Stravinski ou Xenakis e Stockhausen. Há para nós um aprendizado natural ao conciliar o cultivo desses marcos e a descoberta de novos terrenos musicais, a fim de auxiliar na aparição de outros compositores.
Folha - Les Percussions foram a primeira formação do gênero. É positivo ou negativo o fato de que essa forma de conjunto tenha em seguida proliferado?
Bernard -
Para nós, é uma honra termos contribuído para a aparição de outros conjuntos pelo mundo. Entre eles e nós há um processo enriquecedor de intercâmbio. O fato de sermos numerosos também permite a ampliação do repertório.
Folha - O que significa, para o grupo, a idéia de futuro?
Bernard -
É pluralidade, diversidade, dúvidas, loucuras e criações.
Folha - Os espetáculos das Percussions têm outros ingredientes, além da produção sonora, como o jogo de iluminação. É um meio para atrair o público ou, bem mais que isso, uma dimensão essencial da interpretação?
Bernard -
Seria injusto recusar recursos tecnológicos da atualidade. Ninguém se choca quando um grupo de rock utiliza luzes e cenários. Nada justificaria a apresentação da música de forma estática, como se fazia no início do século.
Folha - Como se compõe o orçamento do grupo?
Bernard -
A arrecadação própria, sobretudo com espetáculos, corresponde a 68% de nosso orçamento. O restante é coberto por subvenções, com três quartos do governo francês e um quarto da região da Alsácia.



Concerto: Les Percussions de Strasbourg
Quando: amanhã, quarta e quinta, às 21h
Onde: teatro de Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616)
Quanto: de R$ 40 a R$ 80; estudantes pagam R$ 10, meia hora antes de cada concerto
Patrocinadores: BankBoston, Bovespa, Volkswagen e Votorantim




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