São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2004

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FOTOGRAFIA

Mostra no Rio de Janeiro traz 66 imagens com acabamento museológico, que podem ser compradas pelo público

Pierre Verger, com status de arte, ganha o mundo

EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

O fotógrafo e antropólogo francês Pierre Verger (1902-94) desembarca hoje, finalmente, no mercado de arte, 58 anos após sua chegada ao Brasil.
A mostra "Pierre Verger: 66 Imagens", que será aberta hoje à noite na Pequena Galeria 18, em Copacabana, no Rio de Janeiro, é a primeira na qual as fotografias de Verger, com tratamento de obra de arte, poderão ser adquiridas pelo público.
A idéia de profissionalizar a comercialização das fotografias foi da Fundação Pierre Verger, órgão criado para a difusão e a preservação do trabalho do mestre francês. O colecionador e galerista Mario Cohen foi a pessoa escolhida para dar vazão a esse projeto. Também curador da mostra e proprietário da galeria que sedia a exposição, Cohen elegeu 66 imagens entre os 64 mil negativos disponíveis.
"Optei pelas imagens da primeira fase de Verger no Brasil, entre 1946 e os anos 50. Essa era uma época em que ele ainda não havia começado seu trabalho de pesquisa e documentação das religiões afro. Era basicamente um fotógrafo encantado com um mundo novo", diz.
De fato, as imagens expostas flagram um fotógrafo em êxtase circulando por Salvador, na Bahia, descobrindo ressonâncias da África no Brasil. Os retratos formam a maior parte do conjunto dessas imagens com domínio de fotografias de homens negros que evidenciam um olhar intensamente homoerótico e desejante, algo ainda pouco discutido na obra do fotógrafo.
Nessa fase de Verger, é possível perceber também seu alinhamento com o estilo clássico francês em capturar flagrantes com grande rigor de composição, algo que se perderia em parte anos mais tarde quando sua fotografia ficou mais a serviço do registro documental das suas atividades de etnólogo e pesquisador.
"Pierre Verger: 66 Imagens" virou também um livro homônimo e inaugura a coleção "Pequeno Livro da Pequena Galeria 18", idealizada por Cohen: "Minha intenção é lançar três livros por ano, dois de imagens e um com textos de reflexão sobre a fotografia".
O projeto de difusão da obra de Verger, capitaneado pela fundação, não pára aqui. Está em fase de captação de recursos um documentário de 17 capítulos inspirado no livro "Orixás", que prevê filmagens em Salvador, Benin, Haiti e Cuba. Além disso, está prevista uma exposição itinerante organizada pelo Instituto Goëthe por cinco cidades alemãs neste ano e uma retrospectiva no museu Jeu de Paume, em Paris, em 2005. A ponte Brasil-África, que Verger sabiamente estreitou, agora se alarga e ganha o mundo.


PIERRE VERGER: 66 IMAGENS. Onde: Pequena Galeria 18 (av. Atlântica, 1.782, loja F, Copacabana, Rio; tel. 0/xx/21/ 2549-3897). Quando: vernissage hoje, às 19h30; de seg. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 17h. Quanto: preço das obras, de US$ 2.000 a US$ 3.000 (fotos em preto-e-branco, 0,35 m x 0,35 m).


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