São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2004

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18ª SPFW

Diretor do evento comenta atual crise na moda brasileira e adianta mudanças no calendário para o ano que vem

Edição quer fazer dinheiro e falar sério

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Por trás dos flashes, do tititi e da ferveção, a São Paulo Fashion Week do verão 2005 quer falar sério. Iniciada ontem no prédio da Bienal, a 18ª edição do evento pretende consolidar a cidade na condição de capital internacional da moda, atraindo a atenção do Brasil e do mundo, e movimentar R$ 900 milhões, com um volume de 18 milhões de peças. Tudo segundo números da organização, ao custo de R$ 5 milhões, para sete dias de evento.
Ainda que esses números possam impressionar, a indústria da moda no Brasil sofre. Nesta edição, há menos dinheiro correndo entre as mãos de investidores e grifes.
Com patrocínios minguados, quatro marcas deixam de desfilar, enquanto três grandes grifes decidiram abolir seus desfiles exclusivamente masculinos. A moda brasileira luta contra a agonizante situação do varejo, já que o setor do vestuário é um dos que mais dependem da evolução da massa salarial. Na entrevista coletiva de abertura do evento, que aconteceu ontem pela manhã no auditório do MAM, a prefeita Marta Suplicy estava presente e anunciou um plano da Prefeitura de São Paulo para incentivar as exportações e fazer crescer a cidade como um pólo de moda.
Ainda assim, Paulo Borges, diretor da São Paulo Fashion Week, diz que "a Bienal está linda" e que não vê um momento de crise, mas de "um processo de foco naquilo que é prioritário". "Certamente os tempos não estão fáceis, tanto na moda como em tantos outros segmentos. Existe uma redução nos investimentos das marcas, e isso não é novidade. Isso também não inviabiliza o evento ou as coleções das marcas, que no fundo é o que importa. Estamos todos passando por uma adequação ao momento do país."
A São Paulo Fashion Week visa também "puxar" a indústria têxtil ao ajustar suas datas -tudo objetivando a recuperação do varejo. Esta edição acontece 15 dias mais cedo do que a do ano anterior e a próxima, marcada para 12 de janeiro de 2005, também terá data antecipada com relação à edição de 2004. "Essa antecipação faz parte de um processo que deve durar dois anos, de ajustar os lançamentos e pré-lançamentos em todas as etapas da cadeia têxtil, desde fiação e tecelagem até a confecção e o varejo. O objetivo é garantir prazos e condições adequadas de produção, otimizando distribuição e reduzindo os riscos", diz Borges.
Para Eduardo Rabinovich, vice-presidente do grupo Vicunha (um dos patrocinadores do evento e uma das maiores indústrias do Brasil) e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção (Abit), a antecipação do calendário é vista com naturalidade pelo segmento. "Os lançamentos afetam mais o varejo e os consumidores que as empresas têxteis de médio e grande porte, já que as marcas de moda, que buscam tecidos diferenciados, ainda compram em pequenas quantidades. Dessa maneira, a antecipação das coleções não influi necessariamente nos lançamentos de tecidos."
Parcerias com estilistas para desenvolvimento de produtos reforçam a imagem das empresas e servem de incentivo para confecções apostarem em tecidos mais arrojados. "Às vezes, esse produto é mais caro. E, como o poder de compra do consumidor diminui, o processo trava", explica Rabinovich.
Para o empresário, quando a cultura de moda se sedimentar no Brasil -"e a SPFW está funcionado como um instrumento para essa mudança"-, "os lançamentos das indústrias têxteis e das coleções de confecções populares também estarão em sintonia com o novo calendário, mas este ainda é um processo muito longo", diz.
Segundo dados da Abit, desde 2002 o mercado interno da cadeia têxtil está estabilizado. Em 2003, o faturamento bruto do setor foi de US$ 22,7 bilhões.
A entidade está otimista em relação a 2004, estimando um crescimento de 3,5% comparado ao ano passado.


Colaboraram Eduarda de Souza e Henriete Mirrione, free-lances para a Folha


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