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18ª SPFW
Diretor do evento comenta atual crise na moda brasileira e adianta mudanças no calendário para o ano que vem
Edição quer fazer dinheiro e falar sério
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
Por trás dos flashes, do tititi e da
ferveção, a São Paulo Fashion
Week do verão 2005 quer falar sério. Iniciada ontem no prédio da
Bienal, a 18ª edição do evento pretende consolidar a cidade na condição de capital internacional da
moda, atraindo a atenção do Brasil e do mundo, e movimentar R$
900 milhões, com um volume de
18 milhões de peças. Tudo segundo números da organização, ao
custo de R$ 5 milhões, para sete
dias de evento.
Ainda que esses números possam impressionar, a indústria da
moda no Brasil sofre. Nesta edição, há menos dinheiro correndo
entre as mãos de investidores e
grifes.
Com patrocínios minguados,
quatro marcas deixam de desfilar,
enquanto três grandes grifes decidiram abolir seus desfiles exclusivamente masculinos. A moda
brasileira luta contra a agonizante
situação do varejo, já que o setor
do vestuário é um dos que mais
dependem da evolução da massa
salarial. Na entrevista coletiva de
abertura do evento, que aconteceu ontem pela manhã no auditório do MAM, a prefeita Marta Suplicy estava presente e anunciou
um plano da Prefeitura de São
Paulo para incentivar as exportações e fazer crescer a cidade como
um pólo de moda.
Ainda assim, Paulo Borges, diretor da São Paulo Fashion Week,
diz que "a Bienal está linda" e que
não vê um momento de crise, mas
de "um processo de foco naquilo
que é prioritário". "Certamente os
tempos não estão fáceis, tanto na
moda como em tantos outros segmentos. Existe uma redução nos
investimentos das marcas, e isso
não é novidade. Isso também não
inviabiliza o evento ou as coleções
das marcas, que no fundo é o que
importa. Estamos todos passando
por uma adequação ao momento
do país."
A São Paulo Fashion Week visa
também "puxar" a indústria têxtil
ao ajustar suas datas -tudo objetivando a recuperação do varejo.
Esta edição acontece 15 dias mais
cedo do que a do ano anterior e a
próxima, marcada para 12 de janeiro de 2005, também terá data
antecipada com relação à edição
de 2004. "Essa antecipação faz
parte de um processo que deve
durar dois anos, de ajustar os lançamentos e pré-lançamentos em
todas as etapas da cadeia têxtil,
desde fiação e tecelagem até a
confecção e o varejo. O objetivo é
garantir prazos e condições adequadas de produção, otimizando
distribuição e reduzindo os riscos", diz Borges.
Para Eduardo Rabinovich, vice-presidente do grupo Vicunha
(um dos patrocinadores do evento e uma das maiores indústrias
do Brasil) e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção (Abit), a antecipação do
calendário é vista com naturalidade pelo segmento. "Os lançamentos afetam mais o varejo e os consumidores que as empresas têxteis de médio e grande porte, já
que as marcas de moda, que buscam tecidos diferenciados, ainda
compram em pequenas quantidades. Dessa maneira, a antecipação das coleções não influi necessariamente nos lançamentos de
tecidos."
Parcerias com estilistas para desenvolvimento de produtos reforçam a imagem das empresas e
servem de incentivo para confecções apostarem em tecidos mais
arrojados. "Às vezes, esse produto
é mais caro. E, como o poder de
compra do consumidor diminui,
o processo trava", explica Rabinovich.
Para o empresário, quando a
cultura de moda se sedimentar no
Brasil -"e a SPFW está funcionado como um instrumento para
essa mudança"-, "os lançamentos das indústrias têxteis e das coleções de confecções populares
também estarão em sintonia com
o novo calendário, mas este ainda
é um processo muito longo", diz.
Segundo dados da Abit, desde
2002 o mercado interno da cadeia
têxtil está estabilizado. Em 2003, o
faturamento bruto do setor foi de
US$ 22,7 bilhões.
A entidade está otimista em relação a 2004, estimando um crescimento de 3,5% comparado ao
ano passado.
Colaboraram Eduarda de Souza e Henriete Mirrione, free-lances para a Folha
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