São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 2005

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ERIKA PALOMINO

FASHION RIO INJETA ROMANTISMO À BRASILEIRA NO PLANETA FASHION

O romantismo entra em cena no Fashion Rio. O mundo dos babados, das rendas, da ultrafeminilidade que a moda internacional está propondo ganha agora contornos brasileiros, desdobrados pelos estilistas desfilando no evento. O resultado? Lindos momentos, belas imagens de mulher. Tudo o que a gente -que ama a moda- mais gosta. E o melhor, diferentes visões, refletindo esse amadurecimento da moda made in Rio.

 

Alessa Migani, por exemplo, explorou um certo barroco tropical erótico, partindo de sofisticadas calcinhas, saias estampadas e adoráveis chocolates para, no segundo andar de sua casa, resumir tudo na cena da garota presa ao lustre pelos cabelos, em sua própria cama. E diz que, no final, a modelo não resistiu e soltou-se, ficando deitada para trás, com aquela gigantesca e dramática saia. E a moda não anda querendo mesmo um pouco de drama?
Virada de 360 graus para a deliciosa pin-up tropical da Salinas, com os impecáveis batons no laranja perfeito do maquiador Robert Estevão. A coleção recoloca a estilista Jacqueline de Biase no mundo das estampas que podem virar desejos da estação. E as formas mostram os bumbuns mais cobertos, não estão tão pequeninas, refletindo, dentro da moda praia, a vontade global de uma mulher mais "fechada", mais coberta, como vimos nas recentes temporadas internacionais. Coquetes, graciosas, era delicioso ver as meninas subindo as ladeiras de madeira brasileiramente cercadas de bananas na passarela. Isabeli sorrindo, à vontade e espontânea como nunca; Letícia Birkheuer, liiinda; Jeísa mais feliz e linda na blusinha listrada de paetês, e finalmente o mix da beleza brasileira, representado pela mulata que não está no mapa Emanuela de Paula e a mestiça Juliana Imai, corpo perfeito, sequíssimo, aprovado pela Gucci (ela foi a única brasileira do último desfile da marca).
Outra história: a Sta. Ephigênia, que fez um desfile fashion, brincando sem pretensão com os elementos da alta moda, como adoram fazer seus estilistas, Marco Maia e Luciano Canale. Foi gostoso ver os desdobramentos em vermelho, preto e branco, as silhuetas que mexiam com volumes, uma das novas ondas do Planeta Fa- shion. Foi um desfile limpo, dentro da história da marca, que completa dez anos de vida. E concordaram as compradoras luxuosas da grife, como Maria José Magalhães Pinto ("Achei ma-ra-vi-lho-so"), perfeitamente vestida de Sta. Ephigênia, na primeira fila VIP, de onde ovacionaram os estilistas, trocando beijinhos ali mesmo.
E, para dar inveja nos criadores gringos, que rebolam para fazer suas coleções de verão, Mara Mac consegue bons momentos numa chiquerie de rendas, algodões e crochês, inspiradas no sertão. É isso o que o mundo quer da gente.

Colaboraram Jackson Araujo, André do Val e Sergio Amaral, enviados especiais ao Rio

COLEÇÕES CONFIRMAM GOSTO POR ESTAMPARIA
O Fashion Rio de verão 2006 confirma o gosto das cariocas pelas estampas. Nos dois primeiros dias de evento, duas coleções tiveram como denominador o excelente trabalho de Ana Laet, que desenhou as estampas de fundo escuro da Maria Bonita e as levíssimas pinturas da Permanente, de Andréa Saletto. Vale lembrar que a Zigfreda, de Kátia Wille, apareceu justamente a partir do trabalho desenvolvido para a Maria Bonita Extra. As duas marcas estão entre as mais esperadas hoje.

BRASILIDADE APARECE EM TODA PARTE
O clima de brasilidade está no ar mesmo. Pesquisando entre um desfile e outro, conheci o trabalho de Lurdinha Oliveira, uma designer de acessórios pernambucana que está vendendo no Espaço Lundgren. Colocada logo na entrada, junto a um look de André Lima, cria uma interessante imagem de jet set brasileiro. Algo como um Missoni do Nordeste, entende? Lurdinha trabalha com metal e pau-brasil, com um design simples e ao mesmo tempo sofisticado. Se fosse na Colette, não tinha mais nenhum. Aposto e ganho.

Conversinha

Dani Rolland e o novo samba hype

Sou suspeita: sou fã. Dani Rolland, para mim, é o melhor sound designer do momento. Quem (ou)viu a trilha dele para a Raia de Goeye na última São Paulo Fashion Week sabe do que estou falando. E desta vez, com a perigosa tarefa de recuperar o repertório de Carmen Miranda para a Salinas, ele não decepcionou.
Muito pelo contrário. Ex-Metrô, e quem tem mais de 30 anos sabe do que estou falando, Rolland se especializou na sofisticação dos timbres e surpresa da abordagem. Ao colocar uma banda com o ultramegacool Pedro Sá na guitarra, a cantora Nilze Carvalho, talento da nova geração do samba carioca, e mais algumas bases pré-gravadas, Rolland deixou a platéia boquiaberta e contente. Confira a seguir trechos da conversinha solta, entre as muitas bananas do cenário e a desmontagem do som, depois da apresentação.

 

Folha - Dani, foi incrível a trilha, você conduziu lindamente o desfile.
Dani Rolland -
Você achou mesmo? Fiquei preocupado porque só tivemos um ensaio...
Folha - É mesmo? Não pareceu. Até pensei: nossa, que organizados, eles devem ter ensaiado pencas...
Rolland -
Nada. A gente estava na maior adrenalina. Mas a Nilze é uma deusa, um fenômeno. Amei trabalhar com ela.
Folha - Puxa, ela é incrível mesmo. E só poderia ser assim, porque foi superverdadeiro, brasileiro, genuíno. Se tivesse entrado uma batida, teria sido caricato e forçado.
Rolland -
Eu pensei: tem que ser uma cantora de samba. Então achei as meninas na Lapa, numa noite em que elas estavam cantando lá. A Nilze é uma cantora prodígio, com 13 anos ela estava gravando um CD, ela é considerada um fenômeno, e logo viajou para o Japão e acaba de voltar de Las Vegas. Tive muita sorte de encontrá-la...
Folha - Eu fiquei chocada com a trilha porque não era clichê e, além disso, é tão brasileiro, eu ouço isso em casa. Ouço mesmo.
Rolland -
Jura? A gente estava tão nervoso... Foi o maior estresse. Ainda bem que deu tudo certo...


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