São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

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Crítica/estudo

Geógrafo analisa diferentes formas do medo

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

"Não há nada a temer a não ser o medo", dizia um personagem de um belo filme alemão.
Esse sentimento humano tão universal quanto o amor funciona como um alerta contra os perigos, é essencial nas estratégias de sobrevivência, mas, quando cai nas mãos do inimigo, produz efeito contrário, paralisando sua vítima e deixando-a acuada.
Mas de onde vem o medo como foi experimentado ao longo da história e quais as formas mais comuns de sua aparição?
Em "Paisagens do Medo", o geógrafo Yi-fu Tuan dedica-se a trazer à tona suas inúmeras formas. Com o auxílio da história mas também da psicologia e da antropologia, o professor de origem chinesa e hoje emérito da Universidade de Wisconsin-Madison traça um panorama da angústia que acompanha o homem desde as origens.
Apesar de sua edição original não ser recente (a obra é de 1979), o advento do terror em escala planetária no século 21 tornou suas conclusões ainda mais válidas. Sem pretender a profundidade dos grandes tratados nem se perder em curiosidades de almanaque, Tuan descreve, a partir do exame de casos, as várias situações em que o medo torna a humanidade mais humana.
Na infância, a fragilidade física transforma aquilo que poderia ser um maravilhamento diante de tantas descobertas em situações aterradoras. Parte do temor infantil decorre da própria estratégia educacional, quando o respeito (pelos mais velhos, pelos pais) é incutido a partir de doses cotidianas de ameaças. Daí em diante, o medo torna-se um fiel companheiro, até a morte, essa enigmática fonte número um dos temores.
O escuro, o desconhecido, os espíritos, as bruxas, as ameaças naturais, a violência e os cataclismas são algumas das razões mais que suficientes para que a reação comum seja o pavor. O chamado progresso social também não ajudou a minimizar o "problema". Se até a Idade Média grande parte dos temores se impunha graças a fatores hoje vistos como irracionais, com o advento das cidades na era moderna o que mudou na geração do temor foram apenas as paisagens. "A mais ambiciosa tentativa do gênero humano para criar ordem", escreve o autor, "produz ocasiões para violência e o caos".
Entretanto, o que o estudo enfatiza é que nem é preciso recorrer ao inimigo externo, pois já nascemos equipados com a principal fonte dos mais temíveis temores. Tuan demonstra que, por ser mais rápida que a própria razão, a imaginação se torna a mais importante aliada do medo. Mesmo quando não há razões para temer, inventamos alguma.


PAISAGENS DO MEDO    
Autor: Yi-fu Tuan
Tradução: Lívia de Oliveira
Editora: Unesp
Quanto: R$ 42 (376 págs.)


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