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Crítica/estudo
Geógrafo analisa diferentes formas do medo
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
"Não há nada a temer
a não ser o medo",
dizia um personagem de um belo filme alemão.
Esse sentimento humano tão
universal quanto o amor funciona como um alerta contra os
perigos, é essencial nas estratégias de sobrevivência, mas,
quando cai nas mãos do inimigo, produz efeito contrário, paralisando sua vítima e deixando-a acuada.
Mas de onde vem o medo como foi experimentado ao longo
da história e quais as formas
mais comuns de sua aparição?
Em "Paisagens do Medo", o
geógrafo Yi-fu Tuan dedica-se a
trazer à tona suas inúmeras
formas. Com o auxílio da história mas também da psicologia e
da antropologia, o professor de
origem chinesa e hoje emérito
da Universidade de Wisconsin-Madison traça um panorama
da angústia que acompanha o
homem desde as origens.
Apesar de sua edição original
não ser recente (a obra é de
1979), o advento do terror em
escala planetária no século 21
tornou suas conclusões ainda
mais válidas. Sem pretender a
profundidade dos grandes tratados nem se perder em curiosidades de almanaque, Tuan
descreve, a partir do exame de
casos, as várias situações em
que o medo torna a humanidade mais humana.
Na infância, a fragilidade física transforma aquilo que poderia ser um maravilhamento
diante de tantas descobertas
em situações aterradoras. Parte do temor infantil decorre da
própria estratégia educacional,
quando o respeito (pelos mais
velhos, pelos pais) é incutido a
partir de doses cotidianas de
ameaças. Daí em diante, o medo torna-se um fiel companheiro, até a morte, essa enigmática
fonte número um dos temores.
O escuro, o desconhecido, os
espíritos, as bruxas, as ameaças
naturais, a violência e os cataclismas são algumas das razões
mais que suficientes para que a
reação comum seja o pavor. O
chamado progresso social também não ajudou a minimizar o
"problema". Se até a Idade Média grande parte dos temores se
impunha graças a fatores hoje
vistos como irracionais, com o
advento das cidades na era moderna o que mudou na geração
do temor foram apenas as paisagens. "A mais ambiciosa tentativa do gênero humano para
criar ordem", escreve o autor,
"produz ocasiões para violência
e o caos".
Entretanto, o que o estudo
enfatiza é que nem é preciso recorrer ao inimigo externo, pois
já nascemos equipados com a
principal fonte dos mais temíveis temores. Tuan demonstra
que, por ser mais rápida que a
própria razão, a imaginação se
torna a mais importante aliada
do medo. Mesmo quando não
há razões para temer, inventamos alguma.
PAISAGENS DO MEDO
Autor: Yi-fu Tuan
Tradução: Lívia de Oliveira
Editora: Unesp
Quanto: R$ 42 (376 págs.)
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