|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
De 99, mais recente álbum do Material, banda do baixista e produtor por trás de grandes nomes do pop, chega ao Brasil
Bill Laswell cria a arte do ruído do rap
MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO
"Intonarumori" saiu há tempo
suficiente para que o site da prolífica gravadora Axiom (www.axi
om-records.com) aparecesse desatualizado no encarte do disco.
Lançado em 1999, o mais recente
álbum do Material chega agora ao
Brasil pela Trama. O homem por
trás de Material, banda de forma
livre formada em 1979, é o não
menos produtivo Bill Laswell, 46,
único membro fixo.
Produtor e baixista, o americano já trabalhou com meio mundo
do pop mundial, principalmente
como produtor. De Ramones e
Laurie Carson a O Rappa, Bootsy
Collins, Brian Eno, Yoko Ono,
Mick Jagger, Iggy Pop e, entre outros, o jazzista Herbie Hancock.
Com o último, Laswell produziu
e co-escreveu "Rockit" (1983),
uma das músicas fundamentais
do hip hop, que ganha este ano remixes de feras das pick-ups, como
Mixmaster Mike, Rob Swift e
DXT, na trilha do filme "Scratch".
Em "Intonarumori" (Arte do
Ruído), Laswell congrega rappers
e cantores para mais uma vez ir
além do convencional. Laurie
Carson (ex-Golden Palominos),
Flavor Flav (Public Enemy), Kool
Keith, Killah Priest, DXT (também conhecido como Grandmaster D.ST) e outros nomes underground do rap norte-americano
juntaram-se ao projeto.
Leia a seguir trechos da entrevista do músico dos músicos, Bill
Laswell, que começou quando
"hip hop era só uma palavra, não
existia como cultura".
Folha - Há uma frase no encarte
do disco que diz "rap ainda é uma
arte". O que significa esse "ainda"?
Bill Laswell - Isso foi escrito por
Jason Furlow, de uma banda [de
hip hop" chamada New Kingdom. E tenho certeza de que ele se
refere ao fato de o rap ter vindo de
uma cultura que no início era hip
hop, que não era guiada pelo entretenimento ou dinheiro como
hoje. O que essa frase diz é que
ainda há uma cultura, história.
Folha - No Brasil há uma característica marcante, de a maioria dos
rappers falarem da "realidade da
periferia", violência da qual são vítimas, pobreza etc. Rappers brasileiros raramente falam de outros
temas e definitivamente não são
pop como são nos EUA. Rap aqui
não é ainda gênero musical, mas
político. O que você acha disso?
Laswell - A idéia original é essa.
Foi como começou em todos os
lugares. O modo como se lida hoje
com o rap nos EUA é com milhões de dólares investidos em
grupos e artistas, cujo público são
jovens. A máquina que faz isso é
tão poderosa que as crianças não
têm chance, são manipuladas.
Mas o que você disse é a essência
do hip hop, que é unir, ter a função que a música folk tinha, de
transmitir mensagens, descrever
situações opressivas.
Folha - Você acha que hip hop é o
gênero mais adequado para testar
os limites da música?
Laswell - É a única música repetitiva, que envolve grandes audiências, que permite mudanças
sem cair em armadilhas e prisões
musicais. Talvez seja a forma mais
aberta que a música pop pode
abrigar. E hip hop tem o potencial
de expandir, experimentar, desconstruir. É difícil para as pessoas
adquirirem tempo suficiente para
experimentar, ter a sensibilidade,
-não entender, porque entender
não é a chave para conhecer algo-, mas ter tempo para ouvir
música de outras culturas, diferentes combinações sonoras etc.
Folha - E é isso que o Material deve ser, certo?
Laswell - Sim, de certa maneira.
Folha - Por que o nome do CD é
"Intonarumori", a Arte do Ruído,
nome do manifesto futurista do
compositor Luigi Russolo, de 1913,
ligado à música eletrônica?
Laswell - No início, "Intonarumori" remete a construir ruídos
para fazer arte, a gênese do hip
hop. O melhor hip hop é a construção, talvez não tão diferente do
modo dos futuristas, do cotidiano, sons de indústria, de cidades.
Folha - Você sempre esteve ligado ao hip hop...
Laswell - Nasci ouvindo r&b,
rock, quando era muito garoto, e
depois jazz. Quando eu comecei,
em 1978/79 (quando conheci
Afrika Bambaataa), hip hop era só
uma palavra, não havia discos.
Folha - Mas já havia um disco em
78, "Kurtis Blow"...
Laswell - Mas era chamado rap.
A cultura hip hop não havia se estabelecido. Kurtis Blow e Sugar
Hill eram rap de verdade, extensão do r&b. O que fez do hip hop
a cultura como é conhecida foi a
mistura com música eletrônica.
INTONARUMORI - De: Material. Com:
Laurie Carson, Killah Priest, Flavor Flav,
Kool Keith, Bill Laswell. Gravadora:
Axiom/Ryko/Trama. Quanto: R$ 25, em
média.
Texto Anterior: Vida Bandida - Voltaire de Souza: Natural Próximo Texto: Panorâmica - Teatro: Alabarse deixa direção do Porto Alegre em Cena Índice
|