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Relação entre literatura e vida aproxima autores
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois do "boom" latino-americano de García Márquez, Cortázar e Vargas Llosa, nada de novo aparecia.
Então um interessante fenômeno começou a ocorrer na
literatura contemporânea de
língua espanhola: prêmios
tradicionais como o Rómulo
Gallegos e o Herralde de Novela forneceram visibilidade
a alguns escritores de alcance apenas mediano, como o
barcelonense Enrique Vila-Matas e o chileno Roberto
Bolaño, entre outros.
Morto em 2003, Roberto
Bolaño (de quem a Companhia das Letras lança "Noturno do Chile" em setembro) teve uma vida aventurosa e soube explorá-la em
seus livros. Depois de viver
no México, Bolaño retornou
ao Chile em 1973, às vésperas
do golpe. Preso, foi solto por
um ex-colega que montava
guarda na prisão, numa piada do destino que traduz as
relações acidentais que regem a vida e a literatura.
Após a premiação de seu
romance "A Viagem Vertical" pelo Rómulo Gallegos
em 2001, Enrique Vila-Matas pôde distanciar-se da pista de decolagem, ainda que
sua obra ficcional anterior
houvesse alcançado considerável recepção crítica.
No livro, Vila-Matas narra
com terrível ironia a situação de um agente de seguros
obrigado pela esposa a sair
de casa, e deixa transparecer
sua fé no acaso como legislador máximo a reger dois planos da realidade: a literatura
e a vida.
O contraponto entre literatura e vida, além da predileção por escritores como protagonistas, talvez sejam os
principais pontos de contato
entre os autores do "boom"
hispano-americano.
Porém como fazer com
que a vida solitária de escritores renda ficção com algum atrativo e não resvale
em acrobacias herméticas
para intelectual ler? Dialogando com a longa tradição
da metaliteratura a partir de
"Dom Quixote" (e com representantes mais recentes
em Jorge Luis Borges, Osman Lins e Paul Auster), Vila-Matas e Roberto Bolaño
sobrevivem a esses riscos
sem arranhões.
Em seus livros, os protagonistas estão em movimento
perene, feito "detetives selvagens" (título da obra-prima de Bolaño premiada com
o Rómulo Gallegos em
2001), cuja sobrevivência se
resume precisamente a esse
palmilhar errático que é o
seu próprio fim.
E nunca é demais lembrar
que uma obra não sai do lugar e muito menos atinge o
status de real literatura sem
correr algum risco.
Joca Reiners Terron é escritor;
publicou "Hotel Hell" (Livros do
Mal) e "Curva de Rio Sujo" (Planeta), entre outros
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