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Francês ensina como fechar o Louvre
Sindicalista líder de greves que fizeram parar os museus nacionais de seu país fala em fórum do setor no Brasil
Arquiteto afirma que a
França está regredindo
em políticas culturais e
aponta "guerra" com o
presidente Sarkozy
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Se algum dia você chegar
ao Museu do Louvre ou ao
Pompidou, na França, e der
com o nariz na porta, é possível que você encontre, ao lado de uma faixa com um
anúncio de greve, Nicolas
Monquaut.
O sorriso levemente maroto faz com que Monquaut, 41,
guarde no semblante certo
idealismo juvenil. Mas, na
prática, ele joga duro.
Arquiteto contratado pelo
ministério da Cultura da
França, ele preside, há dez
anos, o sindicato dos trabalhadores do setor.
No final de 2009, organizou o movimento que deixou
os museus nacionais fechados por quase dois meses.
Em 1999, liderou a greve que
parou os essas instituições
por 21 dias.
No ano passado, não ganharam nada. Em 1999, conseguiram a regularização dos
funcionários que tinham
contratos informais.
"Conseguindo ou não o
que queremos, as greves são
importantes porque mobilizam o país", diz, lembrando
que só o Louvre recebe 10 milhões de pessoas por ano.
Foi para falar sobre o significado do trabalho nos museus que Monquaut veio ao
Brasil. Sua palestra no 4º Fórum Nacional de Museus, em
Brasília, era sobre "memória
e trabalho". Mas a política laçou sua fala.
É que a França vive dias tumultuados. O presidente Nicolas Sarkozy anunciou cortes nas subvenções para a
cultura e redução no quadro
do funcionalismo.
"É A GUERRA"
Há duas semanas, os presidentes dos museus do Louvre, d'Orsay e Pompidou escreveram um artigo no diário
"Le Monde" posicionando-se
contra tais decisões.
"É a guerra", diz Monquaut, de olhos arregalados.
"A França está regredindo.
Estudos mostram que cada
euro investido em museus
dá, de retorno, 20. Mas eles
não querem saber disso."
Segundo o sindicato, a cada ano aumenta o número de
frequentadores dos museus e
cai o de funcionários. Há,
além disso, corte nos orçamentos. "Algumas exposições estão sendo canceladas", conta.
"NÃO CUSTO CARO"
Monquaut entrou no Museu de Versalhes em 1985,
quando fazia faculdade de
arquitetura, para pagar os estudos. Mas eis que veio a convivência com os funcionários
e, com ela, a descoberta:
"São todos orgulhosos do
que fazem e são mais conscientes de que os museus são
um bem público do que o Estado".
Moldava-se assim a fala
que Monquaut difunde pela
França e em viagens pelo
mundo. "Sou pago pelo ministério para fazer greves", ri.
"Mas não custo caro."
A jornalista viajou a convite do 4º Fórum
Nacional de Museus
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