São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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Mônica Bergamo

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Fábio filosófico

Aos 57, o cantor Fábio Jr. lança disco com regravações, afirma que é moderninho "até a página três" e que está de férias por tempo indefinido da carreira de ator

Fotos Marisa Cauduro/Folhapress
Fábio Jr.em sua casa em Alphaville (SP)

Com um copo de uísque na mão e um cigarro na outra, o cantor Fábio Jr. revira a sala de TV de sua casa, num condomínio fechado em Alphaville, em busca dos "novos companheiros": os óculos de grau, "que eu nem sei por quê uso".

 


É uma terça à noite e ele se prepara para assistir a uma entrevista que deu a um programa de TV. Descalço, vestindo jeans e uma blusa preta de manga longa com decote em "V" e capuz, o paulistano de 57 anos revê alguns momentos de seus 35 anos de carreira -muitos deles também como ator.

 


"Nossa, eu pesava 53 quilos, olha isso!", diz aos repórteres Lígia Mesquita e Marcus Preto, ao se ver em cena no filme "Bye Bye Brasil" (1979), de Cacá Diegues. Depois, revê o trecho de um show de 2003, no antigo Olympia. Chama sua assessora de estilo, que o visitava para mostrar o figurino de seus shows. "Deu saudade daquele terno preto com uma blusa em [gola] "V"."

 


Fábio acaba de lançar seu 25º disco, "Íntimo", em que regrava sucessos de Caetano Veloso, Hyldon, Djavan, Lenine e até seu próprio: "20 e Poucos Anos". "Dá pra fazer uns dez discos desse. Mas tenho que ter intimidade com essas músicas. Fiquei anos brigando para regravar "Esquinas", obra-prima do Djavan. Mas tinha que ser agora, até pela letra, pelas coisas que venho passando. Serviu como catarse", diz. Acende um incenso e coloca ao lado do cinzeiro.

 


Essas esquinas, segundo ele, "são como a própria letra diz: "Sabe lá o que é você não ter e ter pra dar, morrer de sede em frente ao mar'". Mas, afirma, não está "morrendo de sede". "Já passou, fio [filho]. Posso filosofar horas sobre isso aqui. Mas você ver aquele marzão e falar: "Ainda não posso mergulhar nessa água, mas tudo bem". E distribuir esse mar pra todo mundo, porque eu sozinho não tem graça [risos]."

 


A divagação pode se referir a mulheres. "Mas aí eu mergulho sozinho. Prestem atenção, sou moderninho até a página três!", diz, terminando quase todas as frases com um assobio. E completa: "Em relação a mulher, eu sei que não posso mergulhar nesse marzão, mas que eu vou dar um jeito, eu vou. Tomo um sol, fico bronzeado, ofereço água de coco".

 


O cantor assinou o divórcio com a modelo Mari Alexandre (o sexto em sua vida) recentemente. Do casamento, ele ganhou mais um filho, Záion, dois anos. "Passei o dia com Zainho hoje. Volto sempre quebrado. O moleque tem uma energia!", diz ele, também pai da atriz Cleo Pires, do casamento com Gloria Pires, e de Tainá, Krizia e Filipe, o Fiuk, da união com Cristina Kartalian.

 


Os casamentos, afirma, foram para "satisfazer as vontades delas". "Eu sempre penso: amo essa mulher, por que não vou fazer isso pra ela? E eu gostei também de ter feito. Hoje, não me casaria de novo. Mas não sei o que vai acontecer amanhã." Toma outra dose de uísque com gelo. Acende mais um Marlboro. "Eu gosto de ter alguém, ter pra quem voltar. E não é aquela coisa de [voltar e ouvir] "P... que p..., vai me encher o saco porque eu disse que a gente ia viajar e não vamos mais". Quero minha fêmea aqui do lado."

 


Com a idade, Fábio conta que está aprendendo a usar tudo de uma maneira melhor. "Tem uma palavra, como é?" Pausa. "Ah, você saboreia a pessoa, inclusive sexualmente. Primeiro que naturalmente você já filma e seleciona. Mas fica mais seletivo, não é frescura."

 


E o galã, como o cartunista Ziraldo, assume que, digamos, já falhou. "Uai, todo mundo, eu acho. Já brochei de tanta ansiedade. Depois, dá um jeito. A gente brinca um bocadinho até baixar a ansiedade. E volta. E é legal curtir isso, jogar limpo e falar: "Tô nervoso mesmo"."

 


Antes da conversa com a Folha, Fábio experimenta o figurino da nova turnê de shows. No palco, aparece de terno branco e também de jeans e uma blusa mais casual. Uma maquiadora entra no escritório do cantor. "Não sou vaidoso, não me cuido nada." Plástica, diz que nunca fez. "Faria, na boa". Com cuidado. "Não quero parecer que tenho 30 anos."

 


Envelhecer não é problema. "Tô com 57 anos e quero é mais! "Vambora!" Porra, aqui tá cheio de coisa pra fazer!"

 


Fábio optou por não folhear a "Playboy" estrelada pela filha Cleo, em 2010. Nem a silhueta na capa. "Podem achar que é caretice, mas não quero ver minha filha nua. Nem com silhueta", diz. "Ela é uma mulher de 28 anos, a decisão foi dela. Ela não me consultou. Se tivesse me consultado, diria "não". Entender, eu entendo, Mas aceitar é outra coisa."

 


Cleo e Fiuk optaram por seguir a carreira de atores, a mesma que o pai abraçou durante muitos anos junto com a de músico. E da qual diz estar de férias desde 1998. "Hoje, não encaro mais aquele batidão de novela. Mas não descarto voltar um dia. Porque às vezes me falam: "Pô, em 91 você disse isso e isso. Mas faz 20 anos! É muito vertical dizer nunca mais."

 


A coluna mostra ao cantor a capa de seu primeiro disco de vinil, de 1976. "Meu Deus! Olha isso! Se tirar o cabelo em volta é igual ao Filipe [Fiuk]. Só tenho meia dúzia de pelos e tô arrepiado." No álbum, muitas das composições são de autoria de Paulo Coelho, por sugestão da gravadora. "Me falaram que iriam me apresentar um cara que estava fazendo parceria com a Rita Lee, com o Raul Seixas", diz.

 


Enquanto toma o terceiro copo de uísque, comenta a fama de "brega" que é atribuída por muitos críticos à sua obra, o que não acontece com o colega de música romântica Roberto Carlos. "Faz pouco tempo que o Roberto virou Rei de novo e unanimidade. Porque neguinho comprava o disco dele escondido. Já eu não sei. Qual a referência? Não entendo essas coisas. Até um ponto é algo bacana. Daqui pra lá, é brega. Não cabe a mim avaliar, não é minha responsabilidade. O macaquinho está no seu ombro. O que você vai fazer com o que eu estou te ofertando é problema seu."


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